TIMES

Por Tiago Bontempo

Koki Nagahama / Gekisaka

Nervosismo? Já na saída de bola, Kubo se atrapalhou com o primeiro toque e, poucos segundos depois, Doan teve um lançamento bloqueado, perdeu a bola e fez uma falta em que poderia até ter levado cartão amarelo. Parece que o Japão entrou em campo hoje sentindo o peso do favoritismo no duelo contra o Bahrein pelas oitavas de final da Copa da Ásia. Aos 11', um erro de Hatate deixou o centroavante barenita, Yusuf Helal, na cara do gol. Zion Suzuki salvou com o pé, mas o lance foi anulado por impedimento. O Japão já havia ameaçado em um cabeceio de Ayase Ueda em jogada de escanteio, mas a seleção treinada pelo argentino naturalizado espanhol Juan Antonio Pizzi assustava quando tinha a bola no pé.

Formações iniciais: Hajime Moriyasu repetiu dez titulares do jogo anterior e só trocou Machida por Itakura — Foto: Futebol no Japão

A partida estava travada e em ritmo lento. É bom lembrar que o jogo das quartas de final é daqui a apenas três dias, então as duas equipes jogavam também com isso em mente, sabendo da importância de guardar energias. Até que o lateral direito Seiya Maikuma apareceu com um meteoro de fora da área que carimbou a trave e, no rebote, Ritsu Doan colocou a bola nas redes. Um gol que deu confiança ao Japão, que continuou atacando praticamente sem deixar o Bahrein reagir. O segundo tempo começou da mesma forma e no terceiro minuto após o intervalo saiu o segundo gol em um lance típico de comédia. O passe de Kubo chegou em Ueda e Doan para finalizar, mas no "deixa que eu deixo" ninguém chutou e o lateral esquerdo barenita Hazaa Ali acabou tocando para trás de presente para Kubo, que concluiu para as redes. Kubo estava em posição irregular, por isso o bandeirinha anulou o lance, mas como não tem impedimento se o passe vem do defensor, o árbitro validou o gol após conferir a jogada no VAR.

2x0 e o jogo parecia decidido, já que o Bahrein mal conseguia passar do meio-campo. O Japão jogava com as linhas adiantadas, Helal era anulado por Tomiyasu e os bons meias do Bahrein, Ali Madan pela direita, Al Aswad pelo centro e Marhoon pela esquerda, só trocavam passes longe da área japonesa. Até que a defesa nipônica retribuiu o favor e se complicou sozinha em mais um lance cômico, para não dizer bizarro. Jogada de escanteio, o zagueiro Sayed Baqer cabeceou forte, Zion Suzuki espalmou para cima e, no rebote, Zion e Ueda foram para a mesma bola. Um atrapalhou o outro, ninguém pegou nada e a bola caiu dentro do gol. A princípio foi marcado gol contra de Ueda, mas depois foi confirmado como gol contra de Suzuki. E do nada um jogo que estava praticamente decidido passou a ter emoção. O Japão já vinha mostrando sinais de nervosismo antes desse gol. Até mesmo Endo, que estava até então perfeito no meio-campo, começou a errar na saída de bola.

A falha, no entanto, parece ter mexido com Ueda no bom sentido. O centroavante japonês de repente ativou seus superpoderes e logo se redimiu com um golaço em jogada individual, driblando o capitão adversário, Al Hayam, e chutando forte por baixo das pernas do goleiro Lutfallah. Foi o quarto gol de Ueda na Copa da Ásia, vice-artilheiro junto com Akram Afif (Catar) e atrás do já eliminado Aymen Hussein (Iraque), que tem seis gols. Ueda quase repetiu a jogada minutos depois, ao driblar mais um zagueiro barenita e ser parado com falta na frente da área, antes de ser substituído por Takuma Asano, que desperdiçou duas grandes chances de decretar uma goleada.

Até Kaoru Mitoma, que enfim estreou no torneio, entrando no segundo tempo e fazendo boas jogadas pela ponta esquerda, também perdeu uma grande chance. No fim foi uma vitória relativamente tranquila em que o quarto gol japonês esteve mais perto que um segundo do Bahrein, que nem conseguiu pressionar nos minutos finais. Mas a defesa continua a não passar confiança e já tem seis gols sofridos em quatro jogos. O adversário das quartas de final (dia 3 de fevereiro no Estádio da Educação, em Al Rayyan) sai do confronto de daqui a pouco entre Irã e Síria.

