03/12/2015 12h49 - Atualizado em 05/12/2015 18h58

Laranjas recebiam R$ 5 mil em golpe de empréstimos agrícolas no BB

Cinco foram presos suspeitos de desviar R$ 35 milhões de financiamentos.
Ex-gerente usava aliciador para convencer pessoas humildes, diz PF.

Adriano OliveiraDo G1 Ribeirão e Franca

A Polícia Federal (PF) confirmou nesta quinta-feira (3) que a quadrilha suspeita de desviar cerca de R$ 35 milhões do Banco do Brasil (BB), destinados a financiamentos agrícolas, pagava R$ 5 mil aos laranjas para o fechamento dos falsos contratos de empréstimos.

A fraude ocorreu entre julho de 2014 e março desse ano, e estava centralizada em uma agência em Guará (SP), onde o suspeito de liderar o grupo, Rafael Garcia Spirlandeli, atuou como gerente até abril desse ano, quando pediu exoneração do cargo.

Spirlandeli foi preso na terça-feira (1º) junto com o gerente Alexandre Rosato, outros dois homens apontados como agenciadores dos laranjas e um engenheiro ambiental, suspeito de emitir laudos falsos para aprovação dos financiamentos.

Em nota, o Banco do Brasil informou que afastou os funcionários envolvidos assim que constatou indícios de irregularidades e colabora com as autoridades competentes para apuração do caso.

O advogado André Miguel Alberto de Araújo, que defende o gerente, negou as acusações da PF. Em nota, Araújo informou que o cliente está colaborando com a apuração e "provará sua inocência no decorrer da instrução processual".

Segundo o delegado Flávio Vieitez Reis, que chefia a investigação do caso, Spirlandeli, os supostos agenciadores e o engenheiro ambiental ainda não possuem advogados constituídos.

O delegado da PF Flávio Vieitez Reis diz que esquema desviou R$ 35 milhões de financiamentos agrícolas (Foto: Paulo Souza/EPTV)O delegado da PF Flávio Vieitez Reis diz que esquema desviou R$ 35 milhões de financiamentos agrícolas (Foto: Paulo Souza/EPTV)

O esquema
Segundo a PF, ao menos 30 pessoas foram usadas como laranjas e devem responder pelo crime de falsidade ideológica. Sete já prestaram depoimento e outros 15 foram identificados. O delegado Flávio Vieitz Reis afirmou que familiares dos suspeitos também participaram do esquema.

“Esse pessoal vai ser chamado para depor também. Os laranjas que já foram ouvidos confirmaram que recebiam ou receberiam R$ 5 mil para emprestar o nome. Eles não sabiam exatamente o que seria feito com os dados pessoais deles”, disse.

Reis explicou que dois homens conseguiam nomes de laranjas e usavam os dados deles para abrir contas no BB em Guará. Em seguida, o engenheiro ambiental emitia laudos falsos e, com a aprovação de Spirlandeli e Rosato, os financiamentos agrícolas eram aprovados.

Ex-gerente do Banco do Brasil foi preso durante operação da Polícia Federal nesta terça-feira (1º) (Foto: Paulo Souza/EPTV)Ex-gerente do BB Rafael Spirlandeli foi preso pela Polícia Federal na terça-feira (1º) (Foto: Paulo Souza/EPTV)

Os empréstimos, segundo o delegado, eram de valores em torno de R$ 500 mil. O dinheiro desaparecia após ser depositado e, como as contas eram abertas com documentos falsos, o banco não conseguia cobrar a dívida.

“Geralmente, eles aliciavam pessoas muito simples, pessoas de baixíssima instrução. Eles só ofereciam o dinheiro, nada mais, porque eram pessoas muito simples e que se vendiam pela quantia oferecida”, afirmou Reis.

O procurador do Ministério Público Federal (MPF) Wesley Miranda contou que a quadrilha aliciou, por exemplo, uma moradora de Guará, que recebia Bolsa Família e não possuía propriedade rural ou mesmo casa própria.

“Ela nunca tinha plantado sequer um pé de alface e, mesmo assim, o engenheiro apresentou o laudo atestando que o dinheiro seria aplicado em atividade agrícola, e ela abriu a conta como produtora rural. Isso tudo com a conivência, sem dúvida alguma, dos gerentes”, afirmou.

O procurador do MPF Wesley Miranda diz que Spirlandeli era 'mentor intelectual' do esquema (Foto: Paulo Souza/EPTV)Procurador Wesley Miranda diz que Spirlandeli era 'mentor intelectual' do esquema (Foto: Paulo Souza/EPTV)

Desdobramento
Miranda afirmou que Spirlandeli pediu exoneração do BB em 22 de abril desse ano, assim que uma auditoria interna foi instaurada pelo banco para investigar os financiamentos agrícolas que estavam sendo concedidos na agência administrada por ele.

“Isso foi um indicativo forte de que ele era realmente o ‘cabeça’, o mentor intelectual de tudo. A participação do Alexandre ainda não está perfeitamente caracterizada, mas o Rafael, sem sombra de dúvidas alguma, era o mentor intelectual do esquema”, disse.

O delegado da PF explicou ainda que, antes de assumir a gerência da unidade do BB em Guará, Spirlandeli atuou como gerente em uma agência em Morro Agudo (SP). Por isso, um novo inquérito será instaurado para investigar a suspeita de que o mesmo golpe tenha sido aplicado nessa cidade.

“A gente não sabe como foi feito e qual o grau de movimentação financeira, mas existe a suspeita de que ele agiu em Morro Agudo também. O Banco do Brasil está colaborando com todas as informações necessárias e há uma apuração interna deles em andamento”, disse.

Prisão
Spirlandeli, Rosato, o engenheiro ambiental e um supostos aliciadores de laranjas estão presos temporariamente por cinco dias na superintendência da PF em São Paulo (SP). Outro suspeito foi preso em flagrante com 38 notas falsas e permanece no Centro de Detenção Provisória de Franca.

O grupo responderá por gestão fraudulenta, uso indevido de dinheiro público, integração de organização criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro. Reis afirmou que pedirá a conversão da prisão temporária dos suspeitos em preventiva nos próximos dias, para que permaneçam detidos até o julgamento do caso.

Contratos falsos eram firmados em agência do Banco do Brasil em Guará (Foto: Cláudio Oliveira/EPTV)Contratos falsos eram firmados em agência do Banco do Brasil em Guará (Foto: Cláudio Oliveira/EPTV)
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