Por Ágata Luz, g1 Santos


Na troca de mensagens, é possível ver o empresário combinando de entregar parte do dinheiro exigido pelo ex-funcionário — Foto: Reprodução/Processo TJ-SP

Capturas de tela, obtidas pelo g1 nesta sexta-feira (6), mostram a conversa que antecedeu a prisão do jovem de 23 anos acusado de pedir R$ 20 mil ao ex-patrão para não divulgar informações sigilosas de uma empresa de alta perfumaria em Santos, no litoral de São Paulo. O rapaz foi liberado após pagar uma fiança de dois salários mínimos (aproximadamente R$ 2,8 mil).

O ex-funcionário ficou revoltado ao ser demitido, em outubro deste ano, e passou a ameaçar o dono da companhia, com quem teve um envolvimento amoroso antes de ser contratado. O acusado, inclusive, enviou um e-mail falando mal da empresa para um dos fornecedores da companhia.

Na troca de mensagens, é possível ver o empresário, de 35 anos, combinando a entrega de parte do dinheiro exigido pelo ex-funcionário. O encontro fazia parte de um plano para armar um flagrante da polícia contra o suspeito, uma vez que o caso havia sido denunciado.

Na conversa, o empresário sugeriu o encontro em um shopping de Santos. “Quer seu dinheiro sujo? Seja homem e venha buscar”, escreveu a vítima. “Estou abrindo mão dos meus valores em busca da paz”, continuou.

O ex-funcionário aceitou a sugestão e ofendeu o empresário, dizendo que a perfumaria era fruto de "tramoias" dele. “Vou olhar nos seus olhos porque você merece tudo isso”, afirmou o acusado.

O print da conversa ainda mostra que o suspeito debochou do dinheiro que receberia do ex-patrão. “Aproveito para fazer umas comprinhas, rs”, escreveu ele.

Conforme apurado pelo g1, o suspeito cumpriu o combinado e apareceu no shopping no dia 1º de novembro. Ele pegou o dinheiro e novamente debochou do empresário, indo até a loja em que trabalhava para 'mandar beijos' aos funcionários.

Logo em seguida, a equipe policial do 7º Distrito Policial (DP) prendeu o jovem em flagrante. Segundo a Polícia Civil, ele foi abordado com R$ 7,5 mil em espécie, confessando o crime e sendo levado à delegacia.

Homem foi preso em flagrante com dinheiro que extorquiu do ex-patrão (à esq.) após fazer ameaças em Santos (SP) — Foto: Reprodução

Liberado e denunciado

O jovem foi liberado em audiência de custódia no dia seguinte, sob fiança no valor de dois salários-mínimos (correspondente a aproximadamente R$ 2,8 mil). No entanto, dias depois, ele foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

Na ocasião, o promotor de justiça José Mário Barbuto afirmou que o caso deveria se tornar um processo penal para que o acusado recebesse a devida condenação por extorsão.

Ainda no documento, Barbuto solicitou a fixação de valor mínimo para reparação dos danos morais eventualmente sofridos pela vítima. A denúncia foi recebida pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Santos, Fernando Cesar do Nascimento, que determinou um prazo para o réu apresentar defesa.

Segredo de justiça

A defesa do ex-funcionário se manifestou solicitando a determinação de segredo de justiça nos autos. O acusado justificou o pedido citando que a mídia o procurou para ouvir a versão sobre o crime e a prisão.

No entanto, o MP e o TJ indeferiram o pedido. “O fato de ter sido o réu procurado pela imprensa não importa dizer que houve escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, considerando ainda que não se trata de pessoa pública”, esclareceu o juiz Andre Diegues Da Silva Ferreira, em decisão publicada no dia 14 de novembro.

Ainda segundo o magistrado, a publicidade do processo é um “meio de transparência dos atos judiciais possível de fiscalização por qualquer do povo”.

Dias depois, Ferreira expediu um mandado de citação em nome do réu, determinando o prazo de dez dias para que ele respondesse à denúncia do MP-SP por escrito.

O g1 tentou contato com a advogada de defesa do réu, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

O caso

Prints mostram chantagens e ameaças de homem preso por extorquir dinheiro de ex-patrão — Foto: Arquivo Pessoal e Divulgação/Polícia Civil

O acusado atuava como assistente administrativo na empresa, que tem cinco lojas na Baixada Santista. Segundo o proprietário da companhia, o ex-funcionário tinha sido contratado em março, mas foi demitido em meados de outubro por mau comportamento.

O empresário relatou que as ameaças começaram no dia da demissão e registrou um boletim de ocorrência (BO) de extorsão no dia 29 de outubro após o ex-funcionário entrar em contato com a irmã dele e um dos fornecedores mais importantes da empresa.

"Se ele tinha algum problema comigo, que abrisse um processo cível contra mim ou contra a empresa. Mas como ele não tinha nada, não tinha poderes para nada, então só tinha coisas para difamar, para inventar, falando que eu vendia perfumes falsificados, falando que eu misturava coisas. Eu tenho uma carreira muito sólida, graças a Deus", desabafou.

Três dias depois, o ex-funcionário mandou e-mail com o mesmo teor para outro fornecedor. Por isso, o empresário procurou novamente a Polícia Civil e o delegado sugeriu um plano para fazer um flagrante contra o suspeito.

O ex-funcionário foi preso no dia 1º de novembro, mas foi liberado em seguida. Enquanto o boletim de ocorrência estava sendo registrado em 4 de novembro, outro fornecedor da empresa também afirmou que tinha recebido as mensagens do ex-funcionário. Sendo assim, companhia de alta perfumaria elaborou uma nota de esclarecimento sobre o ocorrido.

O empresário temeu pela própria vida. “A minha preocupação hoje é com a minha segurança, minha vida pessoal. Eu não tenho medo de nada do que ele possa fazer contra a minha empresa, porque ele não tem poder para isso”, afirmou.

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