PM pisa na cabeça de motorista de aplicativo durante abordagem em SP
Um vídeo registrou o momento em que um policial militar pisou na cabeça de um motorista de aplicativo, na noite do último domingo (8), durante abordagem no bairro Campo Grande, na Zona Sul de São Paulo.
O homem de 25 anos foi preso em flagrante por embriaguez no volante, resistência e injúria racial.
Segundo o boletim de ocorrência, ao qual a TV Globo teve acesso, a confusão começou na Avenida Engenheiro Alberto de Zagottis. O motorista, que dirigia um T-Cross, ultrapassou uma viatura ocupada por dois policiais e avançou o semáforo vermelho.
Os PMs deram ordem de parada que não foi obedecida pelo condutor, dando início a uma perseguição até a Rua Jurumirim. No endereço, ambos desembarcaram dos veículos.
Parte da abordagem foi gravada por uma testemunha. Pelas imagens, o motorista foi imobilizado no chão por um agente, enquanto o outro pisou em sua cabeça. Duas mulheres também se aproximaram dos PMs, tentando impedir a ação truculenta.
No vídeo, uma mulher gritou: "solta ele, ele mora aqui". Enquanto a outra disse desesperada: "moço, não pode fazer isso. Isso é abuso de autoridade".
Em resposta, o policial ordenou que elas se afastassem e chegou a apontar a arma para uma das mulheres.
Em depoimento, os PMs contaram que o homem resistiu a prisão, dando um tapa na mão de um dos agentes e mordendo a axila esquerda. Para imobilizá-lo, "foi necessário golpes contundentes para quebrar a resistência e algemá-lo".
Segundo o boletim de ocorrência, o motorista ainda teria xingado um dos agentes ao ser colocado na viatura: "você é um bosta, macaco". Ele foi preso e levado para o 98º Distrito Policial do Jardim Miriam.
Ao ser submetido ao teste do bafômetro na delegacia, também foi constatado que ele estava embriagado, sendo o resultado de 0,55 mg/l.
Vale destacar que o resultado do teste do bafômetro não deve ultrapassar 0,04 mg/l. Entre 0,05 mg/l e 0,33mg/l é uma infração gravíssima e igual ou acima de 0,34 mg/l é crime de trânsito.
Posteriormente, o policial que foi mordido e o motorista foram encaminhados à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pedreira.
Interrogado na delegacia acompanhado do advogado, o homem permaneceu em silêncio.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que "a Polícia Militar não compactua com desvio de conduta de seus agentes e investiga o caso por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). As imagens serão analisadas e todas as circunstâncias dos fatos investigadas".
PM pisa na cabeça de motorista durante abordagem na Zona Sul de SP — Foto: Reprodução
LEIA TAMBÉM:
- Em novo pedido ao STF sobre câmeras corporais em PMs, Defensoria Pública revela pesquisa sobre dificuldade de se obter gravação de abordagens em SP
- Tarcísio diz que teve 'visão equivocada' sobre uso de câmeras corporais em policiais; relembre posicionamentos anteriores do governador de SP
- OAB critica criação de ouvidoria das polícias paralela escolhida por Derrite e deputada entra com representação
Escalada de violência policial
Quarenta e cinco policiais militares foram afastados de suas funções e dois foram presos por envolvimento em casos relacionados a abuso de autoridade e letalidade policial nos últimos 30 dias no estado de São Paulo. Os episódios ganharam repercussão por terem sido flagrados por câmeras de segurança ou celulares.
Dentre os casos, um PM foi preso preventivamente por executar pelas costas um jovem negro no estacionamento do mercado Oxxo, no Jardim Prudência, na Zona Sul de São Paulo.
Os casos reacenderam a discussão sobre o uso de câmeras nas fardas dos PMs. Desde a campanha eleitoral em 2022, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) fez reiteradas críticas às câmeras corporais e defendeu que o seu uso fosse reavaliado. Ele questionou a sua eficácia e chegou a dizer que não estava preocupado com as mortes causadas por PMs e, sim, com a "letalidade dos bandidos".
No entanto, pressionado agora pela crise na segurança pública, Tarcísio mudou o discurso e admitiu que "tinha uma visão equivocada" sobre o uso do equipamento na farda.
Ele disse estar "completamente convencido de que [câmera nos uniformes] é um instrumento de proteção da sociedade e do policial". Ele acrescentou que não apenas vai manter o programa de inclusão dos equipamentos na farda como o ampliará. Apesar disso, afirmou que não vai mudar o comando da Secretaria da Segurança.