04/03/2016 08h46 - Atualizado em 04/03/2016 15h01

PF cumpre mandado de busca e apreensão em triplex em Guarujá

24ª fase da Operação Lava Jato acontece nesta sexta-feira (4).
MP investiga irregularidades na construção e venda dos apartamentos.

Do G1 Santos

Agentes da Polícia Federal estiveram, na manhã desta sexta-feira (4), em um triplex em Guarujá, no litoral de São Paulo, para cumprir um mandado de busca e apreensão da 24ª fase da Operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

 

O apartamento alvo da operação é o 164-A do Condomínio Solaris, onde Lula foi flagrado na companhia da esposa, dona Marisa, e de Léo Pinheiro, sócio da empreiteira OAS. O Ministério Público de São Paulo investiga irregularidades na construção e venda dos apartamentos desse condomínio.

Os promotores suspeitam que a OAS tenha reservado o imóvel para o ex-presidente e a família dele e que Lula tenha comprado o triplex. Pelo menos 100 pessoas já foram ouvidas nas investigações em São Paulo, entre elas moradores, corretores e funcionários do prédio.

De acordo com informações apuradas pelo G1, pelo menos cinco policiais federais chegaram ao apartamento, por volta das 5h50, para vasculhar o imóvel tentando encontrar pistas que ajudem na investigação. Um chaveiro foi contratado pela Polícia Federal para abrir o triplex e outras três portas do apartamento que estavam trancadas.

Por volta das 10h, um dos agentes da Polícia Federal apareceu na sacada do prédio, segurando uma máquina fotográfica e registrando várias imagens do local. Dezenas de pessoas se aglomeraram na porta do prédio para acompanhar a operação dos policiais, que continuava por volta das 10h15.

Edifício Solaris em Guarujá, SP (Foto: Solange Freitas / G1)Edifício Solaris em Guarujá, SP (Foto: Solange Freitas / G1)

Segundo a Polícia Federal (PF), a operação ocorre na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, e em outros pontos em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia. O Instituto Lula também é alvo da ação PF. Em São Paulo, os municípios em que a operação é realizada são: São Paulo, São Bernardo do Campo, Atibaia, Guarujá, Diadema, Santo André e Manduri.

O empreiteiro Armando Dagre Magri, um dos donos da Tallento Construtora, também prestou depoimento. Nesta quinta-feira (3), ele falou com exclusividade ao Jornal Nacional. A Tallento é uma empresa de engenharia civil, com 27 anos no mercado, especializada em reformas e montagem de apartamentos decorados para incorporadoras.

Segundo Armando Magri, a empresa foi contratada pelo coordenador de engenharia da OAS, Igor Pontes, para fazer a reforma no triplex. A reforma custou R$ 770 mil reais e foi paga pela OAS. O dinheiro é recebido por transação bancária, via nota fiscal. Magri conta que a reforma ocorreu entre abril e setembro de 2014. Na reunião com os engenheiros da OAS para apresentar o resultado da reforma, entraram no apartamento dona Marisa Letícia, o filho dela, Fabio Luís, o engenheiro da OAS Paulo Gordilho e o então presidente da construtora, Léo Pinheiro.

Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo no ano passado, dois funcionários do Solaris afirmaram que viram Lula e a ex-primeira-dama Marisa Letícia visitando a reforma do triplex 164A. A investigação do MP de São Paulo é independente da Lava Jato.

A visita já foi admitida pelo Instituto Lula, em nota em que confirma que o ex-presidente esteve na unidade 164-A, um triplex de 215 m2, em uma "única ocasião", em 2014, acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e de José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, sócio da OAS.

