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Por Guilherme Renke

Médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Médico do Esporte Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte

Rio de Janeiro


Os jornais russos RBC e Kommersant noticiaram, na tarde de 09 de fevereiro, que a estrela adolescente da patinação Kamila Valieva, de apenas 15 anos, teria sido pega no exame antidoping com a substância trimetazidina, o que foi confirmado pelo comitê organizador das Olimpíadas de Inverno Pequim 2022. Mas o que é a trimetazidina?

Kamila Valieva após se tornar a primeira mulher a dar saltos quádruplos na patinação: atleta de 15 anos está sob suspeita de doping por trimetazidina — Foto: Catherine Ivill/Getty Images

Devido à grande variedade de substâncias estimulantes e de esteroides anabolizantes androgênicos, os mais populares no doping esportivo, e também em função da introdução de novas drogas sintéticas no mercado, a Agência Mundial Antidoping (WADA) atualiza anualmente a lista de substâncias e métodos proibidos no esporte. Em janeiro de 2014, um novo agente de doping, a trimetazidina (TMZ), foi adicionado à Lista Proibida da WADA.

O que é a trimetazidina e por que é doping?

A TMZ é classificada no Grupo de Estimulantes Especificados S6b. Ela é usada na medicina como um medicamento para os pacientes com doenças cardiovasculares, especialmente angina, com atividade bioquímica e clínica confirmada. Mas pode ser utilizada também por atletas para melhorar a eficiência física, principalmente no caso de esportes de resistência.

A trimetazidina (TMZ) [1-(2.3.4-trimetoxibenzil)-piperazina] pode ser classificada como uma substância estimulante especificada. A TMZ é um fármaco antianginoso eficaz e bem tolerado que tem propriedades protetoras contra lesão cardíaca induzida por isquemia (falta de oxigênio que ocorre em pacientes com doença coronariana). Leva ao processo de restauração do acoplamento entre a glicólise e oxidação de carboidratos e resulta na maior produção de trifosfato de adenosina (ATP) e menor consumo de oxigênio.

A meia vida sérica da TMZ é estimada em cerca de 7 horas no caso de jovens e 12 horas no caso de pessoas com mais de 65 anos. Após a administração oral, a concentração sérica máxima ocorre após aproximadamente 5h após a ingestão de uma dose. No doping ela é identificada no teste devido a excreção de seus metabólitos por via urinária.

Historicamente, seu uso como doping não é comum na patinação, ela é mais comum entre ciclistas, triatletas e no atletismo. No entanto, existem possíveis efeitos colaterais da TMZ para os atletas especialmente pelo uso de doses elevadas. Os sintomas mais comuns são os gastrointestinais (diarreia e náusea), exaustão e fraqueza. Além disso, a TMZ pode causar tremores musculares e aumento da tensão muscular.

A cardiologista Dra. Aline Azevedo destaca: “a Trimetazidina deve ser usada apenas na terapia farmacológica como na profilaxia e na terapia de doenças cardiovasculares, nas cardiopatias isquêmicas, na angina estável ou síndromes coronarianas agudas. Já seu uso em altas doses pode trazer riscos, especialmente aos atletas”. O uso de novas substâncias estimulantes no esporte é cada vez mais comum e deve ser desencorajado devido aos riscos para a saúde.

Referências:

  1. Jarek et al. The prevalence of trimetazidine use in athletes in Poland: excretion study after oral drug administration. Drug Test. Analysis 2014, 6, 1191–1196
  2. U.S. National Library of Medicine. Chemical and Drugs Category. Avail- able at: National Library of Medicine. [30 February 2014].

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / Eu Atleta.

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