Nintendo Switch tem falha que permite instalar Linux
Dois grupos independentes de entusiastas divulgaram uma falha crítica no chip Tegra, usado no console Nintendo Switch. Especialistas do grupo "fail0verflow" conseguiram instalar o sistema operacional Linux no Switch e executar aplicativos indisponíveis no equipamento -- incluindo possíveis emuladores -- e é possível que a descoberta abra caminho para a pirataria de jogos.
Tegra é uma linha de chips desenvolvida pela Nvidia, a mesma fabricante das placas de vídeo GeForce e Quadro usadas em computadores e notebooks. Além do Switch, chips Tegra são usados em tablets, como o Pixel C e o Nvidia Shield Tablet, e no console Android Nvidia Shield. A Nvidia também comercializa o chip para computadores de bordo no setor automotivo, mas a pesquisa dos grupos se concentrou no Switch da Nintendo.
A pesquisadora Katherine Temkin, do ReSwitched, chamou o problema encontrado de Fusée Gelée. A técnica do fail0verflow foi batizada de ShofEL2. Ambos se tratam do mesmo problema, mas foram descobertos de forma independente pelos grupos.
Vídeo do fail0verflow com o Switch executando Linux - assista. (Foto: Reprodução)
Os pesquisadores descobriram que é possível entrar no Modo de Recuperação (RCM) do chip pressionando os botões de aumentar volume e energia ao mesmo tempo após conectar dois pinos no controle do Switch para imitar um botão "Home". Nesse modo de recuperação, é possível explorar uma falha na maneira que o chip Tegra interage com dispositivos USB. Como os códigos necessários para a tarefa já estão on-line, a ligação dos pinos -- que pode ser feita com um fio ou outros meios -- é o maior entrave para quem quiser testar a novidade.
Como o erro está na bootroom do chip, que é travada de fábrica, a vulnerabilidade é considerada "incorrigível" nas unidades que já estão no mercado. A não ser que a Nintendo encontre alguma saída que não envolva modificações na bootrom, o problema só poderá ser corrigido na linha de produção em unidades futuras.
A solução do problema cabe à Nvidia que, segundo os pesquisadores, recebeu um aviso antecipado sobre a falha. Segundo o fail0verflow, o primeiro grupo a encontrar o erro, o prazo de 90 dias de sobreaviso para a Nvidia -- tempo dado por especialistas que descobrem falhas antes de ir a público com uma descoberta -- acabaria nesta quarta-feira (25).
Como a falha exige acesso físico ao Switch, não é possível explorar o problema sem contato prolongado com o console. A brecha é diferente de outro problema que foi divulgado em um evento em janeiro na Alemanha. Na ocasião, porém, especialistas já haviam alertado que o Tegra X1, por ser um chip comum e não um hardware específico do console, era mais vulnerável a ataques.
Extração de bootROM levou seis anos no 3DS
Ainda não há meio de executar jogos piratas no Switch, mas, segundo o fail0verflow, o bug permite extrair todo o conteúdo da bootrom, além de chaves criptográficas. São essas chaves que possivelmente protegem o console contra a pirataria.
O Linux é capaz de funcionar perfeitamente no console, inclusive com suporte à tela sensível ao toque e ao processador gráfico, mas não é capaz de executar os jogos do Switch.
O grupo ReSwitched já estaria trabalhando em um custom firmware (CFW) para o Switch. Um custom firmware é um software baseado no sistema original, mas que afrouxa as proteções contra a execução de aplicativos não autorizados. Mas ainda não está claro se os programadores vão conseguir derrubar todas as proteções do console.
Esses avanços demoraram mais no 3DS, o portátil anterior da Nintendo. Lançado em 2011, a falha conhecida como Sighax, divulgada em meados de 2017, foi a primeira a permitir a extração do conteúdo da bootrom do console. Apesar disso, piratas já estavam utilizando diversas técnicas para executar jogos copiados ilegalmente sem esse código, mas a criação do Sighax facilitou o procedimento e permitiu a decodificação de jogos sem o uso do console.
Ainda não há qualquer procedimento semelhante para o PS Vita, o portátil Sony também lançado em 2011. No Vita, é possível executar emuladores e aplicativos, mas não cópias ilegais dos jogos originais da plataforma.
O Switch foi lançado em março de 2017. As primeiras técnicas para dribar as proteções do console apareceram 9 meses após o lançamento.
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