O Papa Francisco pediu nesta quarta-feira (24) durante a homilia da missa celebrada em Aparecida (SP) que os pastores do povo de Deus, pais e educadores sejam responsáveis por transmitir aos jovens valores para construir “um país e um mundo mais justo, solidário e fraterno” a partir de posturas “simples”. Francisco também pediu que a juventude seja encorajada e considerada um “motor potente para a Igreja e para a sociedade”.
Leia a íntegra da homilia do Papa Francisco
A celebração foi a primeira missa pública de Francisco no Brasil e seu segundo compromisso oficial. Para o pontífice, os jovens não precisam só de coisas, mas, sobretudo “que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo”, disse Francisco, na homilia feita no Santuário Nacional.
A celebração em português na Basílica, considerada um dos maiores templos católicos do mundo, tinha expectativa de ser acompanhada por pelo menos 200 mil fiéis - a maioria assiste à cerimônia por meio de telões instalados na parte externa. Apenas 12 mil puderam entrar.
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O Papa argentino lembrou em sua fala que esteve em 2007 em Aparecida para a Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Celam), presidida pelo então Papa Bento XVI, e afirmou que o encontro foi “um grande momento de vida de Igreja”.
No discurso, o sumo pontífice manifestou sua alegria por estar em Aparecida novamente - Francisco é devoto da Virgem Maria, e lembrou que, um dia após ser eleito como líder dos católicos, dedicou seu pontificado a ela durante visita à Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. O Papa disse ainda orar à Virgem Maria pelo bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e pela vida do povo latino-americano.
'Mantenham a esperança'
Na homilia, o pontífice disse que, com suas palavras, quer bater à porta “da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um país e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar atenção para três simples posturas: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria”, disse.
Ele disse que Deus nunca deixa o povo submergir às dificuldades e está sempre ao lado daqueles que trabalham na evangelização ou de quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família. “Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!”, afirmou.
“Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança”, disse.
“Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo”, complementou.
O Papa disse ainda que Deus sempre reserva o melhor para as pessoas e que, por isso, todos devem confiar Nele. “Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele”, disse.
Além disso, citando uma frase do Papa Emérito Bento XVI dita na conferência de Aparecida, em 2007, pediu que o cristão não fosse pessimista e evitasse ter no rosto uma feição de luto constante.
“O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI: “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.
É a segunda vez que o pontífice argentino vai à cidade em uma agenda de compromissos prevista para durar sete horas – das 9h30, quando chegou ao estacionamento da basílica, às 16h30, quando vai retornar ao Rio de Janeiro. Ainda como cardeal Jorge Mário Bergoglio, o pontífice participou em 2007 de um evento da Igreja Católica na cidade, ocasião em que também presidiu uma missa na basílica.
Nossa Senhora Aparecida - GNews (Foto:
Reprodução GloboNews)
Veneração
Francisco deixou o Rio de Janeiro por volta das 8h30, em um jato da Força Aérea Brasileira. Ele seguiu até São José dos Campos, onde pegou um helicóptero que o levou até Aparecida.
Franscico foi recebido pelo cardeal Arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno de Assis, e seguiu para a Capela dos 12 Apóstolos, onde fica a imagem de Nossa Senhora Aparecida, para um momento de veneração, acompanhado de diversos religiosos. O Papa tem uma devoção mariana muito forte, e costuma visitar igrejas dedicadas à mãe de Cristo. Ele fez uma oração na qual citou a jornada, e mostrou bastante emoção.
Logo depois, ele se dirigiu para o altar da Basílica, onde foi recebido pelo cardeal Arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno de Assis. Os dois trocaram presentes e a celebração foi iniciada.
A liturgia da missa desta quarta foi a mesma da celebrada todos os dias 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida – foi decidido manter as leituras tradicionais da data. O Evangelho – uma leitura do livro de João, tratou do primeiro milagre atribuído a Jesus, a transformação de água em vinho durante um casamento em Caná da Galileia, com a presença da mãe de Cristo.
Ponto Alto
Além da missa, o momento mais esperado da visita, previsto na agenda oficial do Vaticano, é a bênção que o pontífice dará aos fiéis na Tribuna Bento XVI após a missa no Santuário, por volta do meio-dia. Durante a bênção, está previsto que junto com os fiéis o pontífice faça uma oração à Nossa Senhora Aparecida.
A bênção deve ser o ponto alto da visita porque o Papa decidiu fazer a missa dentro do Santuário, o que limita a 12 mil o número de fiéis que irão assistir a celebração dentro da basílica. A maioria dos católicos vai acompanhar a missa pelos quatro telões que serão colocados na parte externa.
Outro momento bastante aguardado pelos romeiros é o trajeto de 1,1 quilômetro de papamóvel que o Papa deve fazer entre o Santuário e o Seminário Bom Jesus, onde irá almoçar e descansar à tarde. O mesmo trajeto será feito horas depois, às 16h, quando ele irá voltar ao estacionamento da Basílica para retornar ao Rio de Janeiro, onde deve permanecer até domingo (28).