Por Brenda Bento, g1 Santos


  • Igor Peretto foi morto a facadas no dia 31 de agosto no apartamento da irmã, Marcelly Peretto, em Praia Grande.

  • Ele teria sido atraído pela irmã, Marcelly, e a esposa Rafaela até o apartamento onde foi morto a facadas por Mário, marido de Marcelly.

  • Rafaela Costa (viúva) e Marcelly Peretto (irmã) se entregaram e foram presas em 6 de setembro.

  • Mário, o cunhado da vítima, foi detido após ser encontrado escondido na casa de um tio de Rafaela, em Torrinha (SP), no dia 15 do mesmo mês.

  • A esposa, irmã e o cunhado de Igor Peretto podem ser levados a júri popular.

Advogado da irmã do comerciante morto pede aumento do prazo por poucas datas para visitá-la no presídio — Foto: Yasmin Braga/TV Tribuna e Redes Sociais

O advogado de Marcelly Peretto, a irmã do comerciante assassinado a facadas no apartamento dela em Praia Grande, no litoral de São Paulo, pediu a prorrogação do prazo para responder à acusação da cliente. Conforme documento obtido pelo g1, Leandro Weissmann alegou que o tempo concedido não foi suficiente para entrevistar a acusada no presídio e, em seguida, dar a resposta à Justiça.

Rafaela Costa (viúva), Marcelly Peretto (irmã) e Mario Vitorino (cunhado e sócio) foram presos por envolvimento na morte de Igor Peretto, de 27 anos. As mulheres se entregaram à polícia em 6 de setembro, enquanto o homem foi detido após ser encontrado escondido na casa de um tio de Rafaela, no dia 15 do mesmo mês.

No pedido à Justiça, Weissmann declarou que "muito embora tenha sido concedido prazo suplementar às defesas para apresentação de resposta à acusação, o prazo concedido não [foi] suficiente à acusada Marcelly".

O advogado anexou um documento enviado à Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) pedindo uma entrevista com a cliente, presa no Centro de Detenção Provisória (CDP) Feminino de Franco da Rocha (SP). Weissmann, porém, foi informado que a data disponível era 18 de dezembro.

"Mesmo telefonando à penitenciária e informando existir prazo correndo, não foi possível antecipar o atendimento", afirmou o advogado. Ele pediu a prorrogação do prazo a partir da data da entrevista.

"Esclarecendo que a demora se dá por culpa do Estado e não da defesa e o deferimento do pleito não acarretará qualquer prejuízo processual", acrescentou.

Pedido do advogado

Procurado pelo g1, Weissmann disse que a defesa não pode ser prejudicada pela deficiência do Estado. "Portanto, a acusada não pode sofrer violação ao seu direito constitucional de ampla defesa. Por outro lado, sabemos e entendemos que o Estado tem dificuldade em sua estrutura", pontuou ele.

Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que o atendimento presencial de advogados no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Franco da Rocha não requer agendamento, e pode ser feito de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.

Ainda de acordo com a SAP, o atendimento virtual necessita de agendamento prévio. Segundo a pasta, o defensor de Marcelly foi informado pela unidade que haveria horário disponível no dia 18 de dezembro, mas desistiu do pedido ao saber da data.

A SAP informou que a teleaudiência ocorre no sistema prisional desde 2020 e contabilizou, até julho deste ano, 2,7 milhões de atendimentos a presos em contato com advogados, com Defensoria Pública e com o Poder Judiciário para realizações de Audiências e Citações.

Resposta da Justiça

Na última quinta-feira (19), o juiz da Vara do Júri, das Execuções Criminais e da Infância e da Juventude da Comarca de Praia Grande, Felipe Esmanhoto Mateo, decidiu pela prorrogação do prazo de três dias para a defesa de Marcelly apresentar resposta à acusação.

"De forma excepcionalíssima, considerando a complexidade do caso e a proximidade do recesso forense, concedo derradeiro prazo de 3 dias para apresentação de resposta à acusação. [...] De modo que o prazo de 3 dias se mostra suficiente", acrescentou o juiz.

Felipe pontuou que haviam passado sete dias desde o pedido feito pelo advogado de Mario, que teve o prazo prorrogado em cinco por causa de uma conjuntivite. Além disso, a nova ampliação de tempo, assim como a anterior, passou a ser válida para os demais corréus.

Conforme apurado pelo g1, apesar da decisão do juiz constar nos autos do processo, ela ainda não foi publicada no Diário Oficial. Desta forma, a prorrogação do prazo de três dias ainda não está em vigor. Uma data final ainda não foi divulgada oficialmente.

A equipe de reportagem apurou também que existe a possibilidade da publicação ocorrer somente em 2025 por conta do recesso do Judiciário.

