A doença renal crônica consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins. Em um estágio mais avançado, chamado de fase terminal de insuficiência renal crônica (IRC), os rins não conseguem manter a normalidade, e esses pacientes passam a depender de sessões de hemodiálise. Para essas pessoas, o exercício físico é de extrema importância, já que esses indivíduos apresentam uma grande redução do condicionamento físico. Com o objetivo de minimizar os impactos disso na qualidade de vida do paciente, o exercício surge como uma opção para capacitar o corpo para as atividades diárias. Mas especialistas lembram que isso não pode ser feito sem medição de parâmetros de intensidade, frequência e duração, que precisam ser individualizados e avaliados por médicos e equipe multidisciplinar.
– A prevenção de doenças renais crônicas é feita através de hábitos de vida saudáveis, controle de diabetes e hipertensão, o não uso de anti-inflamatórios de forma indiscriminada, exercício físico e exames preventivos. Além disso, é fundamental para pacientes e não pacientes que a gente beba água, que se mantenha a hidratação diária – explica Carina Tramonti de Souza, médica nefrologista da DaVita Tratamento Renal de Uberlândia.
Principais fatores de risco:
- Hipertensão
- Diabetes
- Obesidade
- Tabagismo
- Uso de medicamentos tóxicos para rins (anti-inflamatórios)
- Doenças genéticas
De acordo com a nefrologista Carina, o paciente com doença renal crônica possui um hipercatabolismo, com perdas de nutrientes durante o processo de diálise, e isso traz consequência de sarcopenia (perda de massa muscular) muito acelerada em relação a uma pessoa da mesma idade. A atividade física é um dos principais remédios contra a sarcopenia. A médica lembra, entretanto, que ela deve ser adaptada à condição clínica do paciente.
Principais sintomas:
- Fraqueza;
- Cansaço;
- Náuseas;
- Vômitos, principalmente pela manhã;
- Inchaço;
- Anemia;
- Sarcopenia;
- Edemas (inchaços);
- Perda do apetite;
- Acordar a noite para urinar;
- Excesso de urina;
- Pode evoluir até para convulsão e coma.
– A doença renal crônica é considerada uma das epidemias do milênio. Nós temos hoje, para cada paciente que realiza diálise, outros quatro ou cinco pacientes que são renais crônicos e desconhecem serem portadores dessa patologia. É uma doença silenciosa que só manifesta sintomas em seus estágios avançando, quando já não conseguimos reverter a situação. Daí a importância da detecção precoce – explica a nefrologista.
O papel do esporte
Em um estudo da Universidade Chinesa de Hong Kong publicado no British Journal of Sports Medicine em 2020, 199.421 taiwaneses com idade média de 20 anos tiveram avaliados, durante quatro anos, seus hábitos diários de exercícios e sua função renal. Como resultado, concluiu-se que a probabilidade de participantes do grupo de sedentários serem diagnosticados com doença renal crônica era quase 10% maior em relação ao grupo dos ativos. Um outro trabalho de pesquisadores da Universidade Nacional Yang-Ming, em Taiwan, avaliou as atividades aeróbicas de 4.508 pacientes com insuficiência renal crônica. Publicado em 2021, p estudo apontou que fazer 150 minutos de exercício moderado ou 75 minutos vigorosos por semana reduziu em 17% a progressão para estágios mais graves da doença.
Segundo Carina Tramonti de Souza, exercícios de impacto e aeróbico ajudam no condicionamento cardiovascular, ajudando a prevenir uma das principais causas de óbito para pacientes renais: doenças cardíacas. Além disso, a atividade física também é responsável por um melhor controle da pressão arterial e da diabetes, assim como o controle do peso pode diminuir o risco de câimbras nas sessões de dialise.
– O paciente renal costuma apresentar alterações no metabolismo ósseo, que o predispõem a um maior risco de fraturas. Sendo assim, o fortalecimento da musculatura auxilia na manutenção da saúde dos ossos – acrescenta Carina Tramonti lembrando também a existência de algumas restrições: – Existem cuidados com algumas atividades, como: paciente com fístula tem restrição de levantar peso e fazer força muscular maior do que cinco quilos, porque pode danificar o acesso vascular. Se o paciente faz diálise peritoneal, ele também tem restrição de atividades na água. Se tiver componente de insuficiência cardíaca, ele vai ter restrição de atividades aeróbicas – enumera.
Wilton Silva foi diagnosticado com insuficiência renal aos 24 anos. Após relatos de constantes dores de cabeça, dores no estômago e câimbras, ele teve que iniciar a hemodiálise. Apesar das dificuldades, o rapaz, jovem e ativo, encontrou no seu hobby uma solução para sua indisposição física: a bicicleta. Wilton passou a pedalar da pequena Campina Verde (MG) até Uberlândia para realizar as sessões de hemodiálise três vezes na semana.
– Eu comecei a pedalar porque queria economizar a gasolina do carro e queria emagrecer, ter uma ocupação. Comecei aos poucos e depois passei a fazer trilhas. Os profissionais da clínica me incentivaram e até ganhei patrocínio para comprar capacete, equipamentos adequados e a participar de competições de ciclismo estrada - relata Wilton.
Dicas da nutricionista:
Indivíduos com insuficiência renal precisam de orientação especializada de uma equipe multidisciplinar para acompanhamento. A nutricionista Thays Mortaia também preparou algumas dicas para o Eu Atleta, no controle da alimentação:
Para pacientes renais:
- O paciente que já desenvolveu a doença renal crônica deve seguir as orientações nutricionais, adotando hábitos que proporcionem uma dieta saudável e equilibrada;
- É importante evitar alimentos industrializados, ricos em conservantes e sódio;
- Com liberação médica, a prática de atividade física é recomendada;
- Níveis de fósforo e potássio podem acumular-se. Desta forma, alguns alimentos devem ser consumidos de acordo com as orientações nutricionais ou até mesmo evitados, a quantidade de proteínas deve ser calculada de forma individual e a quantidade de líquidos deve ser calculada de acordo com o volume urinário. Por isso, é importante, procurar a nutricionista;
- Beber água é fundamental.
Para prevenção de doenças renais em não-pacientes:
Para prevenir e diminuir os riscos do desenvolvimento da doença renal crônica, temos como importante ferramenta adotar um estilo de vida saudável:
- Manter uma alimentação balanceada, fornecendo ao organismo os nutrientes necessários para que o mesmo funcione adequadamente;
- Praticar atividade física;
- Controlar e monitorar os principais fatores de risco, como diabetes, hipertensão arterial sistêmica e obesidade.
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