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Por Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales


Dores e fadiga não deixam pessoas gripadas animadas para a prática de atividades, que devem ser retomadas somente após uma semana sem febre — Foto: Unsplash

O inverno só termina no final de setembro. Até lá, os riscos de infecções virais do sistema respiratório, como a influenza, popularmente chamada de gripe, e resfriados, são aumentados. Afinal, fatores como a permanência em locais fechados e pouco arejados contribuem para a transmissão dos vírus que causam esses problemas. De acordo com dados do Ministério da Saúde, até 1º de junho, antes ainda do início do inverno, foram registrados 1.560 casos de influenza em todo o país, com 281 mortes.

Quando se pratica atividades físicas regularmente é preciso saber quando é a hora de dar uma pausa nos exercícios e reconhecer aqueles que podem agravar o quadro de pessoas com gripes e resfriados. A médica infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Nancy Bellei, comenta que, quando não há complicações, o período sintomático de resfriados tende a variar entre três e cinco dias, impactando menos na rotina de atividades.

No caso de gripes, é diferente. É comum que o paciente apresente febre e, como faz uso de medicação sob orientação médica, esse quadro fica controlado. Mas não se pode se deixar enganar e retomar a prática de atividades físicas logo após a temperatura corporal diminuir, o que leva de dois a três dias. Isso porque pode ter ocorrido apenas um declínio desse valor, havendo ainda presença de um quadro febril. Por esses motivos, a infectologista afirma que a realização de exercícios deve ser interrompida por pelo menos uma semana após a última febre.

– A febre demanda uma quantidade maior de oxigênio e a atividade extenuante também. A pessoa com febre e que pratica exercícios ainda pode se desidratar e ter complicações. Em geral, é preciso suspender os exercícios durante uma semana, quando há um quadro febril – observa, acrescentando que alguns pacientes com gripe podem ter ainda taquicardias, reforçando a recomendação de não praticar atividades físicas durante o período dessa infecção.

Há até mesmo a possibilidade de o vírus se instalar no miocárdio, o músculo que envolve o coração, causando um quadro de miocardite. Segundo o cardiologista Nabil Ghorayeb, colunista do EU Atleta, viroses exigem repouso, o que atletas raramente fazem. E excesso de treinos pode causar uma baixa na imunidade. Com isso, abre-se uma porta para que viroses evoluam para miocardites. Afinal, em cerca de 7% a 13% das pessoas infectadas, o vírus pode se instalar nas células do miocárdio, e isso é facilitado pela baixa imunidade. Um caso recente foi o do atacante Biro Biro, do Botafogo.

Mais do que os cuidados individuais, é importante ter em mente que aguardar estar totalmente restabelecido da gripe para voltar à prática de atividades é uma questão de saúde coletiva. Afinal, ao frequentar ambientes como academias ou praticar esportes em que há contato com outras pessoas, há chances de contribuir para a transmissão a doença. Segundo Nancy Bellei, ao forçar um retorno precoce aos exercícios físicos, a pessoa pode seguir espalhando o vírus, mesmo que já não apresente sintomas.

– O paciente continua a transmitir o vírus por uma semana e vai acabar passando para outras pessoas, porque vai colocar a mão na esteira, por exemplo, e outros terão contato. Além disso, há um aumento da frequência respiratória, o que faz com que se exale mais vírus – explica a infectologista.

Caminhadas são uma das melhores atividades para voltar à ativa após gripes e resfriados — Foto: Pexels

Médica imunologista e coordenadora do Departamento Científico de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Ana Karolina B. Berselli Marinho destaca outros fatores que contribuem para propagação de vírus de gripes e resfriados no inverno. Dadas as condições climáticas, há uma diminuição da imunidade das vias aéreas, que ficam mais desprotegidas durante a estação.

– Além de uma maior aglomeração de pessoas em ambientes de disseminação de agentes infecciosos, no frio, há um aumento da poluição, principalmente em climas secos. Com isso, há uma piora de quadros alérgicos e um aumento nos riscos de infecções, especialmente entre pessoas que já têm problemas respiratórios e alergias. A vacina contra a Influenza é muito importante nesse contexto – avalia Ana Karolina.

