Viver Bem

Por Ágata Luz, g1 Santos


Alessandro da Silva Batista praticava esportes, mas sofreu acidente e está em coma vígil — Foto: Reprodução/Redes sociais

Um jovem de 23 anos passou de uma rotina agitada, repleta de esportes, para um estado vegetativo após sofrer um acidente de moto em São Vicente, no litoral de São Paulo. A família de Alessandro da Silva Batista de Souza criou uma campanha por mais recursos em prol da recuperação dele, que está em coma vígil, ou seja, abre os olhos e respira sozinho, mas não tem consciência.

De acordo com a esposa, Alessandro estava a caminho de um hospital de Santos, onde trabalha como ajudante de transportes, quando sofreu o acidente em janeiro de 2024 e teve que ficar mais de dois meses internado.

“Fiquei sem acreditar e me perguntando o porquê com ele, pois é um tipo de pessoa que todos conhecem e falam bem”, explicou a auxiliar de enfermagem Tamyres Kelly das Virgens Batista, de 22 anos.

Alessandro praticava diversos esportes — Foto: Reprodução/Redes sociais

Desde então, a jovem se reveza com a sogra nos cuidados com Alessandro, pois ele depende da família para se locomover com a cadeira de rodas e se alimentar por meio de sonda. O paciente está em coma vígil devido à lesão axonal difusa (LAD) que teve em decorrência ao traumatismo cranioencefálico.

Ao g1, o neurocirurgião André Luís Domingues Costa explicou que a LAD é uma condição cerebral que ocorre quando há uma extensão generalizada de danos aos axônios, que são fibras nervosas responsáveis por transmitir impulsos elétricos entre as células nervosas.

“Diferente de lesões focais, que afetam áreas específicas do cérebro, a LAD envolve múltiplas regiões cerebrais de maneira difusa e pode levar a uma disfunção neurológica ampla”, explicou o especialista.

Alessandro praticava diversos esportes antes de sofrer acidente em São Vicente — Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com Tamyres, os médicos dele dizem que não há uma data estimada para Alessandro despertar. “Mas nós, familiares, temos fé que em breve vai acontecer”, relatou a auxiliar de enfermagem, dizendo que antes do acidente, ele tinha uma rotina agitada.

Além do trabalho, fazia faculdade de Tecnologia da Informação, ia para a academia e praticava surfe, muay thai e corrida. "Qualquer tempinho livre que ele tivesse no trabalho, ele estudava ou praticava algum esporte para não ficar parado".

Cuidados necessários

Atualmente, Alessandro faz tratamento semanal com fisioterapia e fonoaudióloga, além de receber visitas médicas para acompanhamento. A família acredita que, quanto mais estímulo, mais rápido ele pode se recuperar. Por isso, criou uma campanha intitulada “Juntos pelo Alessandro” para arrecadar recursos.

"Ele tem plano de saúde pela empresa, mas infelizmente não cobre o home care que a gente está tentando," afirmou a esposa, dizendo que ele também precisará de tratamento para escaras [lesões causadas por pressão contínua em uma determinada região do corpo].

Entre as ações da campanha estão vaquinha virtual, diversas rifas e até eventos esportivos, pois Alessandro foi tema de uma corrida solidária realizada por uma equipe de esportes em São Vicente.

Condição complexa e desafiadora

Alessandro foi tema de corrida solidária em São Vicente — Foto: Reprodução/Redes sociais

O neurocirurgião avalia a lesão axonal difusa como uma condição complexa e desafiadora. "Mas com um tratamento adequado e suporte familiar, é possível melhorar a qualidade de vida do paciente e auxiliar em sua recuperação”, afirmou.

De acordo com ele, as sequelas dependem do grau da lesão, localização, intensidade e tempo. Por isso, o especialista acredita que Alessandro pode recuperar algumas funções, como andar e falar, mas com alguma deficiência associada. "Por isso, ele necessita de acompanhamento de fonologia, fisioterapia e fisiatria".

Família de Alessandro faz campanha para arrecadar recursos para o tratamento dele — Foto: Arquivo Pessoal

LAD

O neurologista explicou que a lesão axonal difusa (LAD) tem diversas causas. A mais comum é o trauma cranioencefálico, que normalmente ocorre em acidentes automobilísticos, quedas ou lesões esportivas. "O movimento brusco da cabeça durante um impacto pode provocar a ruptura dos axônios," afirmou André Luís.

Além disso, segundo os médicos, algumas formas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), especialmente os hemorrágicos, podem resultar em LAD devido à pressão e ao edema cerebral.

O neurologista explicou que agitação e infecções ou inflamações no cérebro também podem contribuir para a lesão axonal difusa.

O tratamento deve ser multidisciplinar e incluir:

  1. Cuidados imediatos: a estabilização do paciente após a lesão é crucial, com monitoramento da pressão intracraniana e controle dos sintomas agudos;
  2. Medicação: pode incluir medicamentos para controle da dor e do inchaço cerebral, além de outros remédios para prevenção e tratamento de complicações secundárias;
  3. Reabilitação neurológica: programas de reabilitação, incluindo fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia, são essenciais para ajudar o paciente a recuperar habilidades motoras e cognitivas afetadas;
  4. Suporte psicológico: avaliações e apoio psicológico são essenciais para lidar com as possíveis alterações emocionais e cognitivas resultantes da lesão.

André informou que a família de um paciente com LAD precisa se familiarizar com a condição dele para oferecer apoio emocional, adaptar a casa para tornar o ambiente seguro e acessível, participar do tratamento incentivando o paciente a seguir recomendações médicas e terapêuticas e estar atenta às consultas e exames necessários.

Tamyres está com Alessandro há mais de três anos e ajuda nos cuidados com ele após acidente — Foto: Reprodução e Arquivo Pessoal

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