Por Victor Ferreira, GloboNews e g1 SP — São Paulo


  • Soldado Luan Felipe Alves Pereira foi preso após jogar um entregador de uma ponte na Zona Sul de São Paulo, no último domingo (1°).

  • O caso aconteceu na Vila Clara, região de Cidade Ademar, durante a dispersão de um baile funk.

  • A vítima se chama Marcelo, tem 25 anos e é entregador. Ele caiu de cabeça de uma altura de três metros, teve ferimentos, mas passa bem.

  • O soldado que arremessou o entregador já foi indiciado por homicídio após um homem ser morto com 12 tiros em 2023. O caso foi arquivado.

PM que arremessou jovem de ponte em SP é preso

PM que arremessou jovem de ponte em SP é preso

O policial Luan Felipe Alves Pereira, apontado como o responsável por arremessar um homem de uma ponte na Zona Sul de São Paulo, no último domingo (1°), trabalhava também como segurança do colégio particular Ábaco, que fica na região de Perdizes, na Zona Oeste.

Em nota, o Ábaco disse que recebeu com "profunda indignação" as imagens do policial militar em atuação. E que ele era funcionário de uma empresa terceirizada que prestava serviços para o colégio.

"Informamos que de maneira imediata encerramos os serviços. Adicionalmente, colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários. Reiteramos nosso repúdio absoluto a qualquer ato de violência e destacamos que os valores de ética, respeito e justiça são pilares fundamentais em nossa instituição", afirmou a direção em nota.

Segundo informações obtidas pela GloboNews, outros policiais também fazem bico de segurança na escola. Além disso, eles atuam armados.

A Justiça Militar decretou nesta quinta (5) a prisão do soldado. Ele já estava detido na Corregedoria da Polícia Militar, e prestou depoimento sobre a sua conduta. Segundo informações do inquérito militar, ele disse que pretendia jogar o homem no chão. As imagens gravadas por uma testemunha mostram o momento em que ele ergue e atira o homem da ponte (veja mais abaixo).

Com a prisão decretada, Luan Felipe será encaminhado para o Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte de São Paulo. Em audiência de custódia ocorrida na tarde desta quinta, a defesa do soldado pediu a revogação da prisão preventiva, com a adoção de medidas cautelares, mas a solicitação foi negada.

O inquérito aponta os possíveis crimes de lesão corporal e violência arbitrária, previstos no Código Penal Militar. A TV Globo e a GloboNews tentam contato com a defesa do PM.

Também nesta quinta, com a repercussão deste e de outros casos recentes de violência policial em SP, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) admitiu que "alguma coisa não está funcionando" e passou a defender o uso de câmeras corporais nas fardas dos policiais militares.

Segundo ele, esta é uma medida que protege os cidadãos e os policiais. O governador afirmou que vai ampliar o programa de câmeras.

"Eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão. Tinha visão equivocada, fruto da experiência pretérita que tive. Não tem nada a ver com a questão da segurança pública. Hoje estou completamente convencido de que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial. E nós vamos não apenas manter, mas ampliar o programa. E tentar trazer o que tem de melhor em termos de tecnologia."

Tarcísio afirmou que os abusos da polícia não serão tolerados. "O discurso de segurança jurídica que a gente precisa dar para os agentes de segurança combaterem o crime de forma firme não pode ser confundido com salvo-conduto para fazer qualquer coisa e descumprir regra. Isso a gente não vai tolerar."

A Secretaria de Segurança Pública disse que a PM não compactua com desvios de conduta e que qualquer ocorrência envolvendo excessos será investigada.

Relembre o caso

PM joga homem de ponte após abordagem em SP

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O caso do homem atirado da ponte aconteceu na Vila Clara, região de Cidade Ademar, durante a dispersão de um baile funk. O soldado foi filmado lançando da ponte o homem já contido e sem resistência aparente.

A vítima se chama Marcelo, tem 25 anos e é entregador. Ele caiu de cabeça de uma altura de três metros, teve ferimentos, mas passa bem. Marcelo recebeu ajuda de pessoas que moram na região.

O pai dele falou ao Jornal Nacional, criticou a conduta do PM e cobrou explicações das autoridades.

"É inadmissível, não existe isso aí. A polícia está aí para fazer a defesa da população, não fazer o que fez. Trabalhador, menino que sempre correu atrás do que é dele. Não tem envolvimento, passagem [pela polícia], não tem nada. Queria a explicação desse policial e o porquê ele fez isso", afirmou.

A Corregedoria da PM determinou o afastamento de 13 policiais que participaram da operação na Vila Clara. O Ministério Público abriu uma investigação.

Na quarta (4), quando foi questionado sobre a gestão de seu secretário de Segurança Pública, Tarcísio de Freitas defendeu Guilherme Derrite: "Olha os números que você vai ver que está [fazendo um bom trabalho]", disse o governador. Diante da insistência dos jornalistas, repetiu: "Olha as estatísticas". Tarcísio não explicou, porém, quais seriam esses dados.

O secretário da Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite (PL), atrás do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). — Foto: Rogério Cassimiro/Secom/GESP

Histórico do PM

O soldado da Polícia Militar que arremessou o entregador já foi indiciado por homicídio por matar um homem com 12 tiros em Diadema, na Grande São Paulo, no ano passado.

Segundo a TV Globo apurou, o caso foi arquivado em janeiro porque o Ministério Público entendeu que houve legítima defesa. O juiz, então, aceitou o pedido.

Luan trabalha na Rondas Ostensivas com Apoio de Moto (Rocam), no 24º Batalhão de Polícia de Diadema.

Pedido de prisão

O pedido de prisão de Luan tem seis páginas e foi assinado pelo capitão Manoel Flavio de Carvalho Barros, encarregado do inquérito. No documento, o oficial narra o início da ocorrência, com a perseguição a motociclistas. Em seguida, destaca cinco fotos feitas a partir de câmeras de segurança, que mostram a parte final da ação, quando o homem é jogado da ponte.

O encarregado do inquérito diz que, ao ser questionado sobre a cena, o soldado se reconhece e diz que “a projeção seria realizada ao solo”, ou seja, que o objetivo era jogar o homem no chão.

No parágrafo seguinte, o responsável pelo inquérito se dirige diretamente ao juiz: “Excelência, não há como acolher as declarações apresentadas pelo investigado, pois as imagens largamente difundidas e materializadas no presente feito demonstram conduta errante e inaceitável a quem deveria proteger a integridade de outrem e fazer cumprir a lei”.

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