Ravi Andrade Zaparoli, de sete meses, morreu com dengue em Pitangueiras, SP — Foto: Arquivo pessoal
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) que confirmou a morte de Ravi Andrade Zaparoli em decorrência da dengue trouxe ainda mais dor para o pai do bebê de 7 meses, o supervisor Paulo César dos Santos.
Há quase dois meses ele afirma que o filho morreu por conta de negligência médica e ter a certeza disso, foi como um baque.
Em entrevista ao g1 na sexta-feira (5), um dia após receber o laudo em mãos, Paulo disse que, ao mesmo tempo que sentiu alívio por saber que não estava errado, ficou angustiado por entender que algo poderia ter sido feito para salvar a vida do bebê.
"Recebi esse laudo em mãos ontem [quinta-feira] e me senti muito mal. Meu sentimento foi de negligência, de falha. Pra mim, houve essa falha médica mesmo, que tirou a vida do meu filho. Choramos muito ontem após esse laudo, em saber que poderia ter salvo o meu filho e hoje meu filho poderia estar aqui comigo".
Ravi morreu no dia 26 de maio, após pelo menos quatro tentativas frustradas dos pais, que moram em Pitangueiras (SP), em fazer com que o menino tivesse atendimento médico adequado.
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A primeira tentativa, diz Paulo, aconteceu quadro dias antes, quando Ravi foi levado à Santa Casa da cidade com suspeita de dengue, já que estava com sintomas de febre e manchas pelo corpo.
Apesar disso, ainda segundo Paulo, os médicos receitaram um medicamento à base de corticoide. Segundo especialistas, remédios desse tipo podem aumentar o risco hemorrágico e agravar a situação de pacientes com dengue.
No laudo emitido na quinta-feira (4), o IML citou três pontos em que há a possibilidade de ter havido erros dos profissionais que atenderam o bebê:
- Prescrição de dosagem de dipirona indicada para pessoas com mais de 15 anos;
- Prescrição de dramin, que é indicado para pessoas a partir dos 6 anos;
- Prescrição de bromoprida, contraindicado para menores de 1 ano.
A família informou que vai entrar com uma ação na Justiça contra a Santa Casa. Procurados, hospital e prefeitura informaram que ainda não tiveram acesso ao laudo e, por isso, não se manifestaram.
Pais de Ravi, bebê de 7 meses que morreu com dengue em Pitangueiras, SP — Foto: Reprodução/EPTV
Saudável e feliz
A indignação de Paulo se dá muito por conta de que o bebê era saudável e não tinha problemas de saúde.
"Eu precisava saber realmente o que estava acontecendo. Meu filho tinha uma doença da qual a gente não tinha conhecimento? Não, não foi nada disso. Só negligência mesmo. Desde o primeiro dia que ele foi lá [no hospital], o CID dele já foi o A90, foi suspeita de dengue. Ele já estava com dengue desde os primeiros dias. Porque não internou meu filho? Esta incógnita ficou na minha mente, eu precisava de uma resposta. Porque meu filho não está aqui comigo hoje? É essa pergunta que eu me fazia todo dia até ontem [quinta-feira]".
Paulo tem duas filhas fruto de outro relacionamento e Tatiane, mulher dele, outras duas meninas. Ravi era o primeiro filho do casal e também o primeiro menino da casa.
"Ele foi muito esperado pela gente, muito esperado. Era uma criança espetacular. Não é porque é meu filho, mas ele era muito especial, amado aqui por todos, por todos. Era o filho esperado tanto da minha parte quanto da parte dela [da mulher] sim, era o nosso homem. E isso foi tirado da gente".
Paulo também revelou que ele e a mulher tem tido dificuldades para dormir desde a morte do filho e sabe que a família precisa de ajuda psicológica neste momento, mas não teve qualquer suporte por parte da Santa Casa ou da prefeitura.
"Até agora ninguém veio aqui, ninguém bateu na minha porta. Ninguém ligou para falar 'ô pai, ô, mãe, vocês precisam de um suporte psicológico? Vocês têm essa necessidade?'. Claro que temmos essa necessidade, mas só que cadê? Só sabem falar que não sabem de nada, que não tem informação. Como não tem informação se eu tenho essas informações? Eles não têm porque não têm interesse, porque não foram filho deles."
Apesar da dor, Paulo diz que vai lutar até o fim para que o filho tenha justiça.
"Sem gritos, sem ofensa, sem agressão, que não é do meu feitio. Não é isso que eu quero, eu só quero uma ajuda, eu quero que eles me ajudem porque é muito fácil prejudicar a família de alguém. Mataram meu filho e não aceito isso de maneira nenhuma. Não aceito".
Sintomas e medicação contraindicada
Ravi Andrade Zaparoli foi levado à Santa Casa de Pitangueiras no dia 22 de maio, com sintomas de febre e manchas pelo corpo.
Apesar da suspeita de dengue, segundo Paulo e Tatiane, os médicos receitaram um medicamento à base de corticoide, que pode aumentar o risco hemorrágico e agravar o estado de saúde de pacientes com a doença.
No dia 24 de maio, um exame confirmou o diagnóstico de dengue. No dia 26, o bebê foi internado e seria transferido para Ribeirão Preto (SP), onde seria atendido no Hospital das Clínicas, mas ele não resistiu e morreu.
A família ainda aguarda o laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), que deve ser emitido nos próximos dias.