Por Isabela Chagas, EPTV Central


Pesquisadores da UFSCar estudam partículas do ar

Pesquisadores da UFSCar estudam partículas do ar

Uma pesquisa realizada no departamento de biogeoquímica ambiental da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) aponta que 90 pessoas morrem por ano em São Carlos (SP) por causa da poluição.

"É sabido que não só problemas respiratórios, mas cardiovasculares estão extremamente associados [à poluição] e outras doenças que ultimamente têm sido correlacionadas às partículas atmosféricas mais fininhas. Essas partículas são 10 vezes menores do que o diâmetro do nosso cabelo, então é algo muito pequeno e pode ser inalado, chegar nos pulmões e causar danos irreparáveis. Na nossa pesquisa, nós avaliamos que cerca de 90 mortes anuais ocorrem precocemente devido à concentração dessas partículas na atmosfera", explica a orientadora do projeto, Roberta Cerasi Urban.

Poluição do ar pode causar problemas respiratórios e cardíacos que podem levar à morte — Foto: Reprodução EPTV

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% da população mundial estão expostos a concentrações de poluentes acima dos limites recomendados. As principais consequências da alta concentração de poluentes no ar para a saúde são o ressecamento das mucosas e da pele, irritações nos olhos e no nariz, complicações respiratórias e, em longo prazo, morte por doenças crônicas.

Iniciado em 2018, o estudo fez a análise das partículas do ar de São Carlos, com amostras coletadas entre os anos de 2015 e 2022. Ficou comprovado que os limites estabelecidos pela OMS foram excedidos em todos os anos, com exceção de 2019.

"A gente identificou que a queima de biomassa é uma das principais fontes de emissão aqui na cidade", afirmou o pesquisador Jonatas Schadeck Carvalho.

Carros são vilões para a qualidade do ar — Foto: Wikimedia Commons

A pesquisa determinou que 27% do material particulado no ar vem da queima de biomassa. Outras fontes de poluição são a poeira, responsável por 28%, e gases, como a fumaça dos carros, com 18% da poluição encontrada no ar.

Os compostos químicos foram maiores na estação seca, não apenas pela baixa pluviosidade e umidade relativa, mas pelo aumento nos incêndios registrados na região entre os meses de abril e setembro.

Melhora do ar após fim das queimadas de cana

Queimada em plantação de cana-de-açúcar — Foto: Arquivo Pessoal

A Lei estadual nº 11.241/02 prevê a redução gradual da queima da cana-de-açúcar, dispondo sobre a extinção do método apenas para o ano de 2.031, por conta de seu impacto na poluição atmosférica.

A prática já está extinta em boa parte do plantio. Mas a incineração de biomassa, que inclui a cana e outras substâncias de origem vegetal ou animal, não é proibida. De qualquer forma, a pesquisa mostra que houve melhoria da qualidade do ar após o fim das queimadas de cana, sobretudo em São Carlos que tem nesse cultivo a sua principal atividade agrícola.

"Hoje essa situação melhorou um pouco, fruto de um acordo do governo do estado com os produtores de cana-de-açúcar, que proibiu a prática da queima da palha para facilitar a colheita e isso é muito importante e a gente observou a diminuição nas concentrações de material particulado, fruto desse acordo", afirmou Carvalho.

Fungos

Durante as análises, os cientistas envolvidos no projeto encontraram entre os materiais lançados ao ar, fungos em quantidades consideráveis que também pode causar impactos na qualidade do ar e na saúde da população e incluíram recentemente a análise desses fungos na pesquisa.

"A gente tem interesse quantificar esses fungos porque eles podem ser danosos para o nosso pulmão, causam doenças respiratórias. A ideia é pegar esses fungos e quantifica-los e relacionar com dados temporais, tempo seco, tempo chuvoso, e ver como eles estão presentes e como eles afetam a nossa saúde”, disse o pesquisador Gustavo Bitencort.

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