Por Brenda Bento, g1 Santos


Mario (à dir.) foi encontrado escondido na casa do tio (à esq.) de Rafaela, viúva do comerciante assassinado (ao Centro) — Foto: Arquivo Pessoal e Reprodução

O tio de Rafaela Costa, viúva do comerciante Igor Peretto, assassinado em Praia Grande (SP) após descobrir uma traição, é investigado por favorecimento pessoal. Ele abrigou Mario Vitorino, cunhado e sócio da vítima, que estava foragido desde 31 de agosto e foi preso neste domingo (15). Além dele, Marcelly e a Rafaela também estão presas pela morte do comerciante.

O procurado foi capturado em Torrinha (SP) e apresentado na Delegacia Seccional de Rio Claro (SP). Em depoimento ao delegado Carlos Schio, o tio de Rafaela afirmou que acolheu Mario a pedido da sobrinha, com quem o foragido tinha um relacionamento.

Embora Mario fosse casado com Marcelly Peretto, irmã de Igor e dona do apartamento onde a vítima morreu, o casal não estava mais junto e sequer morava no mesmo imóvel.

Conforme apurado pelo g1, o boletim de ocorrência contra o tio de Rafaela foi registrado para que seja investigado eventual crime de favorecimento, uma vez que ele estaria escondendo Mario, procurado da justiça por envolvimento na morte de Igor.

De acordo com o documento, o tio de Rafaela informou à polícia que não sabia que contra Mario tinha um mandado de prisão. Ele prestou depoimento e foi liberado.

O que diz o advogado de Rafaela?

Marcelo Cruz, advogado de Rafaela, afirmou ao g1 que o fato de o tio ter abrigado Mario não altera a responsabilidade jurídica da viúva no caso do homicídio. No entanto, ele observou que a situação pode levar a uma nova tipificação criminal, a ser decidida pela autoridade policial.

Ele afirmou que não tinha conhecimento do Mario estar na casa do tio de Rafaela e não sabe se a cliente sabia disso. "Mesmo que [ela] tivesse [ciência], não altera o quadro jurídico dela em relação ao homicídio, ou seja, ela não tem responsabilidade criminal sobre o crime doloso contra a vida".

Ele afirmou que não tinha conhecimento de que Mario estava na casa do tio de Rafaela e não soube informar pela cliente. "Mesmo que ela soubesse, isso não altera o quadro jurídico dela em relação ao homicídio; ou seja, ela não tem responsabilidade criminal pelo crime doloso contra a vida."

Prisão do Mario

Cunhado de comerciante assassinado após traição precisou ser algemado durante prisão — Foto: Arquivo Pessoal e Reprodução

De acordo com o boletim de ocorrência, a Polícia Militar foi acionada pelo irmão de Igor, o vereador Tiago Peretto, com o possível paradeiro de Mario. O chamado foi feito por volta das 8h15 e, no imóvel indicado, em Torrinha (SP), o foragido foi encontrado e capturado.

Os PMs foram recebidos pelo dono da casa. Ele confirmou a presença de Mario, que dormia em um dos quartos. Os agentes então cumprimento o mandado de prisão temporária de 30 dias expedido pela Justiça.

Com Mario, os PMs apreenderam três celulares e R$ 8,1 mil. Os policiais precisaram algemar o empresário, que estava agitado e nervoso. Imagens obtidas pelo g1 mostram o momento em que ele foi preso. O empresário foi conduzido até o plantão policial, onde o caso foi registrado.

Conforme apurado pelo g1, ele não prestou depoimento e deve passar por audiência de custódia na segunda-feira (16).

Vídeo mostra prisão de cunhado investigado pela morte de comerciante

Vídeo mostra prisão de cunhado investigado pela morte de comerciante

Quem matou Igor?

A Polícia Civil ainda não informou quem matou Igor, encontrado morto no dia 31 de agosto. O que se sabe é que, dentro do apartamento onde ocorreu o crime, estiveram Igor, Rafaela Costa (esposa de Igor), Marcelly Peretto (irmã de Igor) e Mario Vitorino (marido de Marcelly). As mulheres se entregaram e foram presas. Mario foi preso no último domingo (15).

De acordo com os depoimentos, Rafaela tinha um caso com Mario. Além disso, o advogado de Marcelly, Leandro Weissmann, disse que a cliente e Rafaela tiveram um envolvimento amoroso no local antes da chegada de Igor e Mario no apartamento.

