Presidente da Enel SP, Max Xavier Lins, durante coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (8), na Zona Sul de SP. — Foto: Rodrigo Rodrigues/g1
O presidente da Enel Distribuidora SP, Max Xavier Lins, pediu desculpas à população, que desde sexta-feira (3) enfrenta problemas de abastecimento de energia na Grande São Paulo.
A empresa havia estipulado até terça (7) à noite para restabelecer 100% da energia nas áreas afetadas pelo temporal da semana passada. Passado o prazo, ainda há pelo menos 11 mil imóveis na capital e na Grande SP sem o serviço.
Em entrevista coletiva na sede da empresa, na Zona Sul da capital, o executivo afirmou que “sente a dor” de quem está mais de 100 horas sem luz e afirmou que a empresa "está trabalhando para que tudo seja normalizado" ainda nesta quarta-feira (8).
“Desde a minha 1ª entrevista, na segunda-feira, no Palácio dos Bandeirantes, fiz questão de me solidarizar com a população que está sem energia, com toda a sociedade. Não só o consumidor, o cliente, dependem da energia. (...) Estamos, sim, sentindo a dor [das pessoas sem energia], estamos solidários, estamos trabalhando e pedimos desculpas por isso”, afirmou.
Equipe da Enel trabalhando no restabelecimento de energia em SP nesta terça-feira (7) — Foto: MARCO AMBROSIO/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Max Xavier afirmou que, a pedido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), as cinco distribuidoras de energia do estado estão estudando em conjunto, coordenadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), um plano excepcional de ressarcimento das pessoas atingidas pela crise elétrica atual.
O plano, segundo o presidente da Enel, deve ser apresentado em até 30 dias e focar, especialmente, nas famílias de baixa renda que tiveram prejuízos com a falta de energia nos 24 municípios atendidos pela empresa na Grande SP.
"Foi feito um apelo pelo governador para que se estudasse uma forma, em caráter excepcionalíssimo, de verificar a possibilidade de abranger isso [perdas da população] um pouco mais, sobretudo para aquelas populações de menor renda. Então, as cinco distribuidoras, sob coordenação da Aneel, vão debater para, em 30 dias, trazer aí o que é possível”, disse.
O presidente da Enel afirmou que as distribuidoras de energia elétrica são regulamentadas pelo governo federal e que, “qualquer procedimento precisa emanar das regras” da agência de energia.
“Já existem três dispositivos para ressarcimento de danos, regulados pela Aneel, através da resolução 1.000. Um deles é voltado para ressarcimento de danos elétricos a equipamentos eletroeletrônicos. Ou seja, uma geladeira queimou, um forno de micro-ondas que queimou. Isso é do curso normal, a empresa tem que agir. Agora, qualquer outra resolução, seja em caráter ordinário, seja em caráter excepcional, precisa sair do comando regulatório, para que a gente possa dar vazão”, declarou.
O executivo da Enel defende ainda que a empresa já está reforçando os canais de atendimento para atender as pessoas que já quiserem procurar a companhia para pedir ressarcimento.
“Qualquer cliente que tenha algum elemento que tenha sido danificado, ele entra com a solicitação. Nós estamos, inclusive, nossa área comercial, está agilizando esses canais, dada a excepcionalidade da situação. Até buscando antecipar prazos de recepção dessas demandas, para que a gente possa agilizar [o ressarcimento]”, declarou.
Caminhão da Enel em rua sem energia em SP — Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
11 mil ainda sem energia
Segundo o boletim da Enel das 10h da manhã, ao menos 11 mil imóveis da Grande São Paulo ainda estão sem energia desde o temporal de sexta-feira (3).
Desse montante, 4,6 mil são da capital, 3 mil de Embu das Artes e outros 3 mil da cidade de Cotia. O número representa 0,5% dos 2,1 milhões afetados.
Mais cedo, durante entrevista ao Bom Dia SP, Max afirmou que eram 14 mil clientes sem luz por conta do temporal. O número foi atualizado horas depois durante coletiva de imprensa na sede da Enel, na Zona Sul da capital.
Ainda de acordo com o presidente, além dos clientes afetados há mais de cinco dias, outros 56 mil estão sem energia por conta de ocorrências mais recentes.
O presidente da concessionária espera conseguir terminar os trabalhos até o final do dia.
"É impossível você prever uma restauração de uma rede", diz presidente da Enel
A empresa tinha prometido reestabelecer a energia aos clientes até a noite de terça (7). Em entrevista à GloboNews na terça, Max chegou a afirmar que era "impossível" prever uma nova data.
"Evidentemente, é impossível você prever uma restauração de uma rede, onde derrubou-se postes, transformador, cabo", disse.
Em nota, a companhia disse que está atuando com mais de 3 mil técnicos nas ruas e que têm trabalhado para reconstruir trechos inteiros da rede elétrica, garantindo a energia para todos.
Caminhões parados
A reportagem da TV Globo flagrou diversos caminhões da Enel parados nos pátios da empresa nos últimos dias.
Durante a entrevista ao Bom Dia SP, o presidente da concessionária criticou a exibição das imagens e disse elas mostram um retrato "equivocado" do trabalho realizado.
"Você tem turnos, você trabalha por turnos. Então você volta em bloco, e depois você sai em bloco. É um desserviço", alegou.
Caminhões da Enel parados em pátio da empresa na manhã desta terça — Foto: Reprodução/TV Globo
Sem nota
Durante a entrevista ao Bom Dia SP, o presidente da Enel foi questionado qual nota daria para o serviço prestado pela Enel após inúmeras e constantes reclamações de consumidores.
O problema é anterior ao ocorrido desde a última sexta. Segundo dados da Aneel, a Agência Nacional de Energia Elétrica, o tempo médio de espera dos consumidores para que a Enel SP atenda ocorrências emergenciais relacionadas à energia elétrica mais que dobrou nos últimos cinco anos.
Na avaliação de Max, a empresa não pode ser classificada após um evento climático atípico - no caso, o vento.
"Tentar usar um episódio específico de grande magnitude climática e de grande impacto sobre a rede para fazer uma avaliação, não é adequado. Acho que a gente tem que olhar o filme inteiro."
De zero a dez, qual a nota que você dá?
"A nota é dada por pesquisas anuais de satisfação. Eu me permito isentar desta pergunta".
Protesto
Na noite desta terça (7), moradores de regiões afetadas pela falta de luz chegaram a bloquear rodovias e avenidas de São Paulo para protestar.
Protesto contra a falta de energia em SP — Foto: Reprodução/TV Globo
Cobranças e investigação
A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (8) que a Procuradoria Geral do Município de São Paulo entrará com ação civil pública contra a Enel.
Na segunda-feira (6), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) se reuniu com o governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) para cobrar explicações sobre os problemas no fornecimento de energia.
Árvore caída em meio a fios após tempestade que atingiu São Paulo — Foto: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) vai abrir uma investigação para apurar se houve omissão da concessionária Enel no restabelecimento de energia para os consumidores da Região Metropolitana de São Paulo.
A Defensoria Pública de São Paulo também enviou um ofício à Enel pedindo esclarecimentos sobre interrupção de energia elétrica na capital.
Mortes
Das oito pessoas que morreram em decorrência das fortes chuvas, cinco foram atingidas por queda de árvores.
Especialistas ouvidos pelo g1 apontam uma série de problemas de responsabilidade da gestão municipal: falta de manutenção, planejamento, além de árvores plantadas de forma irregular e podas malfeitas.