A edição 2024 da Eurocopa e da Copa América trouxeram legados importantes em seus jogos de encerramento, que até podem parecer clichês, mas que são fundamentais para o estabelecimento das equipes vencedoras.
É de suma importância a manutenção da unidade coletiva da equipe, seja ela constituída por jogadores titulares ou reservas, na qual os talentos individuais não sejam mais valorizados do que o entrosamento da equipe e que sejam reconhecidos e aproveitados os valores técnicos dos jogadores, independentemente de sua idade cronológica.
Reconheço que atingir esse grau de perfeição é quase impossível, mas as duas equipes vencedoras, a Seleção da Espanha na Eurocopa 2024 e a Seleção da Argentina na Copa América 2024, foram as que chegaram mais próximas desse patamar.
Na Eurocopa, a Seleção da Espanha jogou praticamente sozinha na partida de encerramento, pois a Seleção da Inglaterra se anulou com sua desorganização tática. Enquanto na Copa América, a Seleção da Argentina dividiu o protagonismo da partida final com a Seleção da Colômbia, que lutou bravamente até decair de rendimento coletivo devido às substituições de alguns jogadores.
Eurocopa
Na Eurocopa, a Seleção da Espanha foi campeã devido ao alto padrão de jogo que estabeleceu perante a Seleção da Inglaterra, que não conseguiu chegar nem próxima do potencial da expectativa que ela carregava, por ser uma das principais favoritas ao título. A seleção inglesa decepcionou em vários momentos da competição, que mesmo tendo alto nível de qualidade individual, não conseguiu ser produtiva.
Em quase todas as partidas, a Seleção da Inglaterra apresentou altos índices de posse de bola frente a diferentes adversários, mas não conseguia traduzir esse domínio em autoridade tática real. Mesmo contando com talentosos jogadores em todos os setores, faltou o “algo a mais” que envolvesse a todos e tornasse a equipe talentosa e vencedora. Estava em momento taticamente desorganizado.
Abrindo parênteses, podemos dizer que existem semelhanças entre as dificuldades apresentadas pela Seleção da Inglaterra e a Seleção Brasileira, embora acredite que o caso de nossa Seleção seja mais grave, pois não falta somente padrão de jogo. Para o grupo brasileiro falta, também, administração responsável que acaba interferindo no desempenho dentro das quatro linhas do campo.
Para se ter uma partida perfeita é necessário que as duas equipes tenham rendimento tanto no setor de ataque como no da defesa. Na Eurocopa, isso só aconteceu na segunda etapa do jogo de encerramento, ainda assim de maneira parcial, pois a inaptidão ofensiva dos ingleses predominou, chegando a transparecer certa “covardia” dos setores de meio-campo e ataque.
Com as dificuldades da Seleção da Inglaterra, a Seleção Espanhola também não conseguiu desenvolver seu jogo, pois não encontrou soluções para escapar do bom sistema defensivo organizado pelo adversário. Assim, o placar da vitória espanhola por 2 a 0 foi pequeno diante do potencial criativo que os espanhóis apresentaram no segundo tempo do jogo.
Destaque deve ser dado ao trabalho Luis de la Fuente, que escalou a Seleção da Espanha com dois jovens que, sem dúvida, deram outra roupagem ao esquema espanhol. As atuações de Yamal e Nico Williams proporcionaram característica mais vertical ao time, aumentando a capacidade de domínio tático.
Copa América
O fato de possuir alta qualidade no elencos titular e manter mínima diferença no potencial técnico dos jogadores reservas proporcionou equilíbrio fundamental para a conquista do título da Copa América. A Seleção da Argentina ratificou essa realidade, pois foi obrigada a substituir grande parte da equipe titular, devido ao cansaço dos atletas e não perdeu a organização, mantendo o alto padrão tático até o final da partida, que teve prorrogação de 30 minutos devido ao placar sem gols no tempo normal de jogo.
A Seleção da Colômbia foi guerreia, mas não conseguiu sustentar o bom rendimento até o final da partida devido ao desequilíbrio que possui entre a qualidade técnica de jogadores titulares e de reservas. Mas, sua campanha deve ser muito valorizada, pois mostrou padrão de jogo focado no envolvimento do adversário através da posse de bola, que a qualifica como uma das potências no cenário sul-americano.
A equipe colombiana principal está bem formatada, com o meio-campista James Rodríguez fazendo a distribuição de jogadas no centro do campo. Usa de verticalidade com a velocidade de Luis Díaz, John Arias e o do volante Richard Ríos, que além do papel defensivo importante, agrega qualidade nos passes, dividindo a responsabilidade criativa da equipe. Sem a presença desses jogadores, o time perde grande parte de sua identidade tática equilibrada e decai consideravelmente o rendimento coletivo.
Já, a Seleção da Argentina foi favorita ao título desde o início da competição, mas teve dificuldades em alguns jogos, sendo menos encantadora do que na Copa do Mundo de 2022. Em sua preparação para esta competição, enfrentou adversários comprovadamente inferiores o que pode ter mascarado possíveis falhas que surgiram nos jogos oficiais. Mas, em resumo, conseguiu manter a memória tática já adquirida.
Para o futuro o desafio do técnico Lionel Scaloni se torna cada vez mais complexo, principalmente pela aposentadoria de Di María e pela diminuição gradual do protagonismo de Messi, que já está perdendo algumas qualidades que o tornavam único no mundo do futebol.
Nos dois torneios não houve surpresas, a lógica esperada foi comprovada. Este foi o quarto título da Seleção da Espanha, que se tornou a maior vencedora da Eurocopa. A Seleção da Argentina, também é a campeã em títulos da Copa América, conquistando seu 16º título na edição de 2024.
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