Lula aparece ao lado de Roberto Moreira, diretor de incorporação da OAS, e Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS (Foto: TV Globo/Reprodução)Lula aparece ao lado de Roberto Moreira, diretor de incorporação da OAS, e Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS (Foto: TV Globo/Reprodução)

O Jornal Nacional teve acesso a fotos que mostram, pela primeira vez, Lula fazendo pessoalmente essa vistoria no apartamento. Pela porta entreaberta, em uma das imagens, é possível ver o encontro do ex-presidente Lula com o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, que aparece de costas. Em outra foto, além de Leo Pinheiro, logo atrás de Lula, também aparece o diretor de incorporação da OAS, Roberto Moreira. Quando a imagem é aproximada é possível ver o número do apartamento vizinho – o 163.

Além da reforma completa no apartamento 164-A, realizada pela Tallento, a OAS está sendo investigada pela compra de uma cozinha planejada, no valor de R$ 78,8 mil e instalada no apartamento do Guarujá.

Prédio onde mora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo (SP) é alvo de operação da Polícia Federal na 24ª fase da Lava Jato (Foto: Reprodução/GloboNews)Prédio onde mora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo (SP) é alvo de operação da Polícia Federal na 24ª fase da Lava Jato (Foto: Reprodução/GloboNews)

"Aletheia”
A ação foi batizada de “Aletheia” e é uma referência a uma expressão grega que significa “busca da verdade”. O ex-presidente é alvo de um dos mandados de condução coercitiva e será obrigado a prestar esclarecimentos, segundo a Polícia Federal. O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, também é alvo de outro mandado de condução. A PF ainda está decidindo onde os investigados serão ouvidos.

Ao todo, foram expedidos 44 mandados judiciais, sendo 33 de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva - quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento. Duzentos policiais federais e 30 auditores da Receita Federal.

Conforme a PF, a ação foi deflagrada para aprofundar a investigação de possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro oriundo de desvios da Petrobras, praticados por meio de pagamentos dissimulados feitos por José Carlos Bumlai e pelas construtoras OAS e Odebrecht ao Lula e pessoas associadas.

Há evidências de que o ex-presidente recebeu valores oriundos do esquema Petrobras por meio da destinação e reforma de um apartamento triplex e de um sítio em Atibaia, da entrega de móveis de luxo nos dois imóveis e da armazenagem de bens por transportadora. Também são apurados pagamentos ao ex-Presidente, feitos por empresas investigadas na Lava Jato, a título de supostas doações e palestras.

No dia 29 de fevereiro, o procurador da República Deltan Dallagnol enviou uma manifestação à ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendendo que uma investigação em curso sobre propriedades atribuídas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja mantida dentro da Operação Lava Jato, a cargo do Ministério Público Federal no Paraná.

Coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, Dallagnol destacou que possíveis vantagens supostamente recebidas por Lula de empreiteiras teriam sido repassadas durante o mandato presidencial do petista.

O ofício é uma resposta a um pedido feito no dia 26 de fevereiro pelo petista para suspender a investigação sobre reformas num apartamento no Guarujá (SP) e num sítio em Atibaia (SP), que teriam sido feitas em favor da família do petista por construtoras investigadas no escândalo da Petrobras.

Outro argumento para manter as investigações sobre Lula na Lava Jato é o envolvimento do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente; bem como de executivos da Odebrecht e da OAS, “todos investigados e muitos dos quais já denunciados no esquema de corrupção que assolou a Petrobras”, conforme Dallagnol. Bumlai foi preso na 21ª fase da operação e está detido no Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Grande Curitiba.

 

23ª fase
A 23ª fase, batizada de Acarajé, foi deflagrada no dia 22 de fevereiro e prendeu o marqueteiro do Partido dos Trabalhadores (PT) João Santana, além de mulher dele Monica Moura. Os dois são suspeitos de receber US$ 7,5 milhões em conta secreta no exterior.

Ele é publicitário e foi marqueteiro das campanhas da presidente Dilma Rousseff (PT) e da campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006.

Acarajé era o nome usado pelos suspeitos para se referirem ao dinheiro irregular. A PF suspeita que os recursos tenham origem no esquema de corrupção na Petrobras investigado na Operação Lava Jato. Uma das principais linhas de investigação são os repasses feitos pela Odebrecht ao marqueteiro.