Mas se você está se perguntando sobre como se prevenir e retornar à rotina de exercícios físicos após gripes e resfriados, há cuidados específicos para quem se restabelece dessas infecções.

Gripe

De acordo com informações do Ministério da Saúde, em casos de influenza, os sintomas mais comuns são:

  • Febre, em geral acima de 38°C;
  • Dores musculares no corpo (mialgias);
  • Cefaleia, mais conhecida como dor de cabeça;
  • Dor de garganta;
  • Prostração;
  • Calafrios;
  • Mal-estar;
  • Secreção nasal;
  • Tosse seca.

Diante desse quadro, a infectologista Nancy comenta que dificilmente a pessoa com influenza ficará animada para a prática de exercícios físicos. Problemas como febre, mialgias e cefaleia limitam os indivíduos de seguirem com a sua rotina normal, incluindo atividades físicas. De qualquer forma, a médica reforça que é importante respeitar o prazo de uma semana sem febre para retomar essa prática. E não se pode apressar esse processo e querer voltar ao ritmo e ao condicionamento anteriores à gripe em dois tempos. Como a doença causa um comprometimento sistêmico, é necessário retornar com calma e de acordo com a disposição.

– A dinâmica dos tecidos pulmonares e musculares fica afetada pela influenza. Em casos de gripe, pode haver fadiga e expectoração por até três semanas depois da febre. Portanto, se a pessoa parou as atividades por uma semana, não tem que voltar no mesmo ritmo anterior à gripe. É preciso respeitar o corpo. Tem que voltar aos poucos e com bom senso. Não adianta querer recuperar o tempo que perdeu logo no primeiro dia – alerta.

Para quem corre, é preciso reduzir tempo e velocidade ao retomar a rotina de treinos — Foto: Pexels

De acordo com Nancy, todas as atividades físicas podem oferecer um risco de piora do quadro do paciente que se recupera da gripe. Para retornar a essa rotina sem aumentar as chances de complicações, a médica dá algumas dicas:

  • Escolha atividades que não ofereçam alto impacto aeróbico. Caminhadas são uma das melhores opções para esse retorno. Comece com 10 minutos em um dia, sem aumentar elevação. No dia seguinte, aumente para 20 minutos, andando 5 minutos em uma velocidade tranquila e parando. É possível ainda realizar atividades moderadas com bicicleta e dança, além de exercícios de Reeducação Postural Global (RPG);
  • Evite atividades na água, como natação, que podem aumentar as chances de complicações, como um quadro de sinusite, por exemplo;
  • Faça uma atividade mais moderada, se você gosta de corridas. Corra 20 minutos e em uma velocidade bem menor do que aquela para a qual estava condicionado antes da gripe. Volte aos poucos ao seu ritmo anterior;
  • Tenha cuidado com a prática de musculação, que só pode ser realizada se não houver mais dor no corpo e na cabeça ou cansaço. Se a pessoa apresentar esses sinais, pode acabar tendo complicações. Ao tentar vencer a fadiga muscular decorrente da gripe, há o risco de forçar os tecidos e provocar uma tendinite. Além disso, em um primeiro momento só utilize cargas menores do que as usadas antes da doença.

Mas é preciso ter atenção. Essas recomendações são válidas para pessoas jovens e adultas que não tenham comorbidades. Quando os pacientes apresentam outros problemas de saúde anteriores à gripe, a infectologista diz que é preciso adotar cuidados mais específicos.

– Pessoas a partir dos 50 anos ou que tenham comorbidades, como diabetes, doenças cardiovasculares ou qualquer outro problema crônico e apresentem uma síndrome gripal devem conversar com o médico que acompanha o seu caso. Nessas situações, devem ser avaliadas, tratadas adequadamente e fazer o retorno. É o médico que vai avaliar e orientar a pessoa quando puder voltar a fazer exercícios – completa Nancy.

Complicações possíveis em gripes:

  • Pneumonia bacteriana ou viral;
  • Sinusite;
  • Otite;
  • Desidratação;
  • Piora de doenças crônicas como insuficiência cardíaca, asma ou diabetes.