Mario foi conduzido à delegacia de polícia no interior de SP no domingo (15) — Foto: Reprodução

Cronologia do crime

  • O que se sabe sobre a cronologia do crime até o momento:
    04:32:38 - Marcelly e Rafaela chegam de carro ao prédio de Marcelly;
    05:40:17 - Rafaela vai embora do apartamento de Marcelly;
    05:42:27 - Rafaela deixa o local com o carro;
    05:42:40 - Mario e Igor chegam ao prédio de Marcelly;
    05:44:40 - Mario e Igor saem do elevador em direção ao apartamento de Marcelly;
    06:04:31 - Mario e Marcelly saem do apartamento pelas escadas e acessam o subsolo, logo após o homicídio;
    06:05:03 - Mario e Marcelly saem pela rampa do subsolo e vão em direção ao carro dele;
    06:05:25 - Mario e Marcelly partem de carro em direção ao apartamento dele;
    06:11:29 - Mario e Marcelly chegam ao prédio dele;
    06:16:44 - Mario e Marcelly deixam o prédio dele e fogem;
    08:48:00 (aproximadamente) - Mario e Marcelly se encontram com Rafaela em um posto na Rodovia Governador Carvalho Pinto, no km 124, em Caçapava (SP), onde a viúva abandonou o carro e embarcou no carro do amante, onde já estava a irmã da vítima;
    09:47:42 - Mario, Marcelly e Rafaela chegam em Campos de Jordão (SP), onde a irmã da vítima teria entrado em um carro por aplicativo e retornado para Praia Grande;
    12:28:00 - Mario e Rafaela se hospedam em um motel em Pindamonhangaba (SP), onde permanecem até 15h37. No mesmo dia, abandonam o carro dele no Centro da cidade.

O g1 teve acesso às imagens que mostram momentos antes e depois do assassinato do comerciante Igor Peretto. Nelas, é possível entender a dinâmica do que aconteceu no dia do crime como o intervalo da última vez que a vítima foi vista com vida e o momento em que Mario e Marcelly deixam o local.

As imagens mostram que a viúva de Igor foi filmada pela última vez 13 segundos antes da chegada dele acompanhado de Mario Vitorino, marido de Marcelly e amante dela. No entanto, após a morte do marido, se encontrou com o amante e a cunhada em um posto de rodovia em Caçapava (SP).

Mario, Marcelly e Rafaela, investigados pelo homicídio contra o comerciante Igor Peretto — Foto: Reprodução e Redes sociais

Comportamento eufórico

O delegado especialista em inteligência policial e segurança pública André Santos Pereira analisou o comportamento de Mario e Marcelly após o crime. Para ele, a Marcelly demonstrou preocupação e tristeza, enquanto o Mario estava eufórico.

"Por parte dela, a gente percebe um sentimento de tristeza e preocupação em razão do gesto que ela realiza em pôr a mão no rosto. Imagina você preocupado, a primeira coisa que você faz é colocar a mão no rosto, tentar mover alguma coisa no rosto", explicou André.

Para o especialista, não é possível notar arrependimento em Marcelly, pois este é um sentimento mais íntimo e difícil de ser interpretado nas imagens. Em contrapartida, Mario não demonstra sequer preocupação.

“Se tivesse que resumir a postura dele dentro do elevador, é uma postura de controle. A gente percebe que ele exerce um controle sobre a Marcelly. Na nossa perspectiva, não é um controle físico propriamente dito, mas um controle emocional. Ali ele está dominando a situação”, analisou.

Últimas imagens de Igor

Vídeos mostram momentos antes e depois do assassinato de comerciante que descobriu traição

Vídeos mostram momentos antes e depois do assassinato de comerciante que descobriu traição

O g1 teve acesso às últimas imagens do comerciante com vida. Os vídeos mostram os três suspeitos e a vítima chegando ao apartamento onde ocorreu o crime. Primeiro, chegam Marcelly e Rafaela, mas a viúva deixa o apartamento antes de Mario aparecer com Igor (assista o vídeo acima).

Nas imagens, obtidas pelo g1, é possível ver Rafaela e Marcelly chegando de carro e subindo de elevador até o apartamento da irmã da vítima, por volta das 4h30. A esposa de Igor deixou o local sozinha, cerca de dez minutos depois, antes da chegada dos homens.

Igor e Mario também foram filmados chegando de carro ao prédio, às 5h42. A dupla subiu de elevador aproximadamente dois minutos depois. Na ocasião, o comerciante parecia questionar o cunhado antes de acessar o imóvel da irmã. Este é o último registro dele feito pelas câmeras de monitoramento.

