Candidatos da Fuvest fazem a prova da primeira fase do vestibular da USP — Foto: Gian Dias/TV Globo
O tema da redação da Fuvest 2025 foi "as relações sociais por meio da solidariedade", segundo a organização. O tema tinha seis textos de apoio para os inscritos, entre eles um fragmento de Quincas Borba, de Machado de Assis, e um trecho da declaração do G20, encontro entre líderes mundiais que ocorreu no Rio de Janeiro em novembro.
Havia também trecho de versos do cantor Cazuza, texto do filósofo Edgar Morin e excertos de Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, e Água Funda, de Ruth Guimarães.
Segundo Mateus Leme, professor de redação do colégio e curso pré-vestibular Oficina do Estudante, o tema segue a tendência da Fuvest de abordar temas de cunho filosófico. "A gente pode perceber que não existe a palavra Brasil na frase temática, o que traz um desafio a mais, porque os alunos estão muito mais acostumados a produzir sobre a realidade brasileira, sobre a legislação brasileira, sobre a cultura brasileira", diz o professor.
O fato do tema ser tão aberto dificulta a vida dos vestibulandos, ainda segundo o professor. "Existe muita liberdade de escolha em relação a que tipo de relação social o aluno vai abordar. Ele pode falar de relações de amizade, de relações de amor, de relações geopolítica entre países."
A proposta difere das do Enem, que de acordo com Leme costuma ser mais ingênua e busca soluções a problemas apresentados. "A Fuvest costuma gostar de abordagens um pouco mais pessimistas, nas quais o aluno assume um papel de crítica e denúncia do quanto as sociedades contemporâneas estão atualmente rumando para um mundo muito mais egoísta e sem solidariedade, ao invés dele tentar mobilizar um órgão governamental que vai propor soluções para espalhar a solidariedade pelo mundo", afirma.
Neste sentido, Sérgio Paganim, professor de redação do Curso Anglo, diz que é possível desenvolver um texto que defenda que as relações sociais não são mediadas pela solidariedade, "e sim muito mais pela anomia, pelo cada um por si, ou ainda que as relações sociais são mediadas pela solidariedade em momentos muito específicos, como em crises humanitárias, como a que, por exemplo, vivemos em 2024, com as tragédias do sul do país."
Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo, afirma que os textos oferecidos contemplam uma solidariedade para além de catástrofes ou tragédias eventuais. Segundo a docente, o tema traz a oportunidade de discutir a meritocracia "que ignora as desigualdades, a falta de oportunidades" em um mundo "em que se por um lado há abundância de recursos, abundância de alimentos, por outro há milhões de pessoas passando fome ou vivendo com insegurança alimentar".
Tema da redação da Fuvest 2025 é solidariedade; abstenção é de 6,22%
Além da redação, a prova teve 10 questões dissertativas de português, incluindo interpretação de texto, gramática e literatura.
Laudemir Guedes Fragoso, professor de língua portuguesa do Objetivo, classificou esta parte como "puxada", que exigiu maturidade, competência linguística e capacidade crítica.
Sobre literatura, André de Freitas Barbosa, do Colégio Oficina do Estudante, afirmou que não havia intertextualidade entre as questões, que tratavam cada uma de uma obra específica, e que a questão mais desafiadora foi a que discutia a negritude de Machado de Assis, relacionando-a a um excerto de Quincas Borba.
Já a parte gramatical, segundo Henrique Braga, docente do Curso Anglo trouxe temas recorrentes, como polissemia, orações adversativas e concessivas e formação de palavras. Neste último, houve um item com os termos "volância" e "centroavância". "Para quem não é familiarizado com o universo do futebol, pode haver uma dificuldade a mais na resolução."
Mais de 30 mil candidatos foram convocados para a segunda fase da Fuvest 2025, que teve início neste domingo (15) em 23 municípios paulistas. A abstenção foi de 6,22% neste primeiro dia da segunda fase. Guarulhos foi a cidade com menor taxa de ausentes, com 3,54%. Franca foi a maior, com 11,57% de faltantes. São Paulo teve 6,40%.
Já na segunda-feira (16), serão 12 questões discursivas de duas a quatro disciplinas, dependendo da carreira escolhida.
Em ambas as datas, os portões são abertos às 12h e fechados às 13h. As provas têm duração de quatro horas, mas o tempo mínimo de permanência é de duas horas.
A Fuvest aconselha que os candidatos verifiquem seus locais de prova no site da fundação, já que eles podem não ser os mesmos da primeira fase.
👍 O que levar na Fuvest:
- Documento de identidade original;
- Caneta transparente de tinta azul;
- Lápis ou lapiseira, apontador e borracha para rascunho;
- Régua transparente;
- Alimentos e água.
👎 O que não levar na Fuvest:
- É proibido utilizar boné, relógio e aparelhos eletrônicos.
- O celular deverá ser desligado e colocado no envelope que será fornecido antes da prova.
Competências específicas
Aqueles que estão tentando uma vaga nos cursos de Artes Cênicas, Artes Visuais e Música, da USP, terão que fazer ainda uma prova de competências específicas para essas áreas.
- Artes Cênicas: as avaliações serão realizadas entre 6/jan e 10/jan;
- Artes Visuais: os testes ocorrerão em 9/jan;
- Música: provas já realizadas, entre 9 e 12/dez.
Fuvest 2025
Uma das formas de ingresso na Universidade de São Paulo (USP), a Fuvest registrou nesta edição a menor taxa de abstenção de candidatos na primeira fase do vestibular, de toda sua história: 7,8%.
Dos 99,3 mil estudantes que fizeram a prova da primeira etapa, apenas 30,8 mil atingiram a pontuação necessária para seguir na disputa por uma das 8.147 vagas ofertadas pela USP para o ano letivo de 2025 — sendo 4.888 voltadas para ampla concorrência, 2.053 para egressos de escola pública e 1.206 para cotas raciais.
A primeira lista de chamada para matrícula será publicada em 24 de janeiro.