Evite atividades em que haja contato com outras pessoas para evitar propagar vírus mesmo após uma semana sem sintomas de gripe — Foto: Pixabay

Resfriados

Como em resfriados comuns o período sintomático, marcado por coriza e tosse, é mais curto, as pessoas não suspendem as atividades físicas por tanto tempo. Mas é preciso ter atenção a agravamentos do caso e presença de febre. Nancy destaca que o resfriado pode evoluir para processos inflamatórios mais complexos, como sinusite, traqueíte e otite, cujos sintomas podem persistir por um período entre dez e 15 dias, em média.

– Dependendo faixa etária e da condição do local com a inflamação, talvez o paciente não consiga dar conta de fazer a atividade. Todo o quadro precisa ser avaliado pelo médico e, dependendo do caso, as atividades precisam ser suspensas – afirma a infectologista.

Por isso, não dá para subestimar os resfriados, ainda que, no geral, sejam mais simples do que as gripes. Ao retornar à prática de exercícios após essas infecções, a médica infectologista recomenda optar também por atividades que não ofereçam alto impacto aeróbico, como as caminhadas, e evitar aquelas realizadas na água, a exemplo da natação, para evitar complicações.

– Atividades ao ar livre podem não oferecer problemas, mas é claro que isso vai depender do corpo. A gente vê pessoas que moram em países muito frios e com neve fazerem atividades nessas condições porque têm condicionamento para aquelas temperaturas. O nosso corpo, em geral, não está habituado para mudanças bruscas de temperatura. Em casos de resfriados, isso pode ser um problema. Como há formação de muco, a pessoa pode não expelir as bactérias e ter complicações – ilustra.

Uma das formas mais eficazes para a prevenção da gripe é a vacinação anual — Foto: Divulgação Unimed SJC

Vacinação até setembro

Ainda que a Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza já tenha terminado, a médica imunologista Ana Karolina reforça a necessidade de se imunizar para prevenir a ocorrência de gripes. Enquanto durarem os estoques, a vacina pode ser encontrada em postos de saúde e em clínicas privadas. A desse ano inclui dois agentes da influenza A (os vírus H1N1 e H3N2), além de um da influenza tipo B.

– Quem não foi imunizado pode tomar ainda. Depois de 15 dias, a vacina começa a proteger e a pessoa vai ter os anticorpos contra a gripe. Como ainda estamos no fim de julho, vale a pena tomar. Assim, até o final de setembro a pessoa estará protegida dos vírus em circulação – recomenda.

Não se engane com a ideia de que a vacina da gripe é voltada apenas para pessoas do grupo de risco, como gestantes, crianças de seis meses a 6 anos, idosos, professores, profissionais de saúde e portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais. A imunologista lembra que qualquer indivíduo pode estar sujeito à influenza e por isso deve se imunizar.

– Os casos de influenza A, que é a nossa grande preocupação, também podem acontecer adultos jovens e saudáveis – enfatiza Ana Karolina.

A médica comenta que a vacina contra influenza tem proteção anual. Os vírus da gripe sofrem mutações e, a cada ano, as vacinas passam por mudanças para enfrentar aqueles que estarão em circulação. Por isso, todo ano, logo após o início do outono, no final de março, a pessoa deve se imunizar para estar protegida durante o inverno.

– Quanto mais precoce, melhor, pois se garante a proteção durante todo o período de circulação dos vírus – completa.

Atividades moderadas ajudam a melhorar condições físicas e fortalecer sistema imunológico — Foto: Pixabay

Benefícios da atividade física moderada e regular

Segundo a médica Nancy, estudos demonstram que exercícios físicos podem melhorar as condições cardiovasculares e também aumentar a imunidade em algumas pessoas. Com isso, é possível diminuir as chances de ter resfriados durante o ano. Porém, isso vale para quem pratica atividades moderadas e regulares. Atletas profissionais e pessoas que fazem exercícios mais intensos, como corridas diárias em alta velocidade e por cerca de uma hora, podem experimentar quedas de imunidade e lesões.

– A Organização Mundial de Saúde recomenda 150 minutos de atividades moderadas por semana, o que dá cinco períodos de meia hora, para melhora cardiovascular e de imunidade. Pode ser uma caminhada ou corridas leves – comenta a infectologista.