Câmeras filmaram Igor Peretto (à dir.) chegando ao apartamento junto com Mario Vicentino (à esq.) — Foto: Reprodução/TV Tribuna

Mario e Marcelly são casados no papel, embora já não estejam mais juntos e nem morem no mesmo apartamento. O crime aconteceu no imóvel dela, onde foram filmados saindo às 6h04. O casal desceu pelas escadas, foi até o subsolo e deixou o prédio a pé pela garagem.

De lá, os dois foram de carro para o apartamento de Mário, que fica a poucos quilômetros de distância do local do assassinato. Eles chegam ao prédio às 6h11, ficaram aproximadamente cinco minutos e saíram segurando bolsas e outros objetos. O g1 não teve acesso a essas imagens.

Suposta traição

De acordo com depoimento de Rafaela e Marcelly, a viúva de Igor tinha um caso com Mario. O advogado de Rafaela, Marcelo Cruz, informou que na noite do crime, ela saiu do imóvel antes da chegada do companheiro porque ficou com medo da reação dele, que havia descoberto a troca de mensagens entre ela e Mario.

"Ela infelizmente confessa que houve um adultério, muito embora estivesse relativamente separada dele [Igor]. Mas o ponto principal é que, lamentavelmente, a vítima pegou uma ligação que ela [Rafaela] tinha feito para o autor do crime [Mario] e, em face disso, desencadeou a confusão dentro da residência. Mas, ela não participou de nenhum ato dentro daquela residência", explicou Marcelo Cruz.

Câmeras de monitoramento filmaram últimos momentos de Igor Peretto — Foto: Reprodução/TV Tribuna

O caso

O caso aconteceu na noite do dia 31 de agosto. A síndica do prédio contou aos policiais que tocou várias vezes a campainha do apartamento da irmã de Igor Peretto e bateu na porta, mas que não foi atendida. Por isso, ela resolveu olhar as câmeras de monitoramento do prédio e identificou que, por volta das 4h37, Marcelly Peretto chegou ao imóvel acompanhada da esposa de Igor, Rafaela Costa.

Por volta das 5h40, Mario e Igor chegaram ao local e solicitaram ao porteiro da noite autorização para entrada no condomínio, que teria sido negada. Os dois só acessaram o prédio após a liberação da irmã de Igor, a dona do apartamento.

Casais estavam dentro do apartamento onde Igor Peretto foi encontrado morto em Praia Grande (SP) — Foto: Yasmin Braga/g1 e Reprodução/Redes Sociais

Os policiais militares informaram à Polícia Civil que, com base nas informações, acreditaram que Igor estava com a esposa dentro do apartamento. Com a ajuda de um chaveiro, solicitado pela síndica, a porta foi aberta e eles notaram sinais de sangue no corredor.

Os policiais encontraram o corpo de Igor caído em um quarto, próximo da janela. O imóvel estava revirado, indicando que houve luta corporal, além de marcas de sangue, conforme informaram os agentes. De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais revistaram o apartamento em busca da esposa de Igor, mas ela não foi encontrada.

Comerciante Igor Peretto, de 27 anos, foi morto a facadas dentro do apartamento da irmã, no bairro Canto do Forte, em Praia Grande (SP) — Foto: Redes Sociais

Mario estava eufórico, diz especialista

Ao g1, o delegado especialista em inteligência policial e segurança pública, André Santos Pereira, analisou o comportamento de Mario e Marcelly quando deixaram o apartamento com Igor já morto. Para ele, a Marcelly demonstrou preocupação e tristeza, enquanto o Mario estava eufórico.

Dentro do elevador, Mario aparece encapuzado, de cabeça baixa, e abraça Marcelly. Para André, que é presidente Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), a postura do homem aparenta ser de controle sobre a companheira.

“O Mario abraça a Marcelly e ela corresponde com um pouco de distanciamento, apenas colocando a cabeça no peito dele”, disse o delegado.

Mario Vitorino abraçou Marcelly Peretto minutos após o assassinato do irmão dela em Praia Grande (SP) — Foto: Reprodução

Prisões

Marcelly e a viúva Rafaela se apresentaram na delegacia e foram presas suspeitas de participação na morte do comerciante, na última sexta-feira (6).

Já o cunhado de Igor, Mario Vitorino, está foragido desde terça-feira (3), quando teve a prisão temporária decretada pela Justiça. O caso é investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG).

