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Por Redação do ge — Doha


Comentários de Jurgen Klinsmann na TV não soaram bem aos ouvidos do técnico Carlos Queiroz. À BBC, o treinador e ex-jogador alemão fez críticas ao Irã e ao seu comandante português após a vitória do time asiático sobre o País de Gales nesta sexta-feira, na segunda rodada da Copa do Mundo 2022. Klinsmann acusou a seleção iraniana de pressionar o juiz, algo que, segundo ele, faria parte da cultura do país. E que, por isso, Queiroz teria encaixado bem no comando da equipe.

- Faz parte da cultura deles, da forma como jogam. O Carlos encaixa muito bem nesta seleção nacional e na sua cultura. Não é uma coincidência. É tudo de propósito. Faz parte da cultura deles, é assim que jogam. Eles pressionam o árbitro. Basta ver o banco, a forma como saltavam em cima do assistente e do quarto árbitro. Há muita coisa que não se vê. Esta é a cultura deles, eles meio que tiram o foco. Fazem com que você perca a concentração e isso é algo importante. E aí te tiram do jogo – disse Klinsmann.

Carlos Queiroz, técnico do Irã — Foto: REUTERS/Hannah Mckay

Os comentários soaram agressivos ao Irã e a Carlos Queiroz. O técnico português usou as redes sociais para responder Klinsmann em uma longa carta. O alemão, com nacionalidade americana, é ex-treinador dos Estados Unidos, que encaram o Irã nesta terça-feira em busca de uma vaga nas oitavas de final.

- Caro Jurgen, você tomou a iniciativa de me chamar de Carlos, então acredito que seja apropriado chamá-lo de Jurgen. Certo? Mesmo não me conhecendo pessoalmente, você questiona meu caráter com um típico julgamento preconceituoso de superioridade. Não importa o quanto eu possa respeitar o que você fez dentro do campo, essas observações sobre a cultura iraniana, a seleção iraniana e meus jogadores são uma vergonha para o futebol. Ninguém pode ferir nossa integridade se não estiver no nosso nível, é claro. Mesmo assim, gostaríamos de convidá-lo a vir ao nosso acampamento da seleção nacional, conviver com os jogadores do Irã e aprender com eles sobre o país, o povo do Irã, os poetas e a arte, a álgebra, toda a tradição milenar cultura persa. E também ouvir de nossos jogadores o quanto eles amam e respeitam o futebol - disse.

Queiroz citou a ligação de Klinsmann com os Estados Unidos. E pediu a demissão do ex-jogador da posição de consultor da Fifa na Copa do Mundo do Catar.

Klinsmann foi técnico dos Estados Unidos — Foto: Reuters

- Como americano/alemão, entendemos seu não-apoio. Sem problemas. E apesar de seus comentários ultrajantes na BBC tentando minar nossos esforços, sacrifícios e habilidades, prometemos que não faremos nenhum julgamento sobre sua cultura, raízes e antecedentes e que você sempre será bem-vindo à nossa Família. Ao mesmo tempo, queremos apenas acompanhar com toda a atenção qual será a decisão da Fifa em relação à sua posição como membro do Grupo de Estudos Técnicos da Copa do Mundo Qatar 2022. Porque, obviamente, esperamos que você se demita antes de visitar nosso acampamento.

A Federação Iraniana também se posicionou. Em comunicado, também pediu a demissão de Klinsmann – confira a íntegra abaixo. Irã e Estados Unidos duelam em buscam a classificação nesta segunda-feira, às 16h, pelo grupo B da Copa do Catar. A seleção de Queiroz ocupa o segundo lugar, com três pontos, atrás da Inglaterra. Os americanos estão em terceiro, com dois pontos.

Após a resposta de Queiroz, Klinsmann voltou a se posicionar. O ex-jogador disse que foi mal interpretado.

- Nunca critiquei Carlos ou o banco iraniano. Alguns até pensaram que eu estava criticando o árbitro porque ele não fez nada sobre o comportamento deles no banco. Tudo o que descrevi foi a sua forma emocional de fazer as coisas, o que é até admirável de certa forma. Todo o banco vive o jogo. Estão a saltar para cima e para baixo, e o Carlos é um treinador muito emotivo, está sempre à margem para tentar dar aos seus jogadores toda a sua energia e direção - afirmou à BBC.

Confira a íntegra do comunicado da Federação Iraniana:

"A Federação de Futebol do Irã dirigiu-se hoje oficialmente à Fifa sobre o assunto das recentes declarações do Sr. Jurgen Klinsmann. Juntamente com várias considerações infelizes sobre a equipe e a equipe nacional do Irã, o Sr. Klinsmann fez julgamentos sobre a cultura iraniana. Klinsmann, membro do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa, disse que na partida entre Irã e País de Gales, os jogadores e a equipe do Team Melli "trabalharam o árbitro": "'Não é por coincidência, faz parte de sua cultura, como eles jogam. Eles trabalharam o árbitro", disse Klinsmann. A Federação de Futebol do Irã já pediu esclarecimentos imediatos à FIFA sobre este assunto, exigindo desculpas do Sr. Klinsman e renúncia de suas funções como membro do Grupo de Estudos Técnicos da FIFA. Ao mesmo tempo, a Seleção Nacional do Irã convida o Sr. Klinsmann para visitar o Team Melli Camp em Doha, para uma palestra sobre a milenar cultura persa e os valores do futebol e do esporte. Sendo alemão, está prometido que Klinsmann não será julgado pelo episódio mais vergonhoso da história da Copa do Mundo, a "Desgraça de Gíjon" 82, quando Alemanha Ocidental e Áustria empataram. Como ex-jogador, ele não será julgado por seus famosos mergulhos dramáticos. E com certeza, como profissional do futebol, não será julgado por nenhuma outra questão política ou histórica relacionada ao seu país. Nesta visita, será sugerido ao Sr. Klinsmann revisar os 99 minutos da última partida Irã x País de Gales, mesmo que a partida já tenha sido transmitida mundialmente, e para muitos reconhecida como uma das partidas mais justas e bonitas da história da Copa do Mundo".

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