Completar uma maratona não é para qualquer um. Neste domingo, 14 mil guerreiros percorreram o Rio de Janeiro, do Pontal ao Aterro do Flamengo, correndo. Neste ano, muito deles já haviam feito 21km no dia anterior, fechando o Desafio Cidade Maravilhosa com os 42km e levando para casa uma medalha especial. Mas de todos esses “loucos” pelo esporte, alguns podem dizer que realmente sentiram a corrida. É o caso de Leo Luz e Gabriel Fontes. Os dois não se conhecem, mas fizeram os 42km da Maratona do Rio da mesma maneira, descalços.
- O propósito é espiritual, a corrida para mim é espiritual. Quando você corre descalço, você sente o corpo inteiro, dos pés à cabeça. O tênis bloqueia essa vibração, a vibração do coração - ensinou Leo Luz, que veio de Brasília para fazer sua terceira maratona, a segunda descalço, em menos de 4h.
Gabriel Fontes tem um estilo totalmente diferente de Leo Luz, mas também adotou a corrida sem calçados há um ano. E o saldo da primeira maratona “pés no chão” foi a diminuição do tempo de prova.
- A diferença é a postura. Quando você começa a correr descalço, é obrigado a correr com o pé chapado, então você mantém a postura certa da corrida, economiza energia e consegue correr muito mais do que com o tênis.
O corredor garantiu que não sente dor. Mas, para alívio dos pés, o sol não saiu neste domingo no Rio de Janeiro...
- Tem que ter um preparo, comecei aos poucos e fui aumentando a distância sem tênis, mas não dói. Só depois de 12h é que esquenta um pouco.
Com ou sem tênis, motivos para comemorar não faltaram, e a festa de Gabriel começou antes mesmo de cruzar a linha de chegada. O corredor passou pelo pórtico com uma garrafa de cerveja na mão. Mas cerveja pós-prova, pode?
- A cerveja num certo limite faz bem para a corrida. Essa foi a primeira vez que fiz isso, mas deu sorte. Meu amigo da equipe me viu e me deu a cerveja para dar um gás no final, foi um incentivo bacana.
Espírito coletivo
Mesmo sem sol, a alta umidade atrapalhou o desempenho de alguns corredores. Teve muita gente sendo atendida pelos médicos ao cruzar a linha de chegada. Aos 66 anos, Paulo Roberto precisou literalmente de ombros amigos para conseguir completar a prova. E a cena do senhor sendo carregado por dois corredores que ele nunca tinha visto na vida emocionou a plateia no Aterro do Flamengo.
- Eu corri 21km ontem, completei o Desafio, mas estou muito cansado. Você viu os caras me carregando? Foi legal, o pessoal ajuda. Vim agarrado nos dois já quase na chegada, porque não estava aguentando. A coxa começou a doer muito, e eu ia parar. Aí vieram os dois e não deixaram. Eles falaram: “Vamos embora”, e eu fui - contou o senhor que corre há nove anos, já recuperado.
De pai para filho
Sobrou emoção também para o pequeno João Paulo. Aos 11 anos, ele não conseguiu conter as lágrimas ao ver o pai completando 42km pela primeira vez. Chorando muito, o menino que joga futebol disse que vai querer correr como o pai quando crescer.
- Ele esta sempre comigo, a minha família está sempre comigo. Não tenho nem palavras para descrever esse momento - disse João Paulo, o pai, de mãos dadas também com a filha mais nova.
Figuras carimbadas nas corridas pelo país afora, Biel e o pai Rodrigo levaram o público presente ao delírio mais uma vez. Como já virou marca registradas nas maratonas que a dupla faz junta, Rodrigo tirou Biel da cadeira e cruzou a linha de chegada ajudando o filho a caminhar.
- É nossa quarta maratona. Dessa vez foi mais difícil, porque encaramos o Desafio. Foi mais dolorido e não deu para bater a meta de 4h, mas foi ótimo - comemorou o pai-herói.
O domingo também foi dia da Family Run, que reuniu milhares de inscritos para corridas de 6km e 10km.
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