Em parceria com o economista Bruno Imaizumi, o Espião Estatístico apresenta a probabilidade de cada resultado nas semifinais da Copa do Catar. Como parâmetros, o economista usou dados posicionais e de finalizações feitas e sofridas de jogos de Eliminatórias, amistosos e outras competições, como Liga das Nações da Europa e outros torneios continentais. Também foram considerados o Ranking da Fifa e características técnicas dos atletas. No final do texto, apresentamos uma metodologia.
Argentina x Croácia
- Lá como cá: a Argentina chega à semifinal com a equipe que menos finalizações permitiu a seus adversários (média 4,4 por jogo) e que menos finalizações certas sofreu (1,2 por partida). Nos dois quesitos, o Brasil saiu como terceiro melhor (6,4 finalizações sofridas e 2,0 certas por jogo). Esperava-se uma Copa de altíssimo nível técnico, mas como foi possível perceber lá nas primeiras rodadas, a Copa no meio de temporada europeia favoreceu o vigor defensivo (e Marrocos está aí para comprovar). A equipe tem média de 58% de posse de bola. Como fica mais com a bola, diminui o tempo disponível para o adversário construir seus ataques. Outro exemplo disso é que apesar de estar entre as quatro melhores seleções, tem apenas a 14ª média de desarmes (14 por partida). Mas a intensidade da Copa deixa tudo muito próximo: a Croácia é a segunda equipe com mais desarmes e fez 18,4, apenas quatro a mais que a Argentina por jogo, com média de 54% de posse de bola. A Croácia sofre o triplo de finalizações (11,6) e praticamente o quádruplo de finalizações certas (4,4). Falta espaço para acertar o gol dessas equipes.
- Mas o papel dos semifinalistas é construir esse espaço, aproveitar a falta de concentração, o desgaste físico e mental. A Argentina tem a terceira maior média de finalizações certas da Copa (6,8) e o Brasil foi eliminado pela mesma Croácia com a maior média de finalizações certas (8,6). O Brasil não importa mais, mas a referência serve para compreender o que se pode esperar da Croácia. A expectativa é se o goleiro Livakovic, da Croácia, terá a mesma sorte evitar com o joelho esquerdo um gol que levaria entre as pernas e impedir com a ponta do pé um gol contra. Em 18 defesas feitas, seis foram difíceis. Essa é a maravilha do futebol, e não é só time treinado por Fernando Diniz que perde jogo sofrendo uma única finalização certa.
- Até aqui, a Argentina tem uma característica importante que a diferencia da Croácia: os argentinos evitam a todo custo finalizar de fora da área, de onde é mais difícil marcar. A Argentina finalizou de dentro da área 65% das vezes, enquanto a Croácia fez isso em 57% das chances criadas. Em números absolutos, a Argentina fez 47 finalizações de dentro da área, e a Croácia, 29 vezes. A Argentina tem nove gols, oito de dentro da área; a Croácia tem seis gols, cinco de dentro da área. O jogo argentino é basicamente rasteiro: não tem gol em jogada aérea e sem contar pênaltis, faltas diretas e olímpicos, só usou bolas altas para finalizar 11 (17%) das 63 finalizações. No mesmo recorte, a Croácia tem 51 finalizações, sendo 20 delas (39%) construídas usando bolas aéreas, que resultaram em dois gols.
- A Argentina já sofreu gol a partir de jogada aérea, o primeiro da Holanda nas quartas de final, cruzamento da esquerda do ataque holandês. Os dois gols croatas a partir de bolas aéreas nasceram exatamente em cruzamentos, um da ponta esquerda, feito por Perisic para gol de Kramaric (contra o Canadá) e um da intermediária direita, feito por Lovren para conclusão de Perisic (contra o Japão).
França x Marrocos
- A questão não é que Marrocos só se defende, mas que faz isso com uma qualidade impressionante. A equipe resistiu a pressões de Bélgica, Croácia, Espanha e Portugal permitindo a essas potências em média apenas 2,8 finalizações certas por partida. O único gol que sofreu foi contra. Sem contar faltas diretas, Marrocos sofreu 42 finalizações, apenas dez delas foram certas e só cinco difíceis em cinco jogos contra algumas das principais forças europeias. Dessas dez finalizações certas, só duas nasceram em jogadas aéreas.
- Como comparação, a França sofreu cinco gols: dois de pênalti (contra Polônia e Inglaterra, que perdeu outro, histórico). Dos outros três, dois nasceram em jogadas aéreas, um lançamento da defesa (Austrália) e um escanteio da direita do ataque da Tunísia. Mesmo tendo uma equipe muito ofensiva, a França sofreu em média 8,6 finalizações por partida (oitava melhor média), mas apenas 3,8 acertaram seu gol. É a equipe que menos faltas comete (7,8) enquanto Marrocos faz praticamente o dobro (14,8). É uma equipe muito equilibrada, principalmente quando considerado sua produtividade ofensiva.
- A França mantém a posse de bola por 52% do tempo, praticamente a metade do tempo, mas sabe muito bem o que fazer com ela. Tem média de 14,6 finalizações por partida, a terceira maior da Copa, com um gol a cada 6,6 tentativas. Sem contar faltas diretas, foram 71 conclusões e 35 (49%) nasceram em jogadas aéreas, que resultaram em cinco gols, todos eles em cruzamentos, três da esquerda e dois da direita do ataque para gols de Rabiot e Giroud (2) quando o cruzamento saiu da esquerda e para Mbappé (2) quando a bola subiu da direita. Como Marrocos não dá espaço, sofreu apenas sete finalizações em cruzamentos, três com os adversários cruzando da esquerda e quatro com a bola subindo da direita. No máximo conseguiram uma bola na trave.
- Marrocos tem em média a posse de bola por apenas 36,6% do tempo. É incrível que sua defesa resista a tamanha posse de bola adversárias, assim como é incrível que com tão pouca posse consiga ser tão eficaz no ataque. Tem média de apenas 7,8 finalizações por partida, a sétima menor das 32 seleções que começaram o Mundial, e só acerta o gol 2,8 vezes por partida, oitava menor marca. Só metade das finalizações são feitas de dentro da área (26ª marca entre 32 seleções). Ainda assim, Marrocos consegue um gol a cada 8,0 finalizações. Contra a França, a Austrália conseguiu quatro finalizações; a Dinamarca, nove; a Tunísia, seis; a Polônia, 11; e a Inglaterra, 13.
Metodologia
O modelo empregado nas análises segue uma distribuição estatística chamada Poisson Bivariada, que calcula as probabilidades de eventos (no caso, os gols de cada equipe) acontecerem dentro de um certo intervalo de tempo (o jogo). Para chegar às previsões sobre as chances de cada time terminar a primeira fase da Copa em cada posição foi empregado o método de Monte Carlo, que basicamente se baseia em simulações para gerar resultados. O estudo foi desenvolvido a partir de dados de diversas fontes, como Futhead, Globo, Fifa, Footstats e Opta.
*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, João Guerra, Leandro Silva, Leonardo Martins, Roberto Maleson e Valmir Storti.
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