Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, durante agenda em São Bernardo do Campo nesta sexta-feira (2) — Foto: TV Globo
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta sexta-feira (2) que “aqui não tem marinheiro de primeira viagem”, ao ser questionado sobre a articulação política do governo.
“Mar tranquilo não faz bom marinheiro, nós sempre ouvimos todos os posicionamentos dos presidentes das Casas, dos parlamentares, com muita humildade a gente sempre tenta ouvir a base a a oposição", disse o ministro ao ser questionado sobre a insatisfação generalizada no Congresso. Padilha concedeu entrevista coletiva após evento no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. O presidente Lula também esteve presente ao evento.
Segundo Padilha, o governo “sempre” vai trabalhar para melhorar a articulação. “O que não muda é a disposição do diálogo para discutir com a base e a oposição a aprovação dos projetos prioritários. Esse é um governo que não cria conflitos, não cria guerra desnecessária, como era feito no governo anterior, e vai manter essa relação de muito respeito com o Congresso Nacional.”
E emendou: “o presidente Lula privilegia a democracia e está sempre aberto a ouvir e interagir".
O ministro disse também que as críticas e demandas serão ouvidas “com muita humildade”, e que “o governo vai continuar montando o governo, montando a base política".
Lula participa da Inauguração do Edifício do Laboratório da UFABC, em São Bernardo do Campo, SP, nesta sexta feira (2) — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
'Conversar com quem não gosta'
Mais cedo, após uma série de derrotas no Congresso, o presidente Lula pediu nesta sexta-feira (2) compreensão a apoiadores sobre as negociações do governo com o Legislativo. O petista disse que, para governar, um presidente precisa "conversar com quem não gosta" dele.
Lula deu as declarações durante evento de inauguração de instalações na Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo (SP).
O petista afirmou que não conseguirá "recuperar o país" sozinho e que é importante que os apoiadores saibam qual é a "correlação de forças no Congresso Nacional".
"A esquerda toda tem, no máximo, 136 votos [de deputados]. Isso se ninguém faltar. Ou seja, nós, para votarmos uma coisa simples, precisamos de 257 votos. Então, de 136, façam a conta aí e vejam quantos faltam. E, para aprovar uma emenda constitucional, é maior ainda o número de deputados que nós precisamos", disse.
"Então, é preciso que vocês saibam o esforço que é para governar. É importante que vocês saibam que não é só ganhar uma eleição. Você ganha uma eleição e, depois, você precisa passar o tempo inteiro conversando para ver se você consegue aprovar alguma coisa. Ontem [quinta-feira], a gente corria o risco de não ter aprovado o sistema de organização do governo. E aí, você não tem que procurar amigo. Você tem que conversar com quem não gosta da gente. Você tem que conversar com quem não votou na gente", completou Lula.
Nas últimas semanas, o Congresso tem imposto derrotas ao governo. Na votação da medida provisória da reorganização dos ministérios de Lula, por exemplo, as pastas de Meio Ambiente e Povos Indígenas perderam atribuições. O texto foi aprovado somente no último dia do prazo.
A demora na análise da MP e as mudanças feitas pelo Congresso no texto revelaram a insatisfação de parlamentares com a articulação política do governo Lula.
Propostas criticadas pelo governo, como a que limita a demarcação de terras indígenas e a que facilita o desmatamento da Mata Atlântica, também avançaram no Legislativo.
Taxa de juros
No evento, o petista também voltou a criticar a alta taxa de juros no país, atualmente em 13,75% ao ano. A Selic é fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
A crítica foi feita quando Lula defendia investimentos em educação. O petista disse que "gasto" é "pagar 13,75% de juros para o sistema financeiro".
O patamar da Selic tem sido motivo de embates entre Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, desde o início do governo.
Para o petista, há condições para a redução da taxa de juros, que, na avaliação de Lula, atrapalha o crescimento econômico.
Já Roberto Campos Neto, que foi indicado para o BC por Jair Bolsonaro (PL), tem dito que a instituição atua de forma técnica, e que considera a inflação quando fixa a Selic. O Banco Central é um órgão autônomo desde 2021.