Oitavo lugar na final olímpica do Skate Park, em Tóquio, o skatista brasileiro Pedro Quintas declarou depois da última volta de sua bateria: “fiz o meu melhor nesses últimos dias. Para essa última sentei, foquei, fiz minha meditação e falei ‘é agora ou é agora’”. Essa não é a primeira vez, entretanto, que a meditação é relacionada ao bom desempenho na atividade física. Existe um número crescente de estudos científicos sobre os efeitos benéficos dela sobre a saúde como um todo. Mas que benefícios são esses? O que acontece com o corpo quando a gente começa a meditar, depois de um dia, um mês e um ano?
O médico do esporte Fábio Peralta ressalta que a prática tem sido relacionada com melhora de quadros de depressão, ansiedade, e mesmo de dores físicas. Ainda há muito o que evoluir nas pesquisas para se conhecer os mecanismos envolvidos nessas mudanças, mas elas são uma realidade.
– A meditação melhora o padrão de sono, aumenta o poder de concentração e de relaxamento. Por tudo isso, é uma técnica muito utilizada por atletas, principalmente os de alto rendimento. O componente mental faz muita diferença quando o nível físico e técnico é muito alto, e os competidores se preparam para isso – explica.
Benefícios:
- Aumenta foco e concentração;
- Potencializa atenção e memória;
- Melhora do estresse;
- Propicia maior controle da pressão arterial e da frequência cardíaca;
- Auxilia no tratamento de doenças como:
- Síndrome do intestino irritável;
- Insônia;
- Declínio cognitivo leve;
- Síndrome de estresse pós-traumático.
As mudanças no organismo
Do ponto de vista amplo, a meditação refere-se a um conjunto de práticas de treinamento mental estruturada com finalidades variadas. Existem várias formas descritas, desde métodos derivados de práticas religiosas até exercícios com finalidades terapêuticas. Para a medicina ocidental, a meditação é considerada uma técnica complementar para o tratamento de determinadas doenças e pode ser indicada para promover a melhora da qualidade de vida e aumento de desempenho em atividades intelectuais e desportivas.
De forma sistemática, o neurocientista Fabrício Borba destaca uma evolução da pessoa que pratica meditação em curto e longo prazo, inclusive de atletas:
Mudanças após 1 dia:
Mudanças após 1 mês:
Já é possível notar uma redução no esforço cardíaco e na flutuação da frequência cardíaca de forma persistente, mesmo fora do momento de meditação. Possivelmente efeitos mais duradouros já são apreciáveis a partir desse ponto e tendem a melhorar no longo prazo.
Mudanças após 1 ano ou mais:
Estudos mostraram que, no longo prazo, pessoas que praticam regularmente tinham menor frequência cardíaca basal, menor pressão arterial, colesterol mais controlado e menos ansiedade e depressão. Alguns estudos mostraram que a estrutura cerebral de pessoas que meditam regularmente pode ser diferente de pessoas que não o fazem, especialmente em regiões denominadas córtex pré-frontal e regiões relacionadas à consciência corporal.
– Em conclusão, se você é interessado ou praticante de meditação, acredita-se que são práticas saudáveis e que podem trazer benefícios para sua saúde e prática desportiva, sempre em conjunto com hábitos de vida saudáveis e sem deixar de seguir os tratamentos padronizados para os problemas de saúde descritos. Consulte o seu médico para determinar esses tratamentos, se necessário – recomenda Borba.
Meditação por atletas
Além de Pedro Quintas, outros atletas brasileiros, como a três vezes medalhista de bronze (2012/2016/2020) Mayra Aguiar, do judô, o medalhista de ouro na Rio 2016 Bruninho, do vôlei, Marcus D'Almeida, do tiro com arco, e Carol Gattaz, medalha de prata do vôlei na Tóquio 2020, já declararam praticar a meditação para manter o alto nível esportivo nas competições.
A pesquisadora do Hospital Albert Einstein, Elisa Kozasa, lembra que cada modalidade tem sua particularidade, mas há estudos que indicam controle de sintomas de estresse e ansiedade.
– Dentro de um trabalho mais aprofundado com atletas, (a meditação) pode ajudá-los a compreender que a vida esportiva é apenas uma das facetas de suas vidas e que é importante cuidar dos vários aspectos, como questões familiares e sociais – acrescenta.
Segundo a especialista, os efeitos de uma sessão de meditação podem levar a uma melhora do bem-estar, como foi verificado em um dos estudos da pesquisadora pelo Albert Einstein, que avaliou pessoas que utilizaram um aplicativo de meditação. A avaliação científica mostra que oito semanas de práticas regulares voltadas para o relaxamento, a respiração, a atenção e a meditação são suficientes para observar os benefícios da prática.
– Na literatura científica sobre os efeitos da meditação no cérebro, vemos estudos indicando mudanças na atividade cerebral, em especial em áreas de atenção, em algumas poucas semanas. Em 8 anos, há estudos indicando diferenças entre pessoas que meditam com regularidade e não meditam, na espessura do córtex cerebral em áreas relacionadas à atenção, memória e processamento sensorial – destaca.
Fontes:
Fabrício Borba é médico neurologista e neurofisiologista clínico pela Unicamp. Doutorado em andamento em neurociências (UNICAMP). Professor de neurologia da faculdade de medicina da UNIMAX – Indaiatuba. Médico associado e pesquisador dos ambulatórios de doenças neuromusculares e neurogenética da Unicamp. Médico neurologista e eletromiografista dos AME de Campinas, Mogi Guaçu e serviços particulares. Membro da Academia Brasileira de Neurologia, Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica e Academia Americana de Neurologia. www.drfabricioborba.com.br
Fabio Peralta Mathias é médico especialista em Medicina do Exercício e do Esporte. Atual Diretor Científico da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro (SMEERJ). Sócio-fundador da Care - Medicina & Reabilitação e Membro do corpo clínico da G2 Health Medicina Integrada.
Elisa Kozasa é pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein e professora titular do Programa Acadêmico em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. Bióloga, é especialista em psicobiologia e faz pesquisas na linha de neurociências.
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