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Por Tiago Bontempo

Goal

Depois de aplicar a maior goleada da história dos confrontos Japão x China, a seleção japonesa repetiu a dose e quebrou seu recorde de gols em um jogo contra o Bahrein: 5x0 com dois de Ayase Ueda, dois de Hidemasa Morita e um de Koki Ogawa. Os Samurais Azuis chegaram a 12 gols em dois jogos pela terceira fase das Eliminatórias Asiáticas para a Copa do Mundo e somam quatro goleadas consecutivas se contar os 5x0 contra Síria e Mianmar pela fase anterior. Começa a se desenhar um domínio asiático que nunca aconteceu antes.

Havia dúvida se Hajime Moriyasu manteria a formação 3-4-3 com cinco jogadores de ataque mesmo em um jogo fora de casa contra um adversário teoricamente mais complicado, mas o treinador japonês repetiu quase todos os titulares dos 7x0 sobre a China. A única novidade foi Daichi Kamada no lugar do poupado Takefusa Kubo.

Formações iniciais: o Japão de Moriyasu manteve o 3-4-3 (ou 3-4-2-1 dependendo do ponto de vista) e o Bahrein entrou com um 4-4-2 defensivo — Foto: Futebol no Japão

O Bahrein, que fez um jogo nervoso contra o Japão pelas oitavas de final da Copa da Ásia este ano, vinha de um surpreendente 1x0 sobre a Austrália em Gold Coast na rodada anterior e poderia até assumir a liderança do grupo em caso de nova vitória. Com jogadores habilidosos no meio-campo como Ali Madan, Mohamed Marhoon e Komail Al Aswad, esperava-se para os nipônicos um desafio maior do que contra a China. O que até pareceu que aconteceria no início do primeiro tempo.

Apesar de domínio completo do Japão nos primeiros dez minutos e uma jogada de ala para ala em que Mitoma cruzou e Doan acertou a trave, os "Guerreiros do Dilmun", que desde fevereiro são treinados pelo croata Dragan Talajić, chegaram com perigo à área japonesa em duas ocasiões entre os minutos 11 e 13. Mas foi só. Desde o início os barenitas mostraram que jogariam por um ponto. O goleiro Ebrahim Lutfallah demorava o máximo possível para repor a bola, os jogadores que caíam depois de uma dividida gastavam tempo para se levantar e qualquer falta no meio-campo já virava um lançamento direto para a área. O objetivo era especular, quebrar o ritmo da partida e fazer o tempo passar.

Fazia calor e os termômetros registravam 38 graus em Riffa quando o jogo começou, às 19h no horário local. Até por isso a partida corria em ritmo lento. Mesmo sem forçar muito, o Japão ameaçava cada vez mais, até que a sorte deu uma ajudinha e um cruzamento de Kamada bateu no braço aberto do lateral Abdulla Al Khalassy. Pênalti confirmado pelo VAR que Ayase Ueda conferiu. Um 1x0 morno que refletia bem o que foi o primeiro tempo.

Torcida do Bahrein vaiou o Japão desde o hino nacional e tentou atrapalhar a cobrança de pênalti de Ayase Ueda com lasers. "Eu estava concentrado e nem percebi", disse o atacante — Foto: Kaoru Watanabe / Gekisaka

Se o Bahrein tinha planos de tentar algo diferente no segundo tempo, tudo foi pelo ar logo no segundo minuto, quando a pressão que o Japão fazia no campo de ataque deu resultado. Minamino roubou a bola na frente da área e ela passou por Mitoma, Kamada e Junya Ito (que tinha acabado de entrar na vaga de Doan) antes de Ueda anotar seu doblete. Oito gols para o camisa 9 do Japão nas Eliminatórias, que alcançou Son Heung-min (Coreia do Sul) e Almoez Ali (Catar) na artilharia.

O Bahrein desmoronou após esse segundo gol e a partir daí o Japão deu show. Continuou atacando e empilhando gols até o final. Quando saiu o terceiro, ainda aos 16 minutos da segunda etapa, uma jogadaça de Morita em tabela com Ueda executada com tanta perfeição que pareceu até um lance de treino contra um adversário totalmente passivo, a torcida local perdeu a paciência e começou a ir embora em massa. O Estádio Nacional do Bahrein, que estava lotado com um público anunciado de 22.729 pessoas (a capacidade é de 24 mil), em questão de minutos ficou quase vazio.

Morita continuou a se aventurar como atacante e marcou mais um. Depois foi a vez de Koki Ogawa, substituto de Ueda, deixar o dele. O Japão não forçava, mas as chances de gol saíam naturalmente. O placar final poderia ter sido até maior que 5x0. Foi a pior derrota do Bahrein em nove anos, desde os 0x6 para a Colômbia em 2015, nesse mesmo estádio.

Com dois gols, o volante Morita brilhou na goleada do Japão — Foto: Getty Images

A seleção japonesa tem mostrado evolução desde a Copa da Ásia e o novo esquema de Moriyasu tem sido um sucesso. Até alguns anos atrás, era sempre jogo duro contra os asiáticos mais fracos que se retrancavam contra o Japão. Agora os Samurais Azuis estão empilhando goleada atrás de goleada contra esse tipo de adversário. E mesmo com um esquema ultraofensivo não estão sofrendo na defesa. Já são sete jogos nestas Eliminatórias com 33 gols marcados e nenhum sofrido (só a Coreia do Norte escapou de ser goleada). Nessa fase final, o Japão é o único time que tem sobrado nos jogos. Mas o verdadeiro teste será no próximo mês, quando os adversários serão os principais concorrentes pelas duas vagas diretas do grupo: Arábia Saudita (fora) e Austrália (casa).

