(Foto: Yoshikazu Tsuno/AFP)
Para economistas brasileiros, o preço de R$ 4 mil para o console de nova geração PlayStation 4 no Brasil irá incentivar compras de videogames no exterior. O valor do aparelho foi anunciado pela Sony na quinta-feira (17).
A Sony Brasil argumenta que entre "60 e 70% do preço final do PS4 no país corresponde a impostos de importação". Para Samy Dana, professor de Finanças da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mesmo levando em conta a tributação não há uma explicação concreta para um videogame que custa US$ 400 (cerca de R$ 864) nos Estados Unidos ser vendido no país por R$ 4 mil (aproximadamente US$ 1,85 mil). "Temos o custo Brasil e o 'lucro Brasil'", afirma.
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Na avaliação de Miguel Daoud, consultor da Global Financial Advisor, "não tem razão para isso". Segundo ele, mesmo considerando o "ponto cartesiano" do chamado custo Brasil, que é a questão tributária, e a logística do país, "ainda assim não justifica [esse preço]".
"O segundo ponto é exatamente o lucro que querem ter. Não justifica ter esse custo, por mais que o custo Brasil seja alto", afirma Daoud.
Ainda assim, os economistas não conseguem explicar como o PlayStation 4 chegará a ser vendido por R$ 4 mil.
Mais caro do mundo
"A gente não sabe explicar porque não tem explicação. A gente já tem a internet mais cara do mundo, os carros mais caros do mundo, o iPhone mais caro do mundo e agora o videogame mais caro do mundo", compara Dana.
O Brasil tem o PlayStation 4 mais caro entre os países onde a Sony já anunciou o console. A diferença para o segundo colocado, a Argentina, é de quase R$ 1,6 mil. Lá, o PS4 poderá ser comprado por R$ 2,4 mil.
O Xbox One, console de nova geração da Microsoft e concorrente do PS4, já está em pré-venda no Brasil por R$ 2,2 mil, e o seu preço também é o maior do mundo até o momento. O Reino Unido é o país com o segundo valor mais caro. Mesmo assim, o console em terras britânicas será R$ 704 mais barato que no Brasil.
Nos EUA, a relação de preços entre os consoles se inverte. O PS4 custa US$ 400, enquanto o Xbox One sai por US$ 500. No entanto, o console da Microsoft vem junto do sensor de movimentos Kinect.
Estratégia de mercado
"Isso só pode ser enquadrado como uma estratégia de mercado. Por que o brasileiro tem que pagar esse preço?", questiona Daoud.
O preço mais alto que o dos rivais faz os economistas pintarem um quadro de esvaziamento das vendas domésticas de PlayStation 4.
"A conta que as pessoas vão acabar fazendo é comprar uma passagem para Miami – há passagens em promoção por US$ 150 – pagar hotel e ainda assim o videogame vai sair mais barato do que aqui no Brasil. Ou seja, é ridículo", cogita Dana.
"Talvez a Sony esteja querendo jogar essa possibilidade de desenvolver um mercado secundário para que o Brasil possa ter acesso", comenta Daoud, sugerindo que a fabricante queira desviar as vendas do Brasil para outros países.
Viajar ao Chile, onde o PS4 terá o menor preço em relação aos vizinhos latino-americanos, comprar o console e ainda passar três dias lá pode sair mais barato do que pagar R$ 4 mil por um PS4 no Brasil.
"A gente precisa começar a entender porque os brasileiros vão viajar cada vez mais para comprar tudo fora. O governo deveria ficar incomodado com o custo Brasil e não em punir as pessoas que trazem os produtos mais baratos do exterior", diz o economista.