Veja imagens da construção do novo estádio do Everton
Hora da despedida! O Goodison Park recebe, às 9h30 deste sábado, o que pode ser o último Derby de Merseyside em sua história. De mudança para uma nova casa ao final da temporada, o Everton fará o último clássico contra o Liverpool no estádio. Separados por um parque e unidos pela tragédia, os clubes se despedem de um marco da cidade. O ge acompanha o duelo em tempo real.
Quem caminha pelo Stanley Park consegue entender o que é o futebol na cidade de Liverpool. O parque, um imenso campo verde de 405 hectares, separa os dois grandes estádios da região. De um lado está o Anfield, casa dos Reds. Do outro, o Goodison Park, estádio dos Toffees.
A distância entre os estádios remete a rivalidades como Independiente x Racing, Guarani x Ponte Preta, Paysandu x Remo e, no futuro, Flamengo x Vasco. Apenas 1100 metros separam o Goodison Park de Anfield.
O Everton é 14 anos mais velho que o Liverpool. Fundado em 1878, o clube deixou o campo de Anfield em 1892, e precisava de um novo lugar para jogar. A solução foi atravessar o Stanley Park e construir o Goodison Park. Com a mudança do Everton para uma nova casa, o campo de Anfield estava vazio. Foi aí que John Houlding, dono da terra, decidiu fundar o seu próprio time, o Everton Athletic. Em março de 1892, a equipe virou Liverpool, e ocupa o estádio até hoje.
Separados por um parque, unidos pela tragédia
Em todos os outros casos citados de clubes que possuem estádios próximos, a proximidade vira um fator que ajuda ainda mais na rivalidade. No caso de Everton e Liverpool, a tragédia fala mais alto e une os adversários.
No dia 15 de abril de 1989, a semifinal da FA Cup entre Liverpool e Nottingham Forest, no Estádio Hillsborough, em Sheffield, foi palco do maior desastre do futebol inglês. 95 torcedores do Liverpool morreram pisoteados, enquanto 766 ficaram feridos. Uma vítima morreu no ano seguinte, enquanto outra faleceu em 2021.
Os estádios da Inglaterra tinham grades que separavam a arquibancada do gramado, algo que serviu ainda mais para prensar os torcedores. O setor Leppings Lane Terrace, uma espécie de “geral” na qual era possível assistir aos jogos em pé, recebeu 10 mil torcedores naquele jogo. Sete catracas controlariam o acesso, mas só uma estava funcionando propriamente. A aglomeração do lado de fora foi formada, e a solução foi abrir um dos portões de saída.
Com superlotação, a polícia conteve quem saltava a grade para se salvar, acreditando que estavam invadindo o campo. Muitos pularam e ficaram feridos, mas outros caíram e deixaram a vida naquela arquibancada.
A tragédia bateu forte não apenas em torcedores do Liverpool, mas na cidade toda. Em uma indignação geral contra a autoridade e a imprensa inglesa, que trataram os torcedores como culpados, Everton e Liverpool uniram-se pela memória das vítimas.
O jornal The Sun publicou uma matéria afirmando que torcedores urinaram sobre os policiais e que as equipes de salvamento teriam sido agredidas durante o trabalho. Até hoje, 35 anos depois da tragédia e com pedido de desculpas em uma capa, o jornal sofre boicote da população e pouco veicula em Liverpool.
Anualmente, o Goodison Park fica em silêncio e não tem problema algum em usar as cores vermelhas para homenagear as vítimas de Liverpool. O vestiário do Everton, inclusive, conta com uniformes de todos os 20 clubes da Premier League, mas o do rival é o único virado de costas, o que não é uma provocação. O intuito do Everton é mostrar o patch que homenageia as vítimas do desastre.
De casa nova
O jogo 120 de Everton x Liverpool no Goodison Park tem tudo para ser o último derby no local. As equipes podem disputar mais uma partida no estádio caso sejam sorteadas na FA Cup.
A mudança do Everton para o chamado Everton Stadium, localizado nas docas de Bramley-Moore, a 3,5km do Goodison Park. O orçamento total da obra foi de 566 milhões de libras — cerca de R$ 3,3 bilhões. A capacidade será para 52.888 pessoas.
Já é certo que Everton e Goodison Park se despedem ao final da temporada 2024/25. A casa dos Blues de Liverpool seguirá o mesmo modelo do Highsbury, antigo estádio do Arsenal. Em fevereiro de 2021, o Conselho Municipal de Liverpool votou a favor do plano de 82 milhões de libras do Everton para transformar o estádio em um esquema de uso misto com 173 casas e 51 mil m² de escritórios.
O clube deseja aumentar as receitas futuras com mais renda de bilheteria e serviços extras, além de observar mais oportunidades de parcerias comerciais com o novo estádio.
A intenção é de não realizar apenas seus jogos de futebol, mas abrir a possibilidade de sediar outros eventos esportivos e ter shows de música e conferências organizadas no local, como é de costume nas arenas atuais.
O Everton estima um impulso de 1,3 bilhão de libras para a economia local e a geração de 15 mil empregos com a obra do novo estádio.
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