Washington Olivetto, ícone da publicidade brasileira, morre aos 73 anos
Gênio da publicidade e do marketing no Brasil, Washington Olivetto morreu em decorrência de uma pneumonia aos 73 anos no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro. Ele sempre foi assediado por políticos e partidos para assumir campanhas eleitorais, mas nunca aceitou os convites.
Repetiu várias vezes que campanha política no país era “um dinheiro muito bom de não ganhar”.
“Eu nunca fiz campanha política no Brasil e costumo dizer que esse foi um dinheiro muito bom de não ganhar. Nunca trabalhei para candidatos nem para empresas do governo que admiro, como a Petrobras, por exemplo. Por coerência. Acho que o grande problema do Brasil é melhorar o produto. Não adianta fazer uma campanha para um produto que está torto. A pior coisa que um mau produto pode ter é boa propaganda. Porque todo mundo vai descobrir”, disse ele em 2018 em entrevista à JovemPan.
“Sempre preferi a iniciativa privada, trabalhar para produtos que o consumidor possa devolver se não gostar”, disse ele na TV Cultura em 2015. “Propaganda política deveria ser muito mais informação e muito menos persuasão", declarou ele em 2016.
Washington Olivetto, publicitário — Foto: Divulgação
Na visão de Olivetto, os problemas políticos vividos pelo Brasil se davam justamente pelos anos de falta de investimentos em Educação, que gerava, inclusive, os maus políticos.
“O Brasil está colhendo atualmente os muitos anos de falta de investimento em Educação. Tudo o que nós temos de problema está atrelado ao problema da Educação. A violência, a distribuição de renda”, declarou.
Em 2018, no programa Conversa com Bial, da TV Globo, Olivetto explicou os motivos de nunca ter aderido a esse tipo de publicidade, tão forte no Brasil.
“Quando comecei a trabalhar, o Brasil vivia uma ditadura política. Era a época do ‘Brasil, ame ou deixe-o’, ‘Eu te amo meu Brasil’. E eu não queria fazer esse tipo de coisa. No início eu era empregado de uma agência onde os donos eram profissionais magníficos, que respeitaram essa minha vontade. (...) Com o passar do tempo isso até virou um diferencial meu. Garanto a você que nunca fiz, nunca farei e, se tivesse feito, faria mal. Porque eu preciso tanto da decisão profissional, que é da iniciativa privada, que eu não saberia trabalhar com a decisão política”, declarou (veja vídeo abaixo).
Washington Olivetto afirma que não saberia fazer propaganda política com qualidade
Apoio a candidatos
Morando em Londres com a família desde 2017, Washington Olivetto só declarou voto em candidatos publicamente em 2022, no primeiro turno da eleição presidencial.
Ao postar uma foto de um prato de lula com chuchu nas redes sociais, disse que era urgente para o Brasil e o mundo tirar Bolsonaro do poder.
“Como tirar gente como Bolsonaro do poder é urgente para o Brasil e para o mundo, eu, que seria eleitor do Ciro Gomes, vou votar no Lula, que é o único candidato que tem condições de derrotar o Bolsonaro imediatamente”, disse ele ao colunista Ancelmo Gois, do jornal "O Globo".
Washington Olivetto declara voto em Lula e Geraldo Alckmin na eleição de 2022, contra Bolsonaro. — Foto: Reprodução/Instagram
Políticos como garotos-propaganda
Apesar da ojeriza com o mundo político, Olivetto foi inovador ao transformar políticos conhecidos do Brasil em garotos-propaganda de seus produtos.
Em 1989, ele levou o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf, a participar da propaganda da Vulcabrás.
Na propaganda, Maluf falava: “Numa campanha eleitoral, dizem que a gente gasta muita sola do sapato, por isso que eu uso o 752 Vulcabrás”.
Maluf e Brizolla estrelam propaganda do sapato brasileiro 752, da Vulcabras. — Foto: Reprodução/Youtube/TV Globo
“Já diz a sabedoria popular: 752 Vulcabrás, há muitos anos eleito e reeleito pelo povo.”
A mesma campanha trouxe Leonel Brizola, que naquele ano havia antagonizado os debates presidenciais da TV justamente com Paulo Maluf, em cenas que até hoje são lembradas.
“Modernidade é o fruto das nossas próprias experiências, de muito trabalho e de elevação dos nossos conhecimentos. É o caso da Vulcabrás e do seu 752. Sapato brasileiro, de qualidade para o Mercosul e para o mundo. Internacionalização, sim. Mas pisando firme”, dizia Brizola no comercial.
No programa de Pedro Bial, Olivetto justificou o convite para Brizola dizendo que “tinha feito a propaganda com o pé direito [Maluf] e tinha que fazer também com o pé esquerdo [Brizola]”.
Propagandas marcantes de Washington Olivetto: Homem de 40 anos