O prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), durante agenda pública na capital paulista. — Foto: Reprodução/TV Globo
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sinalizou nesta segunda-feira (16) que deve aumentar a tarifa de ônibus na capital paulista no próximo ano.
Em conversa com a GloboNews, Nunes afirmou que a equipe dele estuda um reajuste que não seja superior à inflação acumulada dos últimos quatro anos de tarifa congelada na cidade.
“Estamos vendo a possibilidade de não fazer a correção da inflação, ou não fazer a correção de toda inflação. Já estamos no quarto ano consecutivo sem correção. Aumento não terá. Pode ter parte da correção da inflação”, escreveu o prefeito.
A tarifa na cidade está congelada em R$ 4,40 desde janeiro de 2020, último ano que houve reajuste na cidade, ainda na gestão do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB).
No período, a inflação acumulada em São Paulo pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) foi de 32,77%, segundo o IBGE. Isso significa que, se a Prefeitura de São Paulo fosse elevar a tarifa para corrigir toda a inflação acumulada do período, o novo preço da passagem a partir de janeiro seria de ao menos R$ 5,84. Mas Nunes afirma que essa o reajuste não se dará dessa forma.
"O esforço que estamos fazendo é de 1° - aumento real (acima da inflação do período de 4 anos) não terá. 2° e não conseguirmos manter sem a correção da inflação, será abaixo do índice. Até o final do mês teremos os estudos para tomar a decisão", declarou o prefeito.
Pós-eleição
Prefeito reeleito de São Paulo fala sobre prioridades para o novo mandato
A intenção do prefeito de reajustar a tarifa contradiz as declarações que o prefeito deu logo depois que foi reeleito em São Paulo.
Em conversa com o Bom Dia SP, o prefeito reeleito havia declarado que não tinha a intenção de manter a tarifa congelada mais um ano, mas que "não poderia ser irresponsável" (veja vídeo acima).
“Minha ideia é manter [a tarifa em R$ 4,40], mas eu não poderia ser irresponsável sem antes olhar todos os dados, dissídios de funcionários, valor do diesel, todo o custo, para saber se a gente pode manter. Porque eu não posso tirar da saúde, da educação, da habitação. Preciso governar mantendo todas as pastas equilibradas”, declarou o prefeito.
“Em dezembro, eu sento com a minha equipe para tomar uma decisão. Se a gente consegue manter – é a minha vontade – ou se não consegue manter e explicar o motivo de não manter”, afirmou.
Desde a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), os reajustes da tarifa dos ônibus municipais e do Metrô são feitos em parceria com o governo de São Paulo, equiparando o valor da tarifa do sistema municipal com os transportes estaduais (Metrô, CPTM e trens metropolitanos privatizados), em razão do bilhete único conjunto entre todos os modais.
Só que no ano passado, em razão do ano eleitoral, Nunes optou por manter os R$ 4,40 da tarifa congelada pelo quarto ano seguido, mesmo com o aumento para R$ 5,00 promovido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nos outros modais que atendem a cidade.
Explosão dos subsídios
Passageiros esperam ônibus em ponto lotado da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O congelamento da tarifa de ônibus tem gerado uma explosão de gastos da Prefeitura de São Paulo pagos às empresas de ônibus da capital paulista.
Conforme o g1 publicou no final de novembro, neste ano de 2024 o valor dos subídios já atingiu R$ 5,6 bilhões até último mês de outubro. Em dez meses de 2024, o valor do subsídios já passou o desembolsado total do ano passado, que foi de R$ 5,3 bilhões.
Isso significa que, até o fim deste ano, o valor do subsídio gasto pela gestão Ricardo Nunes (MDB) com o sistema de transporte da cidade deve superar a barreira dos R$ 6 bilhões e ser o maior da história da cidade pelo 4° ano seguido.
Gastos com subsídios em SP / Mês a mês
Mês | Compensação Tarifária da PMSP (R$) / 2024 | Compensação Tarifária da PMSP (R$) / 2023 | Compensação Tarifária da PMSP (R$) / 2022 |
Janeiro | 745.438.885,31 | 592.193.405,90 | 380.000.000,00 |
Fevereiro | 535.090.941,17 | 412.550.444,69 | 344.147.373,11 |
Março | 425.908.565,00 | 468.024.560,19 | 350.191.689,64 |
Abril | 515.908.565,00 | 392,919,877.63 | 350.191.689,64 |
Maio | 573.149.984,49 | 495.692.600,07 | 433.333.333,00 |
Junho | 495.331.051,00 | 432,023,276.00 | 492.571.706,80 |
Julho | 591.711.420,86 | 462.065.024,37 | 459.755.897,70 |
Agosto | 590.312.134,13 | 509.535.694,04 | 472.962.075,22 |
Setembro | 568.261.633,04 | 473.776.980,48 | 474.978.950,02 |
Outubro | 599.715.266,48 | 406.000.000,00 | 447.732.762,42 |
Total | 5.640.828.446,48 | 4.644.781.863,37 | 4.205.865.477,55 |
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) anda de ônibus no primeiro domingo de gratuidade do 'Domingão Tarifa Zero' — Foto: Leon Rodrigues/SECOM/Divulgação/PMSP
Segundo dados divulgados pelo site de transparência da SPTrans, entre janeiro e outubro deste ano, o total aplicado pelo tesouro municipal no sistema municipal de transporte público da capital chegou a R$ 5,640 bilhões.
Nos mesmos dez meses do ano passado esse valor tinha sido de R$ 4,644 bilhões. Aumento de 21,4% no período, sem correção monetária.
Em todos os 12 meses do ano passado, a prefeitura desembolsou igualmente o valor de R$ 5,3 bilhões para manter o sistema funcionando na capital paulista.
Passageiros embarcam em ônibus em ponto lotado na Luz, no Centro de São Paulo. — Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, informou que mantém a tarifa congelada em R$ 4,40 há quatro anos, o maior período desde o Plano Real.
"Além disso, outras medidas importantes são viabilizadas pelo subsídio tarifário, como o programa Domingão Tarifa Zero, que já beneficiou mais de 150 milhões de pessoas, a integração gratuita entre ônibus, o desconto na integração com o sistema sobre trilhos e o embarque gratuito para 950 mil idosos, 750 mil estudantes e 300 mil pessoas com deficiência. É importante considerar ainda que os custos do sistema foram impactados pela pandemia de Covid-19, que reduziu a demanda e a arrecadação", diz a nota.
Para 2025, o Projeto de Lei Orçamentária Anual prevê R$ 6,4 bilhões para subsídio tarifário. A proposta ainda está em discussão na Câmara Municipal de São Paulo.
Subsídio pagos às empresas de ônibus
- 2025: R$ 6,4 bilhões (previsão da SPTrans)
- 2024: R$ 5,640 bilhões (até outubro)
- 2023: R$ 5,3 bilhões
- 2022: R$ 5,1 bilhões
- 2021: R$ 3,4 bilhões
- 2020: R$ 3,3 bilhões
- 2019: R$ 3,1 bilhões
- 2018: R$ 3,3 bilhões
- 2017: R$ 2,9 bilhões
- 2016: R$ 2,5 bilhões
- Fonte: SPTrans
Passageiros fazem fila para embarcar em ônibus na região da Luz, Centro de São Paulo. — Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil