Por Rodrigo Rodrigues, Eduardo Graziani, Juliana Furtado, g1 SP e TV Globo — São Paulo


O Largo da Batata, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, que teve a mudança de nome anunciada por uma marca de salgadinhos industrializados. — Foto: Montagem/g1/Reprodução

A Subprefeitura de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, assinou um contrato com a empresa Pepsico do Brasil, que fabrica salgadinhos e bebidas, para 'mudar' temporariamente o nome do tradicional Largo da Batata para "Largo da Batata Ruffles", em alusão a um dos produtos da empresa, mas voltou atrás.

Pelo documento, a que o g1 teve acesso, a PepsiCo do Brasil poderia exibir, durante 24 meses, mobiliário urbano ligado às batatas comercializadas pela multinacional pelo valor simbólico de R$ 1,1 milhão.

A mudança de nome, segundo a empresa, não seria oficial como no caso de naming rights de estádios e estações de Metrô, mas apenas autorização de trocadilho para uma ativação de marketing e uso do espaço público para a ação.

Prefeitura recua em contrato no Largo da Batata

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O termo de cessão do espaço público, feito sem licitação ou consulta pública, previa que a empresa não repassaria o valor à gestão municipal. Ele seria convertido apenas em benefícios para o largo.

Nesta sexta-feira (13), a prefeitura informou que tornou sem efeito o termo de doação com o objetivo de reanalisar os documentos e dar tempo para a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), que não havia dado autorização, se manifestar (veja mais abaixo).

Nesse caso, a PepsiCo utilizaria o espaço apenas pagando pelas melhorias, como instalação de wi-fi gratuito, bicicletário, estações de skate, assentos etc.

Pelo acordo, a companhia também poderia instalar vários novos brinquedos e equipamentos de lazer que fazem menção ao produto da Pepsico do Brasil, além de um painel 'instagramável' com a marca da batata ultraprocessada.

A polêmica sobre a negociação é que o contrato foi assinado sem as devidas licenças legais para a instalação desses equipamentos pela CPPU. Um parecer técnico da própria equipe da SubPinheiros apontava a necessidade dessas autorizações.


Entretanto, o acordo autorizava a Pepsico a iniciar as obras de melhoria no dia 6 de dezembro.

Sem as autorizações urbanísticas, Pepsico Brasil já havia anunciado uma festa para a troca de nome do 'Largo da Batata', em Pinheiros. — Foto: Reprodução

A empresa já tinha distribuído, inclusive, release para a imprensa anunciando o lançamento do "Largo da Batata Ruffles" para o próximo domingo, 15 de dezembro, com shows e outras atrações.

Banners anunciando a novidade também foram colocados nas estações da Linha 4 - Amarela, que dão acesso ao Largo principal do bairro de Pinheiros.

Sem autorização

Sem a autorização da CPPU, nenhum mobiliário urbano que faça alusão a marcas pode ser colocado nas vias públicas fora dos parâmetros estipulados pela lei.

O órgão da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) determina se esse tipo de propaganda de produto fere ou não a Lei Cidade Limpa e, portanto, pode ser ou não instalado na cidade.

Pepsico Brasil chegou a divulgar a ação que mudaria o nome do largo, mas projeto foi barrado pela prefeitura após repercussão. — Foto: Reprodução

O que diz a Prefeitura de SP

Por meio de nota enviada à TV Globo nesta quinta-feira (12), a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) havia informado inicialmente que o projeto já “está sendo analisado pela Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU)”.

“Reforçamos que não há até o momento qualquer definição por esta Comissão a respeito de tal intervenção. A Prefeitura ressalta que, até o momento, o que existe é uma parceria com a empresa apenas para manutenção do espaço.”

Já nesta sexta-feira (13), uma nova nota foi publicada afirmando que a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) tornou o contrato sem efeito.

"A Prefeitura de São Paulo informa que todos os requisitos no processo de adoção da praça no Largo da Batata, que prevê serviços de zeladoria e a doação para o município de equipamentos como mobiliário urbano e horta, respeitaram a legislação em vigor que não exige licitação. A decisão de tornar o termo assinado sem efeito nesta quinta-feira foi necessária para que a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) se manifeste a respeito da proposta de comunicação visual do parceiro para o espaço".

Contrato assinado entre a Pepsico Brasil e a Subprefeitura de Pinheiros sobre o Largo da Batata. — Foto: Reprodução/TV Globo

O que diz a Pepsico Brasil

A PepsiCo também se manifestou por nota e esclareceu que a ação de marketing na Subprefeitura de Pinheiros faz parte de um "projeto de revitalização do Largo da Batata prevê melhorias e benfeitorias para o espaço público, como revitalização dos canteiros, mobiliário e jardins".

"Trata-se de um termo de cooperação e doação, sem necessidade de licitação ou consulta pública, que cumpriu todos os trâmites legais e que não incorreu em nenhuma irregularidade. A companhia reitera que seguiu todas as diretrizes do processo administrativo com a SubPrefeitura de Pinheiros e que a iniciativa não contempla a mudança do nome do Largo da Batata (naming rights). A PepsiCo aguarda a avaliação dos demais órgãos competentes ligados à Prefeitura para definir a continuidade da açãoA PepsiCo afirmou também que 'cumpre e respeitará toda e qualquer decisão dos órgãos públicos' e que a empresa assinou o termo de cessão com a Prefeitura de SP no dia 10 de dezembro", afirmou.

O Largo da Batata, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, que pode mudar de nome. — Foto: RONALDO SILVA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O que diz a oposição

O vereador eleito pelo PT, Nabil Bonduki, que é urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), foi o primeiro a revelar o contrato nas redes sociais e disse que é preciso que as autoridades de fiscalização investiguem o acordo.

“A cessão se baseia em um decreto de 2018 de João Doria, que não é aplicável ao uso de espaços públicos. Mesmo assim, o processo avançou na Subprefeitura de Pinheiros sem análise da CPPU, órgão que deveria avaliar a exposição de marcas”, disse.

“É preciso investigar a Subprefeitura de Pinheiros e impedir que o patrimônio público seja tratado como moeda de troca para interesses privados. O acordo carece de transparência e legalidade. Exigimos a reversão imediata dessa decisão”, afirmou.

E emendou: “O Largo da Batata já foi palco de ativações promovidas pela gestão Haddad, mas agora está abandonado. Parcerias são importantes, mas a cessão com condições tão desfavoráveis para o interesse público é injustificável”.

Caso do Touro de Ouro

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Após a denúncia da reportagem, a comissão votou pela retirada do touro na frente da Bolsa de Valores de SP (B3), aplicando uma multa de R$ 38 mil pela instalação sem licença, só através de acordo firmado com a Subprefeitura da Sé.

Segundo o colegiado, a instalação sem a devida licença infringiu os artigos 39 e 40 da Lei Cidade Limpa.

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