Últimas palavras

Cronologia da morte do comerciante Igor Peretto: tudo que se sabe da descoberta da traição à morte — Foto: Reprodução

De acordo com as testemunhas, Igor declarou amor pela esposa, Rafaela Costa, minutos antes de ser morto a facadas no apartamento da irmã em Praia Grande. As últimas palavras constam em um inquérito da corporação e em uma denúncia do MP-SP.

"Vocês sabem o quanto eu amo aquela mulher, [o] quanto sou louco por ela", disse Igor, de acordo com uma testemunha. "Vocês tudo contra mim, tudo armando contra mim. Eu era o único que não sabia de nada".

Segundo a denúncia do MP-SP, Igor também demonstrou estar decepcionado com a irmã e o cunhado. "Do que adiantou eu fazer tudo? Eu me esforço tanto, eu fiz isso sempre por todos, seus traíras, p***", teria dito a vítima antes de ser morta a facadas.

Triângulo amoroso

Casais (Mário e Marcelly, à esq. e Igor e Rafaela, à dir.) moravam próximos em Praia Grande (SP) — Foto: Redes Sociais

O MP-SP concluiu que o trio premeditou o crime porque Igor era um "empecilho no triângulo amoroso" entre Rafaela, Marcelly e Mario Vitorino. Ao g1, a promotora Roberta afirmou ter considerado o caso como "chocante e violento".

A promotora disse que em nenhum momento os envolvidos tentaram salvar Igor ou minimizar o sofrimento dele. "Fizeram buscas de rota de fuga ou de quanto tempo demoraria para [o corpo] cheirar e chamar a atenção de alguém e eles terem tempo de fugir", complementou.

Vantagem financeira

Igor Peretto, irmão do vereador de São Vicente (SP), Tiago Peretto (União Brasil), foi morto a facadas em Praia Grande — Foto: Reprodução/Redes Sociais e Thais Rozo/g1

De acordo com a denúncia recebida pela Justiça, a morte de Igor traria "vantagem financeira" aos acusados. Os advogados dos presos negaram a versão apresentada pelo MP-SP, que afirmou que Rafaela mantinha relacionamentos extraconjugais com Mário e Marcelly, estabelecendo uma relação íntima entre o trio sem o conhecimento do comerciante.

O Ministério Público citou quais seriam as vantagens financeiras aos denunciados. Segundo o órgão, Mário poderia assumir a liderança da loja de motos que tinha em sociedade com o cunhado, enquanto a viúva receberia herança. “Marcelly, que se relacionava com os dois beneficiários diretos, igualmente teria os benefícios financeiros”.

O MP considerou a ação do trio contra Igor um "plano mortal". O documento diz que eles planejaram o crime, sendo que Mário desferiu as facadas, a viúva atraiu o comerciante e, junto com Marcelly, incentivou Mário a matá-lo.

O órgão levou em conta essas informações para elaborar a denúncia por homicídio qualificado. “O crime foi cometido por motivo torpe, pois Mário, Rafaela e Marcelly consideraram Igor um empecilho para os relacionamentos íntimos e sexuais que os três denunciados mantinham entre eles.

Ainda segundo a denúncia, o assassinato também foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, pois Igor estava desarmado e foi atacado por uma pessoa com quem tinha relacionamento próximo e de quem não esperava mal.

Sobre o crime

Casais estavam dentro do apartamento onde Igor Peretto foi encontrado morto em Praia Grande (SP) — Foto: Yasmin Braga/g1 e Reprodução/Redes Sociais

O crime aconteceu em 31 de agosto no apartamento da irmã de Igor, em Praia Grande. Dentro do imóvel estavam a vítima, Marcelly e Mário Vitorino. Rafaela chegou com Marcelly ao apartamento, mas o deixou 13 segundos antes do marido chegar com o suspeito pelo assassinato.

De acordo com os depoimentos do trio e dos advogados, a viúva Rafaela tinha um caso com Mário. Além disso, o advogado de Marcelly chegou a dizer que a cliente e Rafaela tiveram um envolvimento amoroso no local antes da chegada de Igor e Mario no apartamento.

Igor Peretto foi morto a facadas e teria ficado tetraplégico [sem movimento do pescoço para baixo] se tivesse sobrevivido. A informação consta em laudo necroscópico obtido pelo g1. Três pessoas próximas à vítima foram presas: Viúva, irmã e cunhado.

Quadrinhos

Laudo apontou que as versões de Mario Vitorino e Marcelly Peretto são contraditórias entre si — Foto: Laudo pericial

A reconstituição do caso foi registrada pela Polícia Civil em uma história em quadrinhos. De acordo com o laudo da perícia, obtido pelo g1, o cunhado e a irmã da vítima participaram da simulação e apresentaram versões contraditórias.

