Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados etc.) vá até o fim da reportagem e utilize o espaço de comentários ou envie um e-mail para [email protected]. A coluna responde perguntas deixadas por leitores no pacotão, às quintas-feiras.
Mesmo um vírus de computador que apenas "atrapalha" um pouco pode causar grandes prejuízos se infectar muitos computadores. Pragas que realmente danificam sistemas tendem a não se espalhar muito, porque danificam os computadores que elas mesmas poderiam usar para se espalhar.
O blog Segurança Digital elencou 10 pragas que, independentemente da sua capacidade de se disseminar, foram bastante destrutivas - intencionalmente.
10. Bugbear
O Bugbear ou Tanatos é um vírus que se espalhou por e-mail em 2002. Ele não se espalhou tanto quanto outros worms do gênero, nem mesmo pragas da mesma época, como o Klez ou LoveLetter (também conhecido como "I Love You"). Mesmo assim, ele conseguiu inundar a internet com mensagens e causar lentidão na entrega de e-mails - um inconveniente que acompanhou as principais as epidemias até a primeira metade da década de 2000.
Mas o Bugbear é lembrado por uma característica peculiar: por não reconhecer impressoras compartilhadas na rede, ele as tratava como pastas compartilhadas. Assim, ele enviava o código do programa para impressoras, que então imprimiam símbolos e caracteres aparentemente sem significado. Não era possível usar a impressora sem limpar o vírus das máquinas. Em uma rede, todas as impressoras poderiam começar a realizar a impressão dos estranhos códigos ao mesmo tempo. Assustador, não?
9. Blaster
O Blaster foi o primeiro vírus inconveniente a se espalhar automaticamente por computadores domésticos na internet, em 2003. Servidores já tinham sido contaminados por outras pragas e o vírus Opaserv passou despercebido por muitos ao infectar silenciosamente as máquinas com Windows ME, 98 e 95. Mas o Blaster não era nada silencioso: ser infectado pelo Blaster significava ver um aviso dizendo que o sistema seria reiniciado em 60 segundos. O computador ficava inutilizável, já que precisava ser constantemente reiniciado, e a icônica contagem regressiva foi parar (acidentalmente) até em transmissões de TV.
8. Witty
Apesar de ter o emoticon "(^.^)" em seu código, o Witty não era muito amigável. Ele se espalhou de um computador para outro em 2004 tirando proveito de falhas em softwares de segurança da Internet Security Systems, sendo até hoje o ataque de maiores proporções contra um programas de proteção. Passado um tempo e depois de algumas tentativas de contaminar outros computadores na rede, o vírus começa a intercalar as tentativas de ataque com a remoção de dados aleatórios no disco, corrompendo arquivos e programas silenciosamente.
7. CryptoLocker
O CryptoLocker trouxe a "solução definitiva" (do ponto de vista dos criminosos) para os ransomware, ou "vírus de resgate". Em vírus anteriores, a chave era gerada no computador da vítima ou era fixa. No CryptoLocker, cada sistema contaminado criptografa os arquivos com uma chave específica e a chave para decifrar é diferente da chave usava para embaralhar os arquivos. Com isso, a chave necessária para reaver os arquivos jamais tem contato com o computador e não há meio para recuperar os dados sem pagar o resgate (ou até que a polícia recupere a chave diretamente dos autores da praga).
O CryptoLocker deu origem a outros vírus do gênero, que ainda estão ativos. Um deles é o CryptoWall, que é a versão de ransomware mais comum na América Latina, segundo dados da FireEye.
