I da universidade (Foto: Oscar Herculano Jr/EPTV)
Dois anos após o registro do caso, a Universidade de São Paulo (USP) concluiu o processo aberto para apurar o suposto abuso de um aluno por oito rapazes dentro do alojamento do campus I, em São Carlos (SP). A instituição decidiu suspender os envolvidos e disse que a punição está em vigor, mas, para o jovem que fez a denúncia, a medida ficou aquém das expectativas. Nesta quarta-feira (25), uma reportagem da EPTV Campinas relembrou o caso.
"Ao que compete à Universidade, os procedimentos apuratórios do fato em questão foram realizados, por meio da instauração de sindicância e de processo administrativo disciplinar. A conclusão dos trabalhos aconteceu em 26 de fevereiro deste ano, sendo atribuída ao grupo de alunos envolvidos a penalidade de suspensão, variando de 10 a 70 dias. A decisão foi comunicada à direção da Escola de Engenharia de São Carlos, do Instituto de Física de São Carlos e do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação para aplicação das respectivas penalidades, já em cumprimento", informou a assessoria de imprensa da USP em nota. No entanto, a universidade não informou o número de punidos, assim como suas identidades, e não disse quais condutas dos estudantes geraram a punição.
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A conclusão não agradou o rapaz que comunicou o caso. "Foi desproporcional ao que aconteceu, não foi justo. Esperava a expulsão porque havia a intenção de constrangimento e sofrimento do outro e porque mesmo depois do tiroteio e de todo o ocorrido um deles continuou se manifestando no Facebook, não se sentiu arrependido", comentou o jovem, que voltou a morar em São Paulo.
Ele contou que não sabia da decisão até esta terça-feira (24) e, apesar de a medida não satisfazê-lo, não pretende questioná-la. "Não acho certo, mas não vale fazer mais nada, é dar murro em ponta de faca, é melhor continuar a vida".
Relembre o caso
O episódio ocorreu em 4 de março de 2013, mas veio à tona no dia 13, quando o calouro procurou a polícia e disse que foi cercado por oito rapazes que saíam de uma festa. Eles teriam feito uma série de ameaças e levado o jovem até uma cozinha, onde o teriam molestado.
Poucos dias após o registro, o estudante procurou novamente a polícia e o caso deixou de ser tipificado como estupro, passando para injúria, porque, no novo depoimento, ele negou qualquer tipo de violência ou que tivesse sido obrigado a tirar a roupa.
houve ferido (Foto: Maurício Duch/Arquivo pessoal)
Em entrevista ao G1 na época, o estudante afirmou que a situação aconteceu em uma área que dá acesso aos apartamentos, onde acontecia uma festa.
Segundo o rapaz, um grupo foi até ele e começou a gritar. “Eles falavam repetidamente ‘chupa bixo’ e me cercaram, fizeram uma espécie de roda e não tive como sair. Eles aparentavam estar muito embriagados e se faziam de homossexuais, gritavam ‘bixo homofóbico’. Eu falava para não encostarem, mas três deles começaram a se esfregar em mim e chegaram a abaixar as calças. Um deles também abaixou a cueca. Eles pareciam ter prazer”, disse na ocasião.
Mesmo sem concordar com a situação, o universitário disse que foi obrigado a permanecer no local. “O pessoal me segurou pelo braço, outros me seguraram pela camiseta, mas não chegaram a bater ou lesionar. Simplesmente me seguraram para que eu não corresse, mas eu gritava apavorado para eles me soltarem. Um deles chegou a apertar meu pênis e dizia que queria fazer sexo oral”, explicou.
O rapaz conseguiu escapar e foi para o quarto, mas, segundo ele, as provocações continuaram. “A madrugada inteira o pessoal ficava entrando e saindo [do quarto] e eu ficava muito assustado, porque eles ficavam me chacoalhando, querendo que eu fosse para a festa e eu não sabia o que mais eles poderiam fazer”, contou na época.
Tiros
O caso não foi resolvido e, seis meses depois, afirmando sofrer bullying por causa das denúncias, o rapaz invadiu o alojamento e efetuou vários disparos, mas ninguém ficou ferido. Ele teve a prisão temporária decretada, ficou detido e foi liberado, voltando para a cidade natal. Ele foi condenado a três anos de prisão e multa, pena convertida em serviço comunitário.