Por Deslange Paiva, Arthur Stabile, g1 SP — São Paulo


Defesa acusa PMs de adulterar placa de veículo para prender homem em flagrante em SP

Defesa acusa PMs de adulterar placa de veículo para prender homem em flagrante em SP

Câmeras de segurança registraram o momento em que um policial militar se abaixa em frente a um carro em Atibaia, no interior de São Paulo, no dia 9 de outubro, e passa a mão na placa do veículo.

Na sequência, um homem é preso em flagrante por adulteração da placa de veículo e argumenta que a prova foi forjara por policiais militares.

A gravação do PM encostando na placa do carro foi feita às 21h09. Antes, às 19h59, o carro foi flagrado por uma câmera de radar da Rodovia Fernão Dias, com a placa com a numeração correta.

Vídeo mostra PM se abaixando na frente da placa. — Foto: Reprodução

Imagem do radar da Avenida Fernão Dias. — Foto: Reprodução

Veja a sequência da gravação feita por câmera de segurança de casas próximas:

  • 20h18 - o homem estaciona o carro e sai do carro com duas mulheres e um outro rapaz.
  • 20h24 - uma base policial estaciona no local
  • 20h30 - o homem volta para o carro e é abordado por dois agentes
  • 20h52 - os agentes pegam uma lanterna e observam o carro
  • 21h05 - três policiais conversam em frente ao veículo, dois entram no carro e o terceiro segue do lado de fora
  • 21h0h6 - eles saem do veículo e entram na base policial; um dos agentes pega um objeto e mostra ao colega, que sai da base militar e vai em direção ao veículo
  • 21h08 - O PM que permaneceu na base, deixa o local; o homem suspeito aparece algemado
  • 21h09 - O PM encosta na placa do veículo
  • 21h10 - PM retorna para base e os agentes deixam o local

Os agentes alegaram ter recebido um chamado sobre um veículo com placa TCI-9C61 por volta das 20h. No entanto, apreenderam um carro com placa adulterada para TOI-9C61, utilizando fita isolante para alterar a letra "C" para "O".

O boletim de ocorrência foi registrado como adulteração de sinal identificador de veículo automotor e estelionato.

O homem possui passagens pela polícia por estelionato, mas ele cumpriu pena e no momento do suposto flagrante não tinha nenhum mandado de prisão expedido contra ele, segundo a defesa. Ele também não poderia ser preso pelo estelionato, pois não havia vítimas para denunciar o crime que levasse a prisão em flagrante, por isso foi alegada a adulteração, ainda segundo o advogado.

"Um crime não justifica o outro. Nosso cliente deve responder conforme sua culpabilidade, com respeito à ampla defesa e ao contraditório. Ele nega veementemente a adulteração. Tivemos acesso a imagens mostrando o policial manuseando a placa e imagens da câmera de monitoramento indicando que, momentos antes, não havia adulteração. Acreditamos na Justiça e que ela seja justa", afirma Reinalds Klemps, advogado do réu.

Reinalds argumenta também que não houve denuncia de vítima pelo crime de estelionato, e por isso, foi feita a adulteração na placa, para que o réu permanecesse preso. O homem é morador da capital, mas foi preso em Atibaia.

A Secretaria da Segurança informou, por meio de nota, que analisa as imagens e denúncias apontadas pela reportagem. A pasta disse que foram encontradas tesoura e fita isolante no carro do suspeito.

"A instituição reafirma seu compromisso com a legalidade e reforça que não tolera desvios de conduta", diz.

"Na ocasião, o homem mencionado pela reportagem foi preso em flagrante por suspeita de estelionato e adulteração de sinal identificador de veículo. Durante a abordagem, foram encontrados em seu carro, que estava com placas dianteira e traseira adulteradas, uma tesoura, fita isolante e um dispositivo usado para bloquear sinais de GPS. A investigação foi realizada pelo 2° Distrito Policial de Atibaia, que concluiu o inquérito policial e o encaminhou ao Poder Judiciário em 14 de outubro deste ano", diz a nota.

Nesta sexta-feira (6), após sucessivos casos de violência policial, o governador Tarcísio de Freitas Republicanos) afirmou que se arrepende da "postura reativa" que teve sobre o uso das câmeras corporais em policiais, que podem coibir casos de violência ou ajudar a investigá-los.

Em 2022, antes mesmo de ser eleito governador, Tarcísio já criticava o uso de câmeras corporais em policiais.

"Eu particularmente me arrependo muito da postura reativa que eu tive lá atrás. Uma postura que partiu da percepção que aquilo poderia tirar a segurança jurídica do agente ou mesmo causar excitação no momento em que ele precisava atuar. Hoje eu percebo que estava enganado, que ela [a câmera corporal] ajuda o agente", afirmou.

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