Opinião: Rodri não foi sequer o melhor da Espanha na Euro para almejar a Bola de Ouro

Um mês depois, em janeiro de 2023, a Fifa entregou a Lionel Messi o prêmio The Best, fazendo jus ao papel do argentino na conquista histórica da Copa do Mundo do Catar. Nada a corrigir. Não era o momento de Vini Jr. almejar os troféus individuais. Estar entre os dez melhores já seria um bom cartão de visitas. Mas... o brasileiro terminou em 11º lugar.

Espanto na torcida brasileira e em quem acompanhou a temporada europeia. Vinícius Júnior fora do top-10 não encontrava explicação razoável. Assim como a oitava colocação na Bola de Ouro, três meses antes. A não ser que houvesse outras razões para ignorar o que ele tinha feito em campo em 2022.

Vinícius Júnior seguiu evoluindo no Real Madrid. Mesmo em uma temporada menos vencedora da sua equipe, ele pulou para o sexto lugar na Bola de Ouro 2023 e teve sua luta contra o racismo reconhecida como primeiro vencedor do Prêmio Sócrates, para atletas que trabalham em prol dos direitos humanos.

Temporada de clubes ou Euro e Copa América, o que valeu mais?

Agora, vamos falar de 2024. Enfim protagonista absoluto do Real Madrid, Vinícius Júnior teve sua temporada mais goleadora: 24 gols em 39 jogos. O último deles fechou a vitória por 2 a 0 sobre o Borussia Dortmund na final da Champions League.

Na festa do título, a torcida do Real gritou a plenos pulmões: Vinícius Bola de Ouro. A temporada não tinha acabado, porque ainda havia a Eurocopa e a Copa América. Jude Bellingham, Harry Kane e Kylian Mbappé foram tratados pela imprensa europeia como os principais concorrentes do brasileiro, caso se destacassem na Euro disputada na Alemanha.

Como vimos, nenhum dos três brilhou na Euro, e tampouco Vinícius Júnior fez uma boa Copa América. Jogo empatado, tudo indicava que o camisa 7 do Real seguiria como favorito aos prêmios individuais da temporada.

Até a Uefa anunciar, logo após a Espanha conquistar a Euro, o volante Rodri como o melhor da competição. O jogador do Manchester City, ainda que seja um craque incontestável, não terminou a temporada de clubes com tanto destaque. Não foi, por exemplo, o melhor jogador da Premier League, prêmio dado ao seu colega de City, o inglês Phil Foden. E na Euro, convenhamos, em nenhum momento Rodri foi apontado como um destaque absoluto ao longo da campanha.

Só na seleção espanhola, havia pelo menos quatro jogadores com, no mínimo, o mesmo protagonismo: Lamine Yamal, Nico Williams, Dani Olmo e Fabian Ruiz.

Mas bastou Rodri ser surpreendentemente escolhido como o craque da Euro para surgirem os rumores de que estava ali um potencial candidato à Bola de Ouro da France Football e, por consequência, ao Fifa The Best.

Nenhum dos outros espanhóis citados como protagonistas tem uma carreira tão longa ou consistente para almejar, agora, uma premiação de âmbito mundial, mesmo se tivessem sido chancelados com o troféu de craque da Euro. Rodri, no auge dos seus 28 anos, vitorioso no clube e na seleção, possui o perfil ideal para fazer frente a Vinícius Júnior.

Na volta dos campeões para casa, jogadores da Espanha engrossaram o lobby por Rodri, puxando o coro pela Bola de Ouro, seguidos por milhares de torcedores em Madri. Muitos deles provavelmente entoaram o mesmo cântico para Vinícius Júnior em maio.

O lobby europeu está feito. Rodri foi escolhido a dedo como craque da Euro, e logo saberemos o peso dessa premiação na festa da Bola de Ouro, no dia 28 de outubro. Ignorado em 2022 e afagado em 2023 com um prêmio merecido por sua luta contra o racismo, mas sem relação com o futebol jogado em campo, Vinícius Júnior corre o risco de ser, sem nenhuma justificativa razoável, novamente relegado a um papel de coadjuvante que não lhe cabe mais.