Por Anaísa Catucci e Bibiana Borba, g1


Gustavo, Rodrigo, Julia e Fábio trabalham em empresas com semana de 4 dias no Brasil — Foto: Montagem/ g1

Depois de quase um ano com jornada mais curta, profissionais e executivos brasileiros dizem que produtividade aumentou com a semana de 4 dias de trabalho. Entre as táticas usadas na nova rotina estão: menos reuniões, revezamento, escolha entre feriado ou folga.

A semana mais curta no trabalho não tem impedimento legal. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) impõe limites máximos de jornada e impede a redução de salários, mas não proíbe diminuição de carga horária.

Mas ainda é uma realidade de poucos profissionais, que esbarra em viabilidade econômica (para não cortar salário) e outros fatores. O g1 ouviu profissionais e executivos brasileiros para saber quais foram as adaptações no trabalho para encarar a nova rotina.

👩🏻‍💻👨🏽‍💻 Menos reuniões e mais organização

Na empresa de finanças digitais Efí, de Ouro Preto (MG), um dos primeiros passos para otimizar o tempo dos funcionários foi cortar reuniões em excesso, diz Evanil Paula, de 42 anos, presidente e fundador.

“A agenda fica mais apertada e o foco muda. Você consegue eliminar a procrastinação porque sabe as pautas que tem de entregar e consegue ser assertivo. Então, é menos tempo de trabalho, mas um tempo aplicado de foco muito maior”, diz o designer Fabio Duarte, de 37 anos, que trabalha na empresa.

Para administrar a semana mais curta, é necessário sair do "piloto-automático" e se reorganizar para incluir novas atividades na rotina, explica o desenvolvedor de software Gustavo Gomes, de 24 anos, que trabalha na empresa de produtos digitais NovaHaus, em Franca (SP).

"Percebi que eu conseguia melhorar meu desempenho com procedimentos, coisas que antes eu não via porque às vezes a gente entra nesse piloto-automático. Menos tempo me deu um senso de que eu deveria me organizar melhor profissionalmente", diz.

"Como trabalho com a área da criatividade, essa janela é muito importante para poder renovar. Buscar referências, novos estudos", diz o designer Rodrigo Augusto, de 25 anos, também funcionário da NovaHaus.

🔁 Revezamento

Também não é possível que todos folguem no mesmo dia. "Para mantermos o funcionamento, alguns fazem plantão enquanto outros se revezam em escalas, folgando na sexta ou na segunda", detalha o chefe da Efí.

"Mas todos trabalham 32 horas semanais, 8 horas por dia, sem redução de salário ou quaisquer outros benefícios", destaca.

Na NovaHaus, os funcionários já tinham um sistema de trabalho flexível quando o presidente Leandro Pires, de 39 anos, propôs as folgas às quartas-feiras. Começou como um teste previsto para durar quatro meses e depois virou a regra.

A pandemia foi chave para a mudança, conta o empresário: "A gente teve que trabalhar perto dos nossos parentes, filhos. Isso fez com que a gente visse que era necessário passar mais tempo com essas pessoas."

📆 Escolha entre feriado ou folga

Quando há algum feriado durante a semana, os funcionários da Efí precisam escolher entre a folga semanal ou a data prevista no calendário. E isso pode gerar alguns desencontros de agendas entre familiares.

"A minha esposa, por exemplo, não pode aproveitar a sexta comigo. Então, a sexta se torna minha, não de toda a família", lamenta o designer Fabio Duarte.

Mais testes no Brasil

Evento da 4 Day Week Global — Foto: Divulgação/Facebook

Até agora poucas empresas no Brasil adotaram a semana reduzida, a maioria startups. Na agência de comunicação Shoot, de Porto Alegre (RS), o formato também completou um ano em 2023. "E não pretendemos voltar atrás", diz Luciano Braga, um dos fundadores.

Outro exemplo é o da Zee.Dog, marca de produtos para pets fundada no Rio de Janeiro (RJ). A redução para quatro dias começou em março de 2020 e foi mantida mesmo depois da venda da empresa para o grupo Petz.

Agora, a ONG britânica 4 Day Week Global pretende testar o modelo em 30 a 40 empresas brasileiras no segundo semestre deste ano.

As inscrições estão abertas até julho, pelo site 4dayweekbrazil.com, e o experimento deve durar de agosto a dezembro. Por enquanto, as interessadas em levar os especialistas para dentro de seus escritórios precisarão contribuir financeiramente com o projeto, com valor ainda não definido.

A equipe, que atua com pesquisadores da Universidade de Cambridge, da Boston College e do grupo independente de pesquisas Autonomy, já passou por empresas do Reino Unido, Austrália, Estados Unidos, Islândia, Portugal, entre outros países.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!