Por Redação g1


  • A autoridade de proteção de dados da Baviera, na Alemanha, determinou a exclusão de dados coletados na União Europeia pela World por falta de base legal suficiente.

  • O projeto foi criado em 2021 por Sam Altman, cofundador da empresa que desenvolveu o ChatGPT.

  • A iniciativa oferece dinheiro para escanear a íris de pessoas em diversos países, inclusive no Brasil.

  • O objetivo seria diferenciar humanos de robôs no futuro, bem como autenticar o login de usuários em sites e aplicativos.

  • A World disse que, atualmente, os códigos de íris não são mais armazenados e que os coletados anteriormente foram excluídos voluntariamente.

Empresa quer escanear a íris de toda a população mundial para coletar dados

Empresa quer escanear a íris de toda a população mundial para coletar dados

A BayLDA, autoridade de proteção de dados da Baviera, na Alemanha, determinou nesta quinta-feira (19) a exclusão de dados coletados pela World, empresa que tem escaneado a íris de milhares de pessoas pelo mundo em troca de dinheiro.

Para o órgão, não existe base legal suficiente para este tipo de coleta.

A World diz que atualmente, os códigos de íris não são mais armazenados e que os coletados anteriormente foram excluídos voluntariamente.

O projeto foi criado pelo bilionário Sam Altman, cofundador da OpenAI, criadora do ChatGPT, e tem coletado dados desde 2021, atuando em diversas parte do mundo, inclusive no Brasil.

O objetivo seria usar esses dados para diferenciar humanos de robôs no futuro, bem como autenticar o login de usuários em sites e aplicativos.

A BayLDA é responsável por analisar o tratamento de dados da World na União Europeia porque a sede do projeto no continente fica na Alemanha.

O órgão informou que começou a revisar a atuação da World em abril de 2023. Ao concluir o processo, determinou:

  • "a exclusão de determinados conjuntos de dados, até agora coletados sem base legal suficiente"
  • e que a World seja "obrigada a obter consentimento explícito para determinados passos de processamento no futuro".

Segundo a autoridade, essas determinações devem ser seguidas pela empresa em seus processamentos de dados em toda a Europa. A ordem "foi comunicada à empresa, que informou que irá contestar a decisão judicialmente", disse a BayLDA.

O que diz a World

A World informou ao g1 que os resultados da investigação conduzida pela BayLDA estão, "em grande parte, relacionados a operações e tecnologias que já foram descontinuadas ou substituídas em 2023".

"Em outras palavras, o parecer técnico emitido pela BayLDA se refere a práticas que já foram ajustadas pela World", disse a organização.

O órgão afirmou que, apesar de melhorias feitas pela World, "ainda são necessárias adaptações para alinhar o processamento de dados da empresa com os regulamentos aplicáveis". Entre outras coisas, o projeto deve "fornecer um procedimento de exclusão" um mês após a decisão final.

A World acrescentou que "atualmente, os códigos de íris utilizados para verificar o World ID de uma pessoa não são mais armazenados. E que "os códigos de íris coletados anteriormente foram excluídos voluntariamente, garantindo que nenhum dado pessoal seja mantido para o funcionamento do World ID".

Ela também afirmou que a decisão alemã indica "a urgente necessidade de estabelecer uma definição precisa e consistente de anonimização na União Europeia, capaz de garantir a proteção de dados pessoais na era da inteligência artificial (IA)".

Espanha

Em março, a Agência Espanhola de Proteção de Dados da Espanha já havia determinado a interrupção da coleta de dados pela World no país. A autoridade repercutiu a decisão nesta quinta e disse que a decisão alemã ratifica a medida adotada anteriormente.

Na decisão de março, a agência espanhola afirmou que o empreendimento da World pode ser uma violação das regras de proteção de dados da União Europeia. A decisão foi mantida pelo Tribunal Supremo da Espanha, rejeitando um recurso movido pelos proprietários da organização.

(Correção: o g1 errou ao informar que o órgão fiscalizador de proteção de dados da Espanha determinou nesta quinta-feira que a World exclua todos os dados de íris escaneadas no país. A decisão foi da autoridade de proteção de dados da Baviera, na Alemanha. A informação foi corrigida às 17h40).

Escaneamento no Brasil

No Brasil, a World está coletando dados em 20 pontos de São Paulo. Até o momento, a empresa afirma ter escaneado as íris de 189 mil pessoas no país, segundo dados desta quinta-feira (19) divulgados pela própria empresa.

Quem aceita oferecer seus dados ganha tokens da Worldcoin, moeda digital da empresa que pode ser convertida para o real.

O projeto levanta questionamentos sobre como vai tratar informações biométricas de milhões de pessoas e qual é a finalidade da coleta desses dados, que são considerados sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

👁️ O que é o projeto

Segundo a organização, o escaneamento da íris tem como objetivo auxiliar na distinção entre humanos e robôs criados por inteligência artificial (IA). Entre os potenciais usos da inovação está a prevenção de perfis falsos em sites e redes sociais, por exemplo.

A ideia da World é que essa tecnologia ainda substitua o Captcha, uma ferramenta de segurança usada por vários sites para certificar que quem está acessando é um humano e não um robô (veja na imagem abaixo).

Teste do reCAPTCHA pode ser validado automaticamente em certas circunstâncias — Foto: Reprodução

A estrutura da World tem três frentes:

  • 👁️ World ID, como é chamado o passaporte digital que transforma o registro da íris em uma sequência numérica;
  • 🪙 Token Worldcoin (WLD), a criptomoeda que será distribuída como recompensa para todos os inscritos;
  • 📱World App, o aplicativo que permite fazer transações com a criptomoeda.

A "foto" da irís da pessoa é tirada com a câmera Orb (veja na imagem abaixo) e é usada para criar um código numérico para identificar cada usuário e, de acordo com a World, é apagada logo em seguida.

Dispositivo usado para criar 'passaporte digital' da Worldcoin — Foto: Darlan Helder/g1

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