Na data Fifa que se encerrou esta semana houve muitos amistosos, mas também teve jogo valendo - e muito. Foram definidas as últimas três vagas para a maior competição europeia de seleções em 2024, a Euro. Pela ordem de encerramento dos duelos, a Georgia ganhou seu primeiro passaporte de sua história para a fase final batendo a Grécia (a "zebra" campeã em 2004); a Ucrânia virou em cima da Islândia, para um mínimo alento de uma torcida tão abatida por uma guerra interminável; por último, comentei para o Sportv 4 (e também para o 3) a classificação do astro Robert Lewandowski e sua Polônia em cima do valente País de Gales, em Cardiff. Deu 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação (mas o jogo foi tão intenso e vertical que nem deu para lembrar do placar), e nos pênaltis foi a vez de o goleirão Szczesny (da Juventus italiana) brilhar e conformar a vitória polonesa por 5 a 4.
País de Gales x Polônia
Mas não foi fácil. Com bola rolando, Gales esteve mais perto da Alemanha, que sediará a fase final. No início, impulsionado pelo grito bem ensaiado da empolgada torcida anfitriã, o time de Gales saiu para atacar e não poupava forças em sua verticalidade. A fria e estratégica Polônia se segurava, saia pouco, o que tinha efeitos colaterais nos dois jogadores diferentes em campo: Zielinski (campeão italiano pelo Napoli em 2022/23), o pensador do time, recebia poucas bolas e quando recebia não tinha com quem dialogar, no máximo conseguia acionar o arisco Zalewski, da Roma; e Lewandowski, que não tocou na bola. O craque do Barcelona tentou até sair da área, foi jogar entre o círculo central e a meia-lua de ataque, mas pouco conseguiu (até lateral foi bater). As duas grandes chances do primeiro tempo foram com o zagueiro galês Davies. Na primeira, ele escorou de cabeça um escanteio, rente ao travessão. Na segunda, no finzinho, ele cabeceou para as redes, mas o VAR corretamente apontou um impedimento bem ajustado.
O segundo tempo começou parecido. A Polônia não conseguia marcar a bola aérea galesa e o grandão Moore (1,96m de altura) só não abriu o placar de cabeça porque Szczesny começou a fechar o gol e mandou a escanteio de mão trocada. Faltava a País de Gales um meia como Zielinski, só que ele estava no banco - Ramsey. Um meia que brilhou por anos no Arsenal e na Juventus, e que mesmo mais perto do fim de carreira, ainda seria capaz de brilhar. Não tenho como acompanhar o dia-a-dia e os treinos do País de Gales, ou saber quão bem ou ruim está Ramsey fisicamente, mas tendo a achar que, pelo menos na prorrogação ele deveria ter entrado. Mas o técnico Robert Page (uma mistura dos sonhos para os fãs do Led Zeppelin) não o utilizou.
Ali pelos 35 minutos, Gales começou a dar sinais de cansaço, e aí a Polônia tinha fôlego para entrar no jogo. Foi o que fez. Não teve chances tão claras, mas a bola passou a rondar a área defendida por Gales da reta final dos 90 minutos e por toda a prorrogação. Até Zielinski saiu, e surpreendentemente a Polônia melhorou porque conseguiu ter mais intensidade. E fomos aos pênaltis. De modo geral, não gosto desse tipo de definição, apenas reconheço nela um fórmula de criar herois e vilões. Mas, além de o combinado não sair caro, nesta situação específica foi até bom, porque ninguém merecia ser eliminado com bola rolando.
A Polônia converteu todos, inclusive com Lewandowski abrindo a série, e Gales marcou os quatro primeiros. Até Daniel James bater à meia altura, perto do meio do gol, e Szczesny pulou para a direita e pegou. O estádio inteiro aplaudiu seu time, justo reconhecimento pela entrega absurda de País de Gales. A Polônia tem até junho para celebrar. Depois terá uma baita abacaxi para descascar no grupo D da Euro, ao lado das gigantes França e Holanda, além de uma Áustria sempre bem chatinha de enfrentar. Mas isso é papo para o meio do ano...
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