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Por Adriano Leonardi

Médico do esporte e ortopedista especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Membro da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva

São Paulo


O médico ortopedista Adriano Leonardi explica a entorse e lesão de ligamento de tornozelo

O médico ortopedista Adriano Leonardi explica a entorse e lesão de ligamento de tornozelo

A síndrome compartimental crônica (SCC) é uma condição musculoesquelética relativamente comum entre corredores de rua, especialmente aqueles que participam de treinos intensos ou competem regularmente. Trata-se de uma elevação patológica e recorrente da pressão em compartimentos musculares durante a atividade física, que resulta em dor e limitação funcional.

Corredores em prova de rua — Foto: iStock

O que é síndrome compartimental crônica

A SCC ocorre quando o aumento do volume muscular durante o exercício, devido à elevação do fluxo sanguíneo, é incapaz de ser acomodado pela fáscia que envolve o compartimento muscular. A pressão elevada comprime vasos e nervos, comprometendo a perfusão sanguínea e causando isquemia transitória e dor. Em corredores, o compartimento anterior da perna é o mais frequentemente afetado, seguido pelo compartimento lateral.

Os fatores de risco incluem biomecânica inadequada, aumento súbito na intensidade ou na frequência do treinamento, e predisposições anatômicas, como fáscias mais rígidas ou compartimentos musculares menores.

Esses elementos predispõem os corredores a sintomas que surgem tipicamente durante a corrida e desaparecem após o repouso.

Sintomas e diagnóstico

Os principais sintomas incluem dor localizada, sensação de pressão, fraqueza muscular e, em casos mais graves, parestesia ou déficit motor. A dor tende a surgir de forma previsível, geralmente após um tempo ou distância específica de corrida.

O diagnóstico de SCC é clínico, mas o exame físico pode ser complementado pela medição da pressão intracompartimental. Este teste, realizado antes, durante e após o exercício, é considerado o padrão-ouro. Segundo Pedowitz et al. (1990), a pressão basal acima de 15 mmHg, pressão pós-exercício acima de 30 mmHg ou uma pressão mantida acima de 20 mmHg por mais de cinco minutos após o exercício confirmam o diagnóstico.

Tratamento sem cirurgia é possível?

O manejo inicial geralmente é conservador, envolvendo modificação da atividade, fisioterapia, correção biomecânica e o uso de orteses ou palmilhas.

Técnicas como alongamento, fortalecimento muscular e massagem miofascial podem aliviar os sintomas.

Contudo, a taxa de sucesso dessas abordagens é limitada, e muitos pacientes acabam recorrendo ao tratamento cirúrgico.

Tratamento cirúrgico

A fasciotomia, um procedimento que envolve a liberação da fáscia para reduzir a pressão no compartimento, é a principal intervenção cirúrgica para SCC. O objetivo é aumentar o espaço disponível para o músculo se expandir durante o exercício, aliviando os sintomas.

Indicações

A cirurgia é indicada para pacientes com sintomas refratários ao tratamento conservador por pelo menos três a seis meses, com diagnóstico confirmado por medições de pressão ou apresentação clínica típica.

Técnica cirúrgica

A fasciotomia pode ser realizada de forma aberta ou minimamente invasiva. Na técnica aberta, uma incisão longitudinal permite a visualização direta do compartimento afetado, garantindo uma liberação completa. Já na abordagem minimamente invasiva, pequenas incisões são feitas para introdução de instrumentos específicos, reduzindo o trauma cirúrgico e o tempo de recuperação.

Complicações e recuperação

As complicações incluem hematomas, infecções, cicatrizes dolorosas e, em casos raros, síndrome compartimental aguda devido a sangramento excessivo no período pós-operatório. O tempo de recuperação varia, mas muitos atletas retornam à atividade em 6 a 12 semanas.

Prognóstico e impacto no retorno ao esporte

O prognóstico após a fasciotomia é geralmente bom, com a maioria dos corredores relatando alívio dos sintomas e retomada de suas atividades. Entretanto, fatores como tempo prolongado até o diagnóstico e comprometimento severo podem influenciar negativamente os resultados.

Um aspecto importante no retorno ao esporte é a reavaliação biomecânica e a adoção de um treinamento progressivo para evitar recidivas. Estratégias preventivas incluem a manutenção de um volume de treino adequado, fortalecimento muscular e o uso de calçados apropriados.

Conclusão

A síndrome compartimental crônica é uma condição debilitante que pode comprometer significativamente a qualidade de vida e o desempenho de corredores de rua. O diagnóstico precoce e o manejo adequado são fundamentais para prevenir complicações e garantir a recuperação funcional.

Embora o tratamento conservador seja a primeira linha de abordagem, a fasciotomia oferece uma solução eficaz para casos refratários, permitindo que os atletas retornem às suas atividades com segurança.

Referências:

  • https://adrianoleonardi.com.br/artigos/sindrome-compartimental
  • Pedowitz, R. A., et al. (1990). "Modified criteria for the objective diagnosis of chronic compartment syndrome of the leg." The American Journal of Sports Medicine, 18(1), 35-40.
  • Amendola, A., Rorabeck, C. H., & Kennedy, J. A. (2003). "Chronic exertional compartment syndrome: Diagnosis and treatment." Sports Medicine and Arthroscopy Review, 11(4), 195-199.
  • Howard, J. L., Mohtadi, N. G., & Wiley, J. P. (2000). "Chronic exertional compartment syndrome in athletes: a review of current diagnostic techniques and treatment options." Physician and Sportsmedicine, 28(5), 49-58.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / EU Atleta.

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