Por Victor Hugo Silva, Darlan Helder, Marcelo Tuvuca, g1


Rede social X, do bilionário Elon Musk — Foto: AP Photo/Rick Rycroft

Uma mudança de servidores permitiu que usuários brasileiros voltassem a acessar nesta quarta-feira (18) o X, rede social bloqueada desde o fim de agosto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), o X passou a usar endereços de IP vinculados a servidores da Cloudflare.

Na prática, a mudança ajudou o X a driblar o bloqueio feito por operadores de telefonia após a ordem judicial. Com os novos servidores, fica mais difícil para os provedores impedirem o acesso à rede.

A Abrint diz que o X passou a usar endereços de IP vinculados ao serviço de servidores Cloudflare, e não mais a uma infraestrutura própria.

▶️ O QUE É IP? É uma sequência de números que funciona como o endereço de um servidor. Na prática, ao digitar o endereço de um site, o navegador transforma o link em um IP (sigla em inglês para "protocolo de internet").

▶️ O QUE É CLOUDFLARE? A Cloudflare é uma empresa que fornece serviços e pode atuar como um intermediário entre o servidor de um site e o usuário. Neste caso, esse serviço permitiu que o X se tornasse mais resistente contra o bloqueio.

"Diferente do sistema anterior, que usava IPs específicos e passíveis de bloqueio, o novo sistema [Cloudflare] faz uso de IPs dinâmicos que mudam constantemente", diz a Abrint.

"Muitos desses IPs são compartilhados com outros serviços legítimos, como bancos e grandes plataformas de internet, tornando impossível bloquear um IP sem afetar outros serviços."

O que é a Cloudflare?

A Cloudflare é um serviço de proxy reverso, que funciona como um intermediário entre o servidor de um site e o usuário. Ele serve para oferecer mais segurança e melhorar a performance para o site.

"Um proxy reverso reside na frente de um servidor de origem e garante que nenhum cliente jamais se comunique diretamente com esse servidor de origem", diz a Cloudflare, em sua página.

Neste caso, a Cloudflare funcionou como um serviço terceirizado para entregar conteúdo do X para os usuários brasileiros, explicou Thiago Ayub, diretor de tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks.

"A diferença é que, como há uma troca do equipamento que é responsável por entregar o conteúdo, esse novo equipamento não estava previamente bloqueado", explicou.

"Uma comparação que a gente poderia fazer é de que, com o carro banido de entrar no Brasil, o Elon Musk alugou um carro com outra placa e conseguiu entrar despercebido", disse Ayub.

O que acontece agora?

A Abrint afirma que as operadoras estão em uma posição delicada e aguardam o posicionamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para entender quais medidas devem ser tomadas.

"Os provedores não podem tomar ações por conta própria sem uma orientação oficial da Anatel, pois um bloqueio equivocado poderia afetar empresas legítimas", diz a associação.

Nesse contexto, quem pode bloquear especificamente o X é a Cloudflare. "Ela tem plena autonomia de fazer esse bloqueio somente para o X e para os usuários brasileiros, porque são os equipamentos dela que estão sendo utilizados", destacou Ayub.

Ele afirma que a situação causa insegurança jurídica para os provedores, já que a ordem do STF diz que as empresas devem utilizar todos os meios técnicos possíveis para inviabilizar o acesso ao X.

"Se a gente fizer ao pé da letra como está, teria que bloquear, criar um apagão no Brasil de vários sites populares. Então eu sinto que há um desconforto grande, um temor ou uma insegurança nos profissionais da minha área de seguir ou não a decisão como está", afirmou.

Procurada pelo g1, a Anatel afirmou que "mantém a fiscalização a respeito da ordem de bloqueio" e que "o resultado desse acompanhamento é reportado diretamente ao STF".

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