Copa da Ásia - Oitavas de final
Bahrein 1x3 Japão
Al Thumama Stadium, Doha, Catar - Público: 31.832
Gols: Ritsu Doan (31', 0x1), Takefusa Kubo (48', 0x2), Zion Suzuki (gol contra, 64', 1x2), Ayase Ueda (72', 1x3)

Notas:
Zion Suzuki - 5,0 -
Fez uma grande defesa frente a frente com Helal no início, mas o lance não valeu por causa de impedimento. No segundo tempo mostrou insegurança nas saídas pelo alto e falhou no lance do gol ao espalmar a bola para cima e não para fora. Atrapalhado por Ueda, não conseguiu segurar a bola e acabou marcando gol contra.
Seiya Maikuma - 7,0 - Ganhou a posição de Sugawara e fez um jogo ainda melhor do que contra a Indonésia. Destravou a defesa do Bahrein com um chute na trave que originou o primeiro gol japonês, teve a assistência para o gol (a favor) de Ueda e apareceu bem em vários lances de ataque.
Ko Itakura - 6,0 - Meio desajeitado em algumas jogadas, mas no geral não teve problemas na defesa.
Takehiro Tomiyasu - 6,5 - Novamente o principal zagueiro japonês foi bem e cumpriu com perfeição a tarefa de marcar o centroavante adversário. Ganhou quase todos os duelos pelo alto e só não foi tão bem nos lançamentos para o ataque - desta vez faltou precisão.
Yuta Nakayama - 6,0 - Vacilou na marcação ao deixar Baqer cabecear no lance do gol sofrido, mas no resto da partida foi seguro na lateral esquerda. Nos acréscimos, um passe dele deixou Asano na cara do gol.
Wataru Endo - 6,5 - Apesar de ter errado duas vezes na saída de bola e contado com a cobertura dos companheiros, o capitão fez um bom jogo ligando o meio com o ataque e mostrou grande precisão nos passes.
Reo Hatate - 5,5 - Começou o jogo tentando sempre o passe mais difícil e até por isso errando também. Aos 23' tentou um voleio de primeira em que errou feio. Acabou sentindo uma lesão com apenas meia hora de jogo e foi substituído, sem tempo de mostrar seu futebol.
Takefusa Kubo - 7,0 (Melhor em campo) - Chamou a responsabilidade de liderar o ataque japonês desde o início e foi bastante participativo nos 68 minutos em que ficou em campo. Quase teve uma assistência em cobrança de escanteio. Marcou o segundo gol com oportunismo em uma jogada que já havia começado com ele roubando a bola perto da área adversária.
Ritsu Doan - 7,0 - Um dos melhores em campo, abriu caminho para a vitória ao marcar o primeiro gol e foi sempre perigoso pelo lado direito. Conseguiu o que parecia improvável: tomou o lugar de Junya Ito no time titular.
Keito Nakamura - 5,5 - Teve dificuldades em criar jogadas pela esquerda contra a marcação de Mohamed Adel. Chegou a colocar a bola nas redes, mas o lance foi anulado por causa de impedimento de Ueda na origem da jogada.
Ayase Ueda - 6,0 - Foi dele a primeira grande chance do Japão, em um cabeceio forte em jogada de escanteio. Teve dificuldade em fazer o pivô no primeiro tempo e acabou causando um gol contra no segundo ao se atrapalhar com Suzuki. Mas ele logo se redimiu com um belo gol em jogada individual e virou um tormento para os zagueiros barenitas até ser substituído.
Hidemasa Morita - 6,0 - Forçado a entrar em campo ainda no primeiro tempo por conta da lesão de Hatate, teve atuação discreta, mas não cometeu erros e ainda foi bastante preciso nos passes.
Takumi Minamino - 6,0 - Será que ele gastou todo o seu futebol na primeira rodada? Mais uma vez, Minamino não empolgou e desperdiçou mais jogadas do que deveria. Só não fica com nota negativa porque deu um passe para Mitoma finalizar de frente com o goleiro nos acréscimos.
Kaoru Mitoma - 6,0 - Perdeu toda a fase de grupos enquanto se recuperava de uma lesão no tornozelo, mas o craque japonês enfim está de volta. Deu bastante trabalho com seus dribles na ponta esquerda e fez uma grande jogada em que driblou três defensores de uma vez e deixou Asano na cara do gol. Porém, ele desperdiçou uma chance clara de marcar o seu por puro preciosismo.
Koki Machida - 6,0 - Quando o Bahrein colocou mais um centroavante em campo, Machida entrou para reforçar a defesa aérea com seus 1,90 m e apareceu bem quando exigido.
Takuma Asano - 5,5 - Entrou a dez minutos do fim e teve tempo de desperdiçar duas chances claras de gol.
Hajime Moriyasu - 6,5 - Escalou o que podemos chamar de força máxima considerando a forma atual dos jogadores e, apesar de momentos de tensão, o time venceu com uma boa margem, criando muitas chances de gol e anulando o adversário na maior parte do jogo. A mudança para o 3-4-2-1 (que vira 5-4-1 sem a bola) quando o Bahrein passou a atuar com dois centroavantes altos (Helal com 1,94 m e Al Hashash com 1,92 m) ajudou o time a não levar pressão nos dez minutos finais (mais dez de acréscimos.) A vitória não foi tão convincente assim, mas foi com autoridade.
(Peso das notas: 5,0 = Muito ruim; 5,5 = Ruim; 6,0 = Razoável; 6,5 = Bom; 7,0 = Muito bom)

Veja também

Mais do ge