Não é segredo para ninguém. A agência de espionagem norte-americana CIA investe em tecnologia, principalmente em startups. E investe pesado nelas--o quanto é segredo--, mas, em 13 anos, 170 receberam dinheiro da agência. Dessas, 90 continuam sob influência dos espiões norte-americanos, enquanto as outras, como a Keyhole, foram absorvidas por gigantes da tecnologia, como o Google.

Os aportes de capital são feitos pela In-Q-Tel, entidade sem fins lucrativos ligada à CIA que investe em companhias emergentes cujas inovações despertam interesse na comunidade de inteligência dos Estados Unidos. A firma de capital de risco surgiu após a agência perceber que havia perdido o protagonismo na criação de novas tecnologias no fim dos anos 90.

Para solucionar o problema, deu à luz, em 1999, à In-Q-Tel. O “Q” do nome é uma brincadeira com o personagem dos filmes do agente secreto James Bond, Agente Q, que fornece bugigangas high-tech ao 007.

Para além da brincadeira, o objetivo é claro: dar aos agentes o que há de mais novo criado nas garagens do Vale do Silício, berço de muitas gigantes de tecnologia, que se encontram em cada esquina com várias startups.

Depois do IQT, algumas não só se esbarraram como passaram a ser uma só. A Keyhole foi uma delas, recebeu investimento da IQT em 2003. A startup desenvolveu um sistema de visualização geoespacial em 3D. Em 2004, o Google a adquiriu e a transformou no seu serviço sideral, o Google Earth.

O mesmo ocorreu com a também californiana ArcSight, que criou em 2000 um sistema de segurança na análise de grandes massas de dados –o que hoje é chamado de Big Data. Dois anos depois, recebeu financiamento da In-Q-Tel e, em 2010, foi comprada pela HP por US$ 1,5 bilhão.

Outra startup que após receber dinheiro da IQT foi comprada por uma gigante foi a Perceptive Pixel. Desenvolvedora das telas gigantes sensíveis ao toque usadas pela CNN, foi adquirida pela Microsoft em 2012.

Como os conflitos não tem data para acontecer, a CIA quer resultados e rápido. Segundo a própria IQT, o financiamento é dado a startups que deverão prover a comunidade de inteligência com inovações vitais dentro de até 36 meses. Além de tecnologias de "Big Data", visualização de dados, estão na mira empresas que desenvolvem sistemas de comumicação, de segurança cibernética e mobile e de novas formas de produção de energia.

Faz parte do papel da entidade recrutar outras firmas de investimento que coloquem dinheiro nas suas escolhidas. A In-Q-Tel assegura que, “para cada US$ 1 que o IQT investe em uma companhia, a comunidade de investimento privado coloca outros US$ 9”.

Apesar de a CIA não mensurar quanto seu braço de investimento em startups gasta, é possível ter uma ideia do nível de atividade do IQT. Um relatório da firma de análise de investimentos em CB Insights mostrou que a entidade foi a quarta que mais realizou mais negociações nos EUA no primeiro semestre de 2013, somente atrás dos braços de investimento do Google, Intel e Qualcomm.

CIA (via In-Q-Tel), Startups e investidores. O quadro de participantes do ciclo de inovação da comunidade de inteligência é completo com a disponibilização da tecnologia das empresas emergentes a outras agências. As principais citadas pela IQT são: NGA (National Geospatial-Intelligence Agency), DIA (Defense Intelligente Agency) e a DHS S&T (Department Homeland Security Science and Technology Directorate).

A CIA sabe da sua importância e gosta de lembrar disso. A agência afirma o seguinte em seu site: "Então, da próxima vez que você estiver explorando novos lugares do conforto do seu laptop ou tirando fotos com com sua câmera digital alimentada por uma bateria de lítio, reserve um momento para pensar sobre de que outras maneiras tecnologias da CIA podem ter melhorado a vida até fora dos nossos muros".