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Por Flávia Ribeiro — Rio de Janeiro


Semanas após a fase aguda da doença, um terço dos pacientes leves e três quartos dos pacientes graves e críticos com COVID-19 apresentaram capacidade aeróbica reduzida, concluiu um novo estudo brasileiro liderado por médicos pesquisadores do Laboratório de Performance Humana da Casa de Saúde São José, publicado no European Journal of Sports Science. Os médicos acompanharam 392 pacientes com covid longa, que gera sequelas persistentes pós-covid, especialmente fadiga muscular e respiratória e os consequentes fraqueza, cansaço, dificuldade de locomoção e falta de ar, entre outros sintomas.

A boa notícia é que, entre os participantes do estudo, o exercício pré-covid reduziu significativamente as chances de baixa capacidade aeróbica após a doença. Mesmo pacientes graves ou críticos que se exercitavam regularmente antes do SARS-CoV-2 tiveram prevalência de baixa capacidade aeróbica 2,5 vezes menor do que aqueles que não tinham essa rotina de atividades físicas.

A reabilitação da covid longa é feita, entre outras estratégias, através do exercício, que pode precisar de acompanhamento médico e fisioterápico em casos mais graves — Foto: Istock Getty Images

- A gente começou com esse estudo quando nem se falava ainda em covid longa, lá no início. Mas a gente via as pessoas cansadas semanas após terem tido a doença. Já tem gente aí que está cansada há dois anos. Só que as pessoas vão se acostumando a viver com esse cansaço e limitando a vida para limiares que não cansam - comenta o médico do esporte e cardiologista Fabricio Braga, um dos autores do estudo, que aponta uma preocupação. - Tememos que nos próximos anos possa haver um aumento de casos de infarto e AVC porque muitas pessoas regrediram na atividade física, porque se sentiram cansadas para fazer exercícios.

Fabrício explica que regredir nas atividades físicas é justamente o que não deve ser feito, já que o principal tratamento para boa parte das sequelas da covid longa são justamente os exercícios, que devem ser monitorados por médicos nos casos mais graves. O tratamento está disponível tanto em clínicas particulares com espaço para fisioterapia e com academia quanto em alguns hospitais públicos, sendo necessária uma avaliação em clínicas da família primeiro, para encaminhamento, nesse caso.

Por que a Covid Longa causa cansaço?

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Segundo Fabrício, a fadiga gerada pela Covid longa se manifesta a partir de dois mecanismos, principalmente:

  • O principal mecanismo é semelhante ao descondicionamento físico: há uma dificuldade da musculatura de usar o oxigênio para gerar energia. A reabilitação física é fundamental.

- A limitação aqui é mais de uso do que de recebimento de oxigênio. Ou seja, você recebe o oxigênio, mas não o usa como deveria para os neurônios funcionarem como devem ou para os músculos funcionarem como devem. O sangue chega oxigenado no cérebro e nos músculos, mas eles não sabem o que fazer com ele. As células perdem parte de sua capacidade, diminui a eficiência da produção energética. Vou fazer uma analogia: uma pizzaria tem dez fornos que fazem duas pizzas de cada vez. Aí dois fornos queimam e os outros passam a só conseguir fazer uma pizza de cada vez. Você reduz a produção de 20 pizzas para oito. É isso que a covid longa faz: ela reduz a capacidade do corpo de produzir energia a nível celular e a nível muscular - compara o médico.

  • Outro mecanismo é uma desorganização do padrão respiratório. Nesse caso, há uma mudança na forma como se coordena a respiração, ou seja, a dinâmica respiratória é modificada. Além dos exercícios de reabilitação física, são necessários exercícios respiratórios para reverter essa respiração disfuncional.

- Essa respiração disfuncional muda a relação entre o volume e a frequência respiratória. Você respira em torno de 5 ou 6 litros de ar por minutos, número obtido pela quantidade de ar que entra a cada inspiração multiplicada pelo número de vezes que você inspira por minuto. Com a respiração disfuncional, essa frequência e esse volume são alterados, gerando uma percepção de cansaço no dia a dia. E não necessariamente esse cansaço se reflete no exercício físico. Muitas vezes, o exercício não cansa mais que o normal, mas falar, por exemplo, sim. Por isso é importante uma avaliação individual para que haja uma estratégia de reabilitação para cada caso - ensina o médico.

Assim como o exercício é tratamento médico para a condição, ele também é importante na prevenção da covid longa. O estudo concluiu que a chance de haver perda de capacidade aeróbica é duas vezes e meia menor em pacientes que se exercitavam com frequência antes de serem infectados pelo coronavírus SARS-CoV-2.

- Além disso, dos 392 pacientes que acompanhamos, 176 praticavam atividade física antes da doença. Deles, só dois ficaram graves - conta Fabrício Braga, que conclui: - O exercício é um tampão para os impactos da covid durante e depois da doença.

Outros sintomas da covid longa

Além de fadiga, fraqueza muscular, dificuldade de locomoção, cansaço e falta de ar, a covid longa se manifesta também com:

  • Perda de memória;
  • Dificuldade de concentração;
  • Ansiedade;
  • Insônia;
  • Desconforto gastrointestinal;
  • Perda de olfato e paladar;
  • Queda de cabelo;
  • Dores de cabeça;
  • Em casos graves, inflamação no coração (como miocardite), problemas renais, diabetes tipo 2 e fadiga intensa, entre outros sintomas.

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