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Por Leonardo Miranda

Jornalista, formado em análise de desempenho pela CBF e especialista em tática e estudo do futebol


Cruzeiro 1 x 2 Palmeiras | Melhores Momentos | 37ª Rodada | Brasileirão 2024

Cruzeiro 1 x 2 Palmeiras | Melhores Momentos | 37ª Rodada | Brasileirão 2024

O Cruzeiro não depende mais de si para garantir uma vaga na Conmebol Libertadores de 2025. Depois da derrota por 2 a 1 para o Palmeiras, no Mineirão, com portões fechados, a equipe precisará de uma combinação de resultados para disputar a competição continental no ano que vem.

O resultado aumenta ainda mais a pressão sobre Fernando Diniz. Anunciado em 23 de setembro com grandes expectativas, o treinador soma apenas duas vitórias em 14 jogos. Um aproveitamento irrisório de 28,57%, com seis empates e seis derrotas, agravado pelo desempenho ruim na final da Copa Sul-Americana, perdida por 3 a 1 para o Racing.

Fernando Diniz, do Cruzeiro — Foto: Gilson Lobo/AGIF

Todo o negativismo dos parágrafos anteriores pode — e deve — ser atenuado pelo fato de que são apenas 42 dias de trabalho da nova comissão técnica. Com tantos jogos em um curto período, Diniz teve pouquíssimo tempo para, de fato, treinar e impor suas ideias em um elenco que não montou.

Além do tempo, outro fato pesa na defesa de Diniz: seu perfil como treinador. Considerado por todos os jogadores que treinou como “diferente” e tido como ousado e inventivo pelo estilo de jogo único, Diniz é o maior representante da categoria de “treinadores que precisam de tempo para trabalhar”.

Com ele, paciência não é apenas uma boa prática; é quase um pré-requisito para embarcar na jornada que é ter os toques curtos e o goleiro jogando.

A prova é a própria carreira do treinador.

Quando assumiu o Fluminense em 2022, Diniz enfrentou desconfiança devido a insucessos anteriores, mas conseguiu levar o time ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro. Com uma pré-temporada, reforços indicados por ele e ainda mais tempo, conduziu a equipe ao título da Taça Guanabara e a uma campanha memorável na Taça Libertadores.

Outro exemplo é o modesto Audax. Diniz permaneceu por quase quatro anos no clube e o conduziu a campanhas seguras no Campeonato Paulista. Em 2017, venceu o São Paulo de Rogério Ceni por 4 a 2, com a famosíssima saída de bola curta impondo sufoco ao adversário. Jamais renegou seu estilo de jogo, que costuma irritar na mesma medida em que apaixona.

Trabalhos iniciados no meio da temporada, no entanto, costumam ser desastrosos para o treinador. No Santos e no Vasco, Diniz acumulou fracassos retumbantes em contextos de muita pressão por resultados imediatos. O cenário era muito parecido com o que enfrenta no Cruzeiro: o time conseguia sair jogando com toques curtos e aproximações, mas pecava nas finalizações. Com a bola, havia potencial, mas sem ela, reinava o caos: muitos gols sofridos e um alto número de finalizações concedidas aos adversários.

Até o São Paulo colheu frutos quando teve paciência com Diniz, em 2020. O time liderou o Campeonato Brasileiro por um longo período, mas, numa combinação de azar e falta de tato, a famosa bronca pública em Tchê Tchê minou a relação interna e culminou na demissão do treinador antes do término da competição.

A paciência exigida por Diniz está diretamente relacionada ao seu estilo de jogo. Ele é um técnico de treinos longos e muita, mas muita repetição. Insiste na ideia de sair jogando curto e ter a posse da bola, acreditando que a repetição dos padrões é o caminho para superar o medo e consolidar o estilo.

Ele é inovador. Eu lembro que, no primeiro treino dele, você imagina que tem um goleiro dentro da área, no tiro de meta, aí ele coloca um jogador na lateral, uma fila no meio e uma na ponta. O goleiro toca, o cara devolve e muda de fila. Ficamos fazendo isso por meia hora. Todo mundo tinha que jogar com o goleiro nesse quadrado.
— Hudson, que trabalhou com Fernando Diniz no São Paulo, em entrevista ao Charla Podcast

Em todos os clubes pelos quais passou, há inúmeros relatos de jogadores destacando sua persistência, navegando entre o "cabeça-dura" e o "genial". Diniz é assim, é besta e bestial ao mesmo tempo. Um paradoxo vivo.

O Cruzeiro acerta ao manter o treinador e confiar nele para liderar o ambicioso projeto de Pedro Lourenço e Alexandre Mattos. Com a promessa de R$ 250 milhões de investimento para o próximo ano e o contrato com Gabigol pendente apenas de uma assinatura, o futuro parece mais relevante que o recorte de apenas 15 jogos, a serem completados na última rodada do Brasileirão de 2024.

A resposta da diretoria é clara. No entanto, o paradoxo da paciência permanece vivo na torcida. Será que o torcedor, tão machucado nesta década, vai realmente comprar essa ideia? A ambição do clube mineiro é tão grande quanto a paciência exigida em jogos em que o Cruzeiro terá 80% de posse de bola no Campeonato Mineiro e finalizará apenas uma vez ao gol. Você, cruzeirense, está preparado para perdoar esses momentos em busca de uma glória maior?

"O trabalho do Diniz no Cruzeiro é um dos piores que eu já vi", diz Fê | A Voz da Torcida

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A regra da paciência não é exclusividade de Diniz. Ele só precisa de um pouco mais dela. Todo trabalho no Brasil depende de uma resposta rápida, e a paciência está sempre atrelada aos resultados. Foi assim com Jorge Jesus e Abel Ferreira, e agora com Arthur Jorge. A demissão de Milito é uma prova cabal de que, independentemente de onde o treinador tenha nascido, ele precisa vencer para permanecer.

Paciência é algo raro no futebol brasileiro, mas é exatamente o que Diniz mais precisa para ter sucesso. Um paradoxo que apenas 2025 poderá responder.

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