Viúva e irmã de comerciante morto a facadas são presas no litoral de SP

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Defesa de Rafaela

De acordo com o advogado da viúva, Marcelo Cruz, Rafaela saiu do apartamento onde ocorreu o crime antes da chegada de Igor, pois ficou com medo da reação do companheiro que havia descoberto uma troca de mensagens entre ela e Mario.

"Ela infelizmente confessa que houve um adultério, muito embora estivesse relativamente separada dele [Igor]. Mas o ponto principal é que, lamentavelmente, a vítima [Igor] pegou uma ligação que ela [Rafaela] tinha feito para o autor do crime [Mario] e, em face disso, desencadeou a confusão dentro da residência. Mas, ela não participou de nenhum ato dentro daquela residência", explicou Marcelo Cruz.

Ainda segundo Cruz, Rafaela não soube que Igor tinha sido morto quando fugiu em direção a São Paulo, pois pensou que ele havia sido dopado pelo amante.

"Ela recebeu uma ligação do autor do crime [Mario] dizendo que teriam dopado efetivamente ele e não que teriam matado", explicou o advogado. A mulher seguiu as instruções de Mario, que disse para ela seguir o GPS em direção a São Paulo antes que Igor acordasse.

Defesa de Marcelly

Marcelly prestou depoimento à polícia antes de se entregar. O advogado Felipe Pires de Campos, que representava Marcelly disse que ela contou aos policiais que Mario estava saindo com a esposa de Igor. Porém, ela não sabia da traição até o momento da briga.

Ela reforçou que foi pressionada pelo marido a deixar o imóvel após ele cometer o crime. Marcelly e Mario são casados, mas já não moravam mais no mesmo imóvel.

Ao g1, Leandro Weissmann, o advogado de Marcelly, disse que o homicídio foi cometido por Mario. Segudo ele, Marcelly estava em outro cômodo quando o irmão foi morto. Em seguida, ela saiu do imóvel e fugiu porque foi coagida pelo autor do crime.

O g1 não localizou a defesa de Mario Vitorino da Silva até a última atualização desta reportagem.

Viúva que beijou irmã do marido antes dele ser morto publicou vídeos com a mulher

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Beijo antes do crime

Ao g1, o advogado de Marcelly, Leandro Weissmann, disse que ela e Rafaela tiveram um envolvimento amoroso no local antes da chegada de Igor e Mario ao apartamento.

“De acordo com a Marcelly, elas estavam muito bêbadas e Rafaela já tinha investido algumas vezes para cima dela. Nesse dia, que ela estava muito bêbada, a Rafaela a agarrou [...]. Deu um beijo e passou a mão no corpo dela”, explicou o advogado.

Segundo Weissmann, as duas eram melhores amigas e aquela foi a primeira vez que em que se beijaram. “A Marcelly sabia que a Rafaela se relacionava sim com outras mulheres, mas com ela foi a primeira vez”, afirmou.

O advogado de Rafaela, Marcelo Cruz, afirmou que a viúva “forneceu todas as informações necessárias à investigação. "Ela, pelo que se verificou, não omitiu nada que tenha ocorrido, até mesmo sobre esse ponto”.

Por meio do TikTok, Rafaela publicou dezenas de vídeos em que mostrava uma relação próxima com Marcelly (assista acima). Alguns vídeos foram publicados dias antes do crime. Nas imagens, é possível ver as mulheres dançando na praia e em festas. Um dos vídeos, inclusive, mostra as duas aproximando os rostos durante um evento.

As legendas das publicações também indicam um relacionamento próximo. Em outro conteúdo, Rafaela presenteia Marcelly com um bolo de aniversário. "Feliz vida, meu amor", escreveu ela.

Carro localizado

Carro usado por investigado na morte de comerciante é encontrado no interior de SP

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Segundo apurado pela TV Tribuna, afiliada da Globo, o carro utilizado por Mario foi localizado por policiais civis de Praia Grande perto de uma agência dos Correios em Pindamonhangaba. Após uma perícia, ele foi levado à Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Praia Grande, na noite de quinta-feira (5).

As imagens gravadas pelo repórter Matheus Croce, da TV Tribuna, mostram que o câmbio e o banco tinham marcas que, aparentemente, são de sangue. Uma garrafa com marcas parecidas também foi encontrada jogada no chão do veículo.

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Interior do carro tinha vestígios do que aparenta ser sangue — Foto: Matheus Croce/TV Tribuna

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Carro utilizado por investigado pela morte de Igor Peretto — Foto: Matheus Croce/TV Tribuna

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Garrafa foi encontrada dentro do carro de Mario — Foto: Matheus Croce/TV Tribuna

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