No documento, o perito criminal explicou que as ilustrações das versões "seguem um padrão similar aos de fotonovelas e de histórias em quadrinhos". O objetivo foi facilitar a compreensão das cenas apresentadas pelos investigados para uma minuciosa análise das versões.

Além das fotos capturadas durante a reconstituição, de acordo com o laudo, também foram utilizados elementos gráficos e textuais, comuns em histórias em quadrinhos. Entre eles: Quadros de legenda, balões de fala e onomatopeias [figura de linguagem que usa palavras para imitar sons].

Prisões

Mario, Marcelly e Rafaela, investigados pelo homicídio contra o comerciante Igor Peretto — Foto: Reprodução e Redes sociais

As mulheres se entregaram e foram presas em 6 de setembro, enquanto Mário foi detido após ser encontrado escondido na casa de um tio de Rafaela, em Torrinha (SP), no dia 15 do mesmo mês.

O trio havia sido preso temporariamente em setembro e, no início de outubro, a prisão temporária foi prorrogada. Na ocasião, a defesa de Rafaela chegou a entrar com pedido de habeas corpus, que foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Justiça de Praia Grande (SP) converteu as prisões do trio, de temporárias para preventivas, após a denúncia feita pelas promotoras Ana Maria Frigerio Molinari e Roberta Bená Perez Fernandez, do MP-SP.

Reconstituição da morte de Igor Peretto foi registrada em história em quadrinhos — Foto: Laudo pericial

O que se sabe sobre a cronologia do crime até o momento:
04:32:38 - Marcelly e Rafaela chegam de carro ao prédio de Marcelly;
05:40:17 - Rafaela vai embora do apartamento de Marcelly;
05:42:27 - Rafaela deixa o local com o carro;
05:42:40 - Mario e Igor chegam ao prédio de Marcelly;
05:44:40 - Mario e Igor saem do elevador em direção ao apartamento de Marcelly;
06:04:31 - Mario e Marcelly saem do apartamento pelas escadas e acessam o subsolo, logo após o homicídio;
06:05:03 - Mario e Marcelly saem pela rampa do subsolo e vão em direção ao carro dele;
06:05:25 - Mario e Marcelly partem de carro em direção ao apartamento dele;
06:11:29 - Mario e Marcelly chegam ao prédio dele;
06:16:44 - Mario e Marcelly deixam o prédio dele e fogem;
08:48:00 (aproximadamente) - Mario e Marcelly se encontram com Rafaela em um posto na Rodovia Governador Carvalho Pinto, no km 124, em Caçapava (SP), onde a viúva abandonou o carro e embarcou no carro do amante, onde já estava a irmã da vítima;
09:47:42 - Mario, Marcelly e Rafaela chegam em Campos de Jordão (SP), onde a irmã da vítima teria entrado em um carro por aplicativo e retornado para Praia Grande;
12:28:00 - Mario e Rafaela se hospedam em um motel em Pindamonhangaba (SP), onde permanecem até 15h37. No mesmo dia, abandonam o carro dele no Centro da cidade.

Últimas imagens de Igor

Vídeos mostram momentos antes e depois do assassinato de comerciante que descobriu traição

Vídeos mostram momentos antes e depois do assassinato de comerciante que descobriu traição

O g1 teve acesso às últimas imagens do comerciante com vida. Os vídeos mostram os três suspeitos e a vítima chegando ao apartamento onde ocorreu o crime. Primeiro, chegam Marcelly e Rafaela, mas a viúva deixa o apartamento antes de Mario aparecer com Igor (assista o vídeo acima).

Nas imagens, obtidas pelo g1, é possível ver Rafaela e Marcelly chegando de carro e subindo de elevador até o apartamento da irmã da vítima, por volta das 4h30. A esposa de Igor deixou o local sozinha, cerca de dez minutos depois, antes da chegada dos homens.

Igor e Mario também foram filmados chegando de carro ao prédio, às 5h42. A dupla subiu de elevador aproximadamente dois minutos depois. Na ocasião, o comerciante parecia questionar o cunhado antes de acessar o imóvel da irmã. Este é o último registro dele, feito pelas câmeras de monitoramento.

Mario e Marcelly são casados no papel, mas já não estavam mais juntos. O crime aconteceu no imóvel dela, onde foram filmados saindo às 6h04. O casal desceu pelas escadas, foi até o subsolo e deixou o prédio a pé pela garagem.

De lá, os dois foram de carro para o apartamento de Mário, que fica a poucos quilômetros de distância do local do assassinato. Eles chegam ao prédio às 6h11, ficaram aproximadamente cinco minutos e saíram segurando bolsas e outros objetos.

A Polícia Militar foi acionada pela síndica. Com a ajuda de um chaveiro, solicitado por ela, a porta foi aberta e os agentes notaram sinais de sangue no corredor. Eles encontraram o corpo de Igor caído em um quarto, próximo da janela.

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