A médica imunologista Ana Karolina alerta para a prática de exercícios extenuantes e exagerados por quem não tem condicionamento físico para tanto. Apenas atividades regulares e moderadas vão contribuir para que esses indivíduos tenham uma melhora do sistema imunológico e de suas condições físicas.

– A prática extenuante pode exigir muito do organismo e consumir um alto gasto energia, demandando muito das células e dos músculos e comprometendo o sistema imunológico. Em quem não tem condicionamento, isso acaba tendo impacto negativo. Tudo precisa ser dosado na medida certa – diz.

Embora a prática de atividades físicas não seja capaz de prevenir gripes, os exercícios ajudam a melhorar as condições gerais das pessoas e podem até reduzir chances de complicações por essas infecções. Isso vale tanto para quem é saudável quanto para quem apresenta doenças crônicas. A médica infectologista lembra que diabéticos e pessoas com problemas cardiovasculares que fazem exercício regularmente têm esses males mais controlados.

– Em uma situação estresse infeccioso, essas pessoas estarão melhores do que quem não faz nenhuma atividade. Vão ter uma condição melhor para enfrentar o vírus, mas ser ativos não vai prevenir a gripe – completa Nancy.

Lave as mãos regularmente para reduzir as chances de contrair ou disseminar vírus de gripes e resfriados — Foto: Pixabay

Outros cuidados

De acordo com Ana Karolina, algumas medidas que ajudam indivíduos saudáveis terem uma melhor imunidade. São elas:

  • Vacinação anual contra a gripe;
  • Manutenção de todo o calendário de vacinação em dia;
  • Realização de exercícios moderados regularmente;
  • Alimentação saudável e rica em nutrientes, especialmente vitamina C;
  • Sono adequado.

A médica infectologista Nancy também reforça a necessidade de imunização para evitar gripes. Ela acrescenta ainda que, uma vez que a pessoa contrai o vírus, não há como encurtar o período de recuperação. Exercícios, consumo de chás e uso de suplementos de vitamina C não vão curar o problema.

– Não há nada que encurte os períodos de recuperação celular e muscular. Tudo isso é regulado pelos nossos genes e células. Há o que podemos fazer para evitar complicações, mas não para reduzir o período da gripe – explica.

Consumo de alimentos ricos em vitamina C ajuda sistema o imunológico a ficar mais forte para prevenir resfriados e enfrentar gripes — Foto: Unsplash

A prevenção da influenza passa pela imunização. No entanto, alguns cuidados ajudam a reduzir as chances de contrair os diversos tipos de vírus de influenza e resfriados e evitar propagá-los. Com o apoio das médicas, listamos algumas dessas práticas:

  • Lave sempre as mãos;
  • Evite tocar a face, nariz, olhos e boca. Esse cuidado é importante para evitar o contato das mucosas com o vírus. Muitas pessoas não sabem, mas os vírus podem chegar ao sistema respiratório também através do contato com a mucosa ocular;
  • Evite alterações bruscas de temperatura;
  • Mantenha distância de quem tosse;
  • Em caso de sintomas de gripes e resfriados, evite locais fechados e o contato com quem faz parte do grupo de risco, como gestantes e pessoas com doenças crônicas, que podem ter chances de complicações;
  • Ao espirrar ou tossir, use um lenço descartável. Se não tiver um nessas horas, cubra a boca com o braço, e não com a mão, que você precisará usar para tocar em maçanetas, por exemplo.

Ao espirrar ou tossir, use lenços descartáveis, mas, na falta deles, use o braço para proteger a boca — Foto: Pixabay

Ao notar sintomas como taquicardia, falta de ar e febre por mais de três dias, a médica Nancy reforça que é preciso procurar um médico. A recomendação é voltada para indivíduos com doenças crônicas ou saudáveis que apresentem sinais de gripe.

– Não é porque a pessoa é saudável que o quadro de gripe não pode evoluir para algo mais grave, como uma pneumonia. No caso de febre, tem que diminuir para baixo de 38°C após três dias. Se não reduzir, a pessoa pode ter outro problema e é preciso procurar um médico também – conclui a infectologista.

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