Foi mais batalhado e disputado do que esperávamos, mas a seleção brasileira masculina de basquete venceu a Costa do Marfim na Copa do Mundo, se classificou à próxima fase e está entre as 16 melhores equipes do planeta. Terminada a primeira fase, é fato: o Brasil mostrou bom nível de competitividade, apesar de alguns altos e baixos. A bem da verdade, numa competição tão forte tecnicamente é muita ingenuidade imaginar que mesmo diante de forças mais modestas do mapa do basquete as dificuldades não vão aparecer. Contra o Irã, pesou a lógica e o Brasil sobrou. Passeio no parque em dia de sol. Contra a Espanha, aí sim, veio a dificuldade natural diante de uma seleção tradicional, refinada ofensivamente, com mais elenco e regida por um dos melhores treinadores do planeta, Sérgio Scariolo.
Pedro Maia analisa vitória do Brasil na Copa do Mundo de Basquete
Nessa quarta-feira, contra a Costa do Marfim, um jogo em que os comandados de Gustavo de Conti precisaram calibrar a intensidade defensiva ao longo dos quatro quartos. Com Caboclo visado e tendo volume de jogo podado pelos africanos a partir de dobras e ajudas, Yago teve a frieza para pôr o jogo embaixo do braço. Aproveitou o espaço que lhe foi dado, teve o mérito de brilhar nos arremessos e fez uma partidaça de 24 pontos e 12 assistências. Nem tudo são flores e a má notícia é que o Brasil foi dependente de Yago num nível insustentável ao longo da competição. Gui Santos (fez bom jogo), Leonardo Meindl, Marcelinho Huertas, Vitor Benite e Caboclo combinaram para 8-29 nos arremessos de quadra, 27% de aproveitamento.
Ao ponto que interessa: é muito difícil sonhar com voos maiores daqui pra frente. Na próxima fase, Espanha e Brasil se juntam a Canadá e Letônia, dando vida a um novo grupo, o L. Nele, as duas seleções do grupo G enfrentam as duas do grupo H. As quatro equipes carregam para o novo grupo o desempenho da primeira fase, e avançam as duas de melhor rendimento. Ou seja, para passar às quartas - pensando de maneira realista e deixando de lado contorcionismos improváveis como surra da Letônia sobre a Espanha - o Brasil precisa vencer canadenses e (E maiúsculo) letões. Missão quase impossível de ser cumprida. Importante ressaltar, não há demérito nenhum nisso.
O Canadá é a sensação do Mundial porque venceu com muita contundência França e Letônia. É um time confiante, que chegou gargalhando da expressão "experiência Fiba". A química ainda em formação não se mostrou um obstáculo, e o elenco cheio de jogadores provados na NBA defende com muita pressão na bola, corre a quadra magistralmente. Imaginava-se que o Canadá teria dificuldades no perímetro por não possuir arremessadores especialistas, mas surpreende com o 2º melhor aproveitamento nas bolas de três da Copa, com 42.9%. Contra o time de Jordi Fernández, vai ser fundamental o Brasil trabalhar bem os ataques, com inteligência, criatividade e paciência, já que uma boa seleção de arremessos pode quebrar o ritmo forte do adversário.
A Letônia eliminou uma França atual vice-campeã olímpica e isso diz muito. É uma seleção de ritmo acelerado, cheia de arremessadores capazes de punir esquemas defensivos de zona ou drop com jogo eficiente de pick and pop. Seu armador, o elétrico Arturs Zagars, é uma das revelações da Copa. Inteligente, tem visão de quadra, bom arremesso e primeiro passo explosivo para induzir a ajuda adversária, gerando então desequilíbrios a partir do passe. Vai ser jogo duríssimo.
Levando em consideração o material humano, a quantidade modesta de talentos com protagonismo internacional e todo o contexto dos bastidores da modalidade no país, a comissão técnica tem feito um bom trabalho. Há aí uma seleção competitiva. Que vence uma Austrália e briga de igual para igual com uma Sérvia em amistosos ou sufoca uma Espanha por três quartos numa Copa. O cruzamento intragável nessa segunda fase é falta de sorte. E tudo indica que a vaga para Paris 2024 vai ser buscada através do Pré-Olímpico, competição sem data definida.
*OBS: Apenas os dois países mais bem posicionados das Américas na Copa do Mundo garantem vaga direta para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
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