6. "100% Mexicano"
Conhecido pelo nome técnico de "Windang.B", esse vírus trata documentos do Word (arquivos ".doc") como programas, infectando-os e depois renomeando os arquivos. O código do vírus abre o documento que ainda está contido no arquivo, então, se a extensão do arquivo não for verificada, tudo parece normal. O vírus continua a contaminar arquivos, mas, depois de algumas horas, substitui o conteúdo de todos os arquivos no disco com uma mensagem em espanhol:
"O vírus MlourdesHReloaded atacou este computador (...) é um vírus 100% Mexicano, não muito perigoso, mas você foi um oponente muito fraco. Adeus! (...) Feliz 2004". Foi a mensagem, que aparecia em todos os arquivos substituídos pelo vírus, que rendeu a ele o apelido de "100% mexicano".
Só um programa de recuperação de dados pode tentar resgatar os arquivos: diferente dos vírus de resgate, o vírus não dá nenhuma possibilidade de desfazer a destruição. Por ser tão destrutivo, o vírus não se espalhou muito, mas fez várias vítimas no Brasil.
5. Michelangelo (Stoned)
O vírus Stoned criado em 1987 para atacar disquetes do MS-DOS é um dos mais notórios da época e deu origem a muitas variações. O vírus não danificava nada, exceto em circunstâncias específicas nas quais o código não funcionava direto. Mas a praga foi modificada e "variações" se espalharam. A mais notória é a "Michelangelo": criado em 1991, o vírus estava programado para apagar os primeiros setores do disco, impossibilitando o uso dos dados armazenados, sempre que a data fosse 6 de março. Houve até quem sugeriu mudar o relógio do computador para que a data nunca fosse 6 de março, só por garantia.
4. Wiper / MBR Wiper
O Wiper é a versão moderna dos programas maliciosos que apagam discos rígidos. Segundo autoridades americanas, o Wiper teria destruído dados no Irã. Variações do ataque foram usadas contra a Coreia do Sul, onde diversos computadores foram inutilizados após uma onda de ataques sofisticados que conseguiram se infiltrar em bancos, empresas de comunicação e em uma usina de energia em 2013 e 2014.
3. Morris
A primeira praga a se espalhar automaticamente de um computador para outro na internet, em 1988. Leva o nome do seu criador, Robert Tappan Morris. Morris foi o primeiro a ter uma condenação pela lei de cibercrime norte-americana (o "Computer Fraud and Abuse Act", de 1986). O vírus era bastante persistente, consumindo recursos em excesso dos computadores da época, o que o tornou ainda mais prejudicial, mas também fácil de identificar. Partes inteiras da internet (que não era tão grande, na época) foram desconectadas para evitar que o vírus voltasse antes da limpeza nas redes estar concluída.
Outras pragas que causaram estrago semelhante em servidores da internet foram a Code Red, Slammer e Slapper.
2. Chernobyl
O vírus Chernobyl tem duas características curiosas para a época (1998): a de conseguir contaminar arquivos preenchendo "espaços", de maneira que um arquivo contaminado tem o mesmo tamanho de antes da contaminação, e a de apagar o chip da BIOS de alguns modelos de placas-mãe no dia 26 de abril, aniversário do acidente na usina nuclear de Chernobyl (daí o nome do vírus). O vírus também apaga o primeiro megabyte do disco rígido, o que impede o computador de ligar mesmo que a placa-mãe não tenha sido danificada. A data de ativação do vírus foi uma coincidência: a data também é o aniversário da criação do código. Quem teve o azar de possuir uma placa-mãe vulnerável ao código do vírus teve que substituir a peça ou pagar um técnico para retirar o chip e usar um hardware especial para reprogramá-lo.
1. Stuxnet
O vírus Stuxnet conseguiu se infiltrar em usinas nucleares do Irã, provavelmente por meio de pen drives USB, e alterar a operação de centrífugas até danificá-las. Enquanto isso, a praga falsificava as informações que apareciam nos terminais de monitoramento, deixando engenheiros e técnicos sem entender o que acontecia. É o primeiro vírus (e até hoje o único) que conseguiu causar danos físicos. As ações da praga vieram a público em 2010.
Imagem: Robert Tappan Morris, criador do Morris Worm (Trevor Blackwell/Creative Commons)
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