Apolinho, Antero e Silvio conseguiram a façanha de não esconder suas paixões e serem queridos por todas as torcidas.
Os mexicanos nos ensinam a perpetuar a memória dos nossos mortos. Basta falar deles. Contar sobre eles. Lembrar deles. É o que um punhado de coração jornalista está fazendo desde a infame jogada ensaiada criada pelo destino, tirando do nosso time, de uma vez só, três craques.
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Apolinho, Antero e Silvio merecem que se fale de cada um deles. Para que todas as gerações de torcedores saibam do legado que deixaram.
Já andaram dizendo e escrevendo que os três compartilharam vários talentos. Inteligentes, pensamento rápido, bom humor e capacidade de emoldurar uma linda jogada no campo, a transformando em obra-prima através de um bordão, apelido ou texto poético.
Porém, tem outra coisa que os unia. Uma qualidade que sobreviveu mesmo com a chegada das redes sociais e do ódio.com.
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Washington Rodrigues era flamenguista raiz. Nunca escondeu. E sempre foi respeitado pelas outras torcidas. A notícia de sua morte consternou todas as cores e credos da bola. Bastou andar pelas ruas do Rio na manhã de quinta 16 de maio. O assunto era a sua partida. Apolinho falava a língua de todos os cariocas, de qualquer bairro ou classe social. Um jeito comunicar que confortava, divertia e jamais ofendia.
Por quê? Porque ele nunca debochou de time algum, sempre mostrou conhecimento histórico e esportivo idêntico para todos e deixava claro em todos os seus comentários uma palavrinha mágica. Respeito.
Antero Greco era palmeirense raiz. Daqueles que se sentem mais palestrino do que palmeirense. E tratava todos os outros times com reverência, referência e saber. Também pudera, era um colecionador de recortes de jornais do Brasil inteiro. Lia uma reportagem interessante sobre qualquer assunto e a guardava numa biblioteca improvisada de caixas de papéis.
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Quando enfrentou “haters" cretinos na internet foi pura e simplesmente porque sofreu pela doença da moda, e ainda sem cura, a intolerância política. Mas, se o assunto era futebol, era querido por todas as ideologias esportivas. Porque, desde criança no Bom Retiro, aprendeu a palavrinha mágica. Respeito.
Silvio Luiz era narrador raiz. Porque não revelava o time do coração e era obrigado a escutar de todos que torcia para o Corinthians, ou Palmeiras, ou Santos, ou São Paulo, ou Portuguesa… Ora, qual a razão? Simples. Suas narrações privilegiavam a todos. Só recentemente, numa entrevista, surpreendeu ao dizer que era são-paulino na infância, mas se apaixonou pelo simbolismo da estrela solitária do Botafogo.
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Aliás, era narrador raiz, porém único. Jamais gritou gol. Durante milhares de vezes repetiu o roteiro: “Olho no lance… éééééé do Palmeeeeiras… foi foi foi foi foi eleeee…. Rivaldo… o craque da camisa número 11… confira comigo no replay! Eram jogados redondos.. 17 minutos do primeiro tempo”. E tem mais! Silvio era uma figuraça com um sotaque paulistano típico de programa da TV Tupi nos anos 70. Adaptou-se à internet e era ativo nas redes sociais, elogiando ou brincando nos posts alheios. Foi querido e imitado por torcedores de todos os estados. Por quê? Respeito.
E pelos três, todo o nosso respeito. E carinho. E amor.
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