Como seria um sistema imune a pragas virtuais - e quem chega mais perto?
Se você tem alguma dúvida sobre segurança da informação (antivírus, invasões, cibercrime, roubo de dados, etc), vá até o fim da reportagem e utilize a seção de comentários. A coluna responde perguntas deixadas por leitores todas as quartas-feiras.
Sites maliciosos já são capazes há bastante tempo de explorar falhas no Windows para instalar vírus automaticamente, e agora criminosos conseguem fazer o mesmo para instalar pragas no Mac e, na semana passada, o sistema para celulares Android, baseado em Linux, também integrou a lista. Ambos os sistemas já foram tidos por alguns usuários como "imunes" a pragas virtuais – uma ideia que esta coluna sempre rejeitou. Mas como seria, afinal, um sistema imune?
Um vírus ou malware, isto é, um programa com intenções maliciosas, é como qualquer outro aplicativo. Logo, um sistema operacional que não poderia, em hipótese alguma, ser infectado por um código malicioso precisaria de duas características básicas:
- Ele não deve ser capaz de executar os referidos códigos maliciosos.
- Não deve haver nenhuma falha de segurança para burlar a restrição do item 1.
Os sistemas atuais em uso que tem uma restrição como a descrita no primeiro item são o iOS, o sistema do iPhone e do iPad, e o Windows Phone, o novo sistema para celulares da Microsoft. O iOS não executa nenhum aplicativo fora da App Store, a loja de downloads oficial da Apple, enquanto o Windows Phone só executa o que está no Marketplace. Ainda pouco utilizado, o ChromeOS, do Google, também pode vir a integrar essa lista.
Com esse funcionamento, um vírus só poderia ser distribuído depois de aprovado pelo fabricante.
O Linux também tem um recurso semelhante, mas é parcial. Embora qualquer programa possa ser instalado no computador, existe uma preferência pelo o que está no chamado repositório da distribuição. O que não estiver lá não é fácil de ser instalado ou executado, embora isso possa ser feito. Os meios mais fáceis normalmente exigem a senha de root (administrador), o que não seria interessante para um criminoso.
A nova versão do Mac OS X, a Mountain Lion (10.8), trará um recurso de segurança chamado Gatekeeper. O Gatekeeper é uma configuração que pode tornar o OS X igual ao iOS, rejeitando qualquer programa não aprovado pela Apple. Isso iria impedir a instalação de vários programas indesejados hoje em circulação para o OS X. Ou seja, é como se o usuário tivesse a opção de "imunizar" seu sistema.
Mas e quanto ao item 2? Esses recursos estão livres de falhas? Infelizmente, não. O "jailbreak" para iPhone, que está disponível para qualquer versão do aparelho, é exatamente um processo que burla as restrições impostas pela Apple, liberando a instalação de qualquer programa – inclusive vírus.
O Windows Phone também pode ser desbloqueado com algumas ferramentas.
No Linux, já houve casos de invasão nos repositórios oficiais da Red Hat. Fedora, Gentoo e Ubuntu também já sofreram ataques. No entanto, os repositórios são assinados, o que deve impedir um invasor de conseguir colocar downloads falsos para os usuários.
Um ponto importante, porém, é a dificuldade de esse procedimento ser realizado. Um vírus precisa conseguir desativar o recurso, preferencialmente sem nenhuma interferência do utilizador. No caso do iPhone, isso também já foi possível no site Jailbreakme. Não há registro, porém, de que a falha foi realmente usada para a instalação de vírus.
De qualquer forma, para alguém que mantém o sistema atualizado e com a restrição imposta pela fabricante, o maior risco é de a própria Apple ou a Microsoft ser comprometida, ou mesmo o processo de aprovação ser burlado de alguma forma (também já aconteceu em um teste inofensivo).
É claro que sempre haverá falhas nesses recursos. O que se espera é que elas sejam corrigidas imediatamente. Embora o sistema não seja imune a pragas digitais, o risco de infecção torna-se muito menor e a dificuldade enfrentada pelos criadores de vírus cresce de forma muito significativa. É por isso que há vários programas maliciosos para Android, e até para iPhone desbloqueado, mas nenhum para o iPhone bloqueado.
Esta coluna é um mero exercício de pensamento para falar como seria, hipoteticamente, um sistema imune. Na realidade, a questão é muito mais complexa, porque existem as falhas nos próprios aplicativos autorizados – que vai exigir um mecanismo de isolamento para impedir que elas comprometam outros programas, e esse mecanismo também não pode ter falhas. Existe ainda o fato de que muita gente quer um sistema livre, em que qualquer software possa ser instalado -- uma ideia que é incompatível com essa "imunidade".
O importante de se perceber é que não há nenhum sistema imune a pragas digitais. Mesmo entre aqueles onde seria mais difícil criar um vírus, a possibilidade existe, mesmo que criminosos ainda não tenham tirado proveito das falhas existentes.
O Windows ainda é o sistema mais atacado – e portanto há maiores chances de ele ser infectado. Porém, manter alguns cuidados básicos de navegação e saber que o risco sempre existe é imprescindível para não ser pego de surpresa. Afinal, o alvo mais fácil é aquele que não acredita que pode ser atacado.