Eliminatórias - Bahrein 0x5 Japão
Estádio Nacional do Bahrein, Riffa - Público: 22.729
Gols: Ayase Ueda (37'), Ayase Ueda (47'), Hidemasa Morita (61'), Hidemasa Morita (64'), Koki Ogawa (80')

Notas:
Zion Suzuki - 6,0 -
Mais um jogo sem problemas para o goleiro japonês, que só precisou fazer uma defesa, e sem dificuldade.
Ko Itakura - 6,5 - Ganhou todos os duelos e foi quase perfeito com a bola no pé. Apesar de um passe ruim para Endo na defesa que virou um contra-ataque adversário aos 13', ele se recuperou no lance ao bloquear o chute.
Shogo Taniguchi - 6,5 - O melhor da defesa japonesa hoje, jogou com tranquilidade e segurança. Parecia até que estava em casa (afinal, ele joga no Al Rayyan, do Catar).
Koki Machida - 6,0 - Um pouco menos acionado que os colegas da zaga, também não teve dificuldades. Aos 74', chegou na área como se fosse um ponta e fez um cruzamento que Junya Ito quase marcou de cabeça.
Ritsu Doan - 6,0 - Quase marcou um gol no início ao surgir por trás da defesa e completar o cruzamento de Mitoma, mas teve azar que a bola bateu na trave. Fez um primeiro tempo razoável e foi descansar depois do intervalo.
Wataru Endo - 6,0 - Vacilou em alguns momentos como ao não dominar um passe de Itakura e ceder contra-ataque ao adversário aos 13' e depois tomar uma caneta de Marhoon dentro da própria área na sequência do lance, mas de resto apareceu bem na cobertura e nos duelos. Foi dele o passe para Kamada no lance que originou o pênalti do primeiro gol.
Hidemasa Morita - 7,5 - Fez dois gols em um jogo de seleção pela primeira vez na carreira. Ele vinha jogando de forma cautelosa, sem aparecer muito na frente, mas mostrou uma habilidade de dar inveja a qualquer atacante no primeiro gol, após tabelar com Ueda, e oportunismo digno de centroavante no segundo. Teve uma postura mais agressiva no segundo tempo, com vários passes verticais que levavam o time para o ataque.
Kaoru Mitoma - 7,0 - Criou a primeira grande jogada da partida aos 9', em cruzamento que Doan acertou a trave. Deu uma canseira no marcador adversário e participou da jogada do segundo gol de Ueda e deu a assistência para o segundo gol de Morita.
Takumi Minamino - 6,0 - Foi o que apareceu menos do meio-campo para a frente, mas teve participação importante no lance do segundo gol, que começou com uma robada de bola dele na frente da área do Bahrein.
Daichi Kamada - 7,0 - Não jogou contra a China e agora foi o único do ataque que atuou por 90 minutos. Mesmo sem brilhar e sem marcar gol ou assistência, foi bastante eficiente e participou da jogada de três dos cinco gols do Japão. Virou volante após a entrada de Asano e foi bem também na defesa nos minutos finais.
Ayase Ueda - 7,5 (Melhor em campo) - Bateu com força e precisão o pênalti no primeiro gol. No segundo, fez bem o domínio, giro e chute após jogada trabalhada pelo ataque. E ainda teve uma assistência fazendo o pivô no primeiro gol de Morita. Aliás, ele e Morita ficaram tecnicamente empatados como melhores em campo pelo critérios utilizados aqui, mas Ueda foi o escolhido por este que escreve por ter feito os gols que abriram caminho para a vitória japonesa.
Junya Ito - 6,5 - Assim como no jogo passado, saiu do banco e mostrou resultado imediatamente. Com dois minutos ele apareceu livre pelo lado direito da área e serviu o segundo gol de Ueda. Deu trabalho para a marcação de Al Khalassy no resto da partida e quase marcou seu gol, mas parou no goleiro Lutfallah. É o líder de assistências da era Moriyasu (contando desde 2018), com 20.
Takefusa Kubo - 6,5 - Entrou logo após o quarto gol e manteve o time no ataque com intensidade mesmo com o jogo já definido. Participou do lance do quinto gol e deu dois passes sensacionais que deixaram companheiros na cara do gol - um deles enganou até o câmera.
Koki Ogawa - 6,5 - Fez um gol típico de centroavente, de cabeça, pegando rebote na área, para fechar a goleada em 5x0. Poderia até ter feito mais. Teve um gol anulado por impedimento e desperdiçou outras duas chances claras, uma chutando torto após passe de Kubo e outra parando no goleiro Lutfallah.
Keito Nakamura - 6,5 - Entrou bem na vaga de Mitoma e infernizou a vida de seu marcador, o lateral Vincent Ani Emmanuel. O quinto gol do Japão saiu de um rebote de chute dele.
Takuma Asano - Sem nota - Apesar de ter substituído Morita, jogou como meia ofensivo pela esquerda, na função que era de Kamada. Na única jogada digna de nota que apareceu, desperdiçou uma chance clara de gol chutando por cima depois de cruzamento de Ito, mas o lance foi anulado por impedimento.
Hajime Moriyasu - 7,5 - Manteve 10 dos 11 titulares do jogo anterior e conseguiu o maior resultado da história dos confrontos da seleção japonesa contra o Bahrein mesmo jogando fora de casa e sob um calor de 38 graus. A ousada formação com três zagueiros, nenhum lateral e cinco jogadores ofensivos deu muito certo de novo e o Japão venceu com facilidade um adversário que costumava complicar.

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