Por Stephanie Fonseca, G1 Presidente Prudente


Onça-pintada foi registrada por vigilantes do Parque Estadual do Morro do Diabo

Onça-pintada foi registrada por vigilantes do Parque Estadual do Morro do Diabo

Majestosa, a onça-pintada (Panthera onca) é um dos animais silvestres que enriquecem o Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP), e às vezes “dá o ar da graça”.

Nesta semana, ela se mostrou excelente nadadora no Rio Paranapanema, curso d’água que margeia o parque e faz a divisa entre os estados de São Paulo e do Paraná.

A espécie, ameaçada de extinção, é considerada o maior felino do continente americano e o terceiro maior do mundo, atrás apenas do tigre e do leão.

O flagrante foi registrado por um dos vigilantes patrimoniais do local, o Rodrigo Alves dos Santos (veja o vídeo acima).

Ao G1, ele contou que o avistamento da onça-pintada pela equipe da patrulha aquática foi na manhã da última segunda-feira (8). Com ele, na embarcação, estava o companheiro de trabalho, Rodrigo Coelho.

Onça-pintada foi registrada enquanto nadava no Rio Paranapanema — Foto: Rodrigo Alves dos Santos

“Só foi possível avistar o animal porque sempre levo comigo um binóculo e uma câmera nas rondas de fiscalização. Ao perceber uma movimentação na água, consegui avistar, com a ajuda do binóculo, o animal atravessando o Rio Paranapanema até as matas da unidade de conservação”, lembrou ao G1 o vigilante.

Quando os patrulheiros confirmaram que se tratava de uma onça-pintada, se posicionaram a uma distância segura, que não causasse estresse ao animal, e acompanharam a travessia do rio até a margem, garantindo que nenhuma interferência ocorresse.

Vigilante no Parque Estadual do Morro do Diabo há quase três anos, Santos já teve a “sorte” de, mesmo que de longe, admirar o felino duas vezes e também de fotografá-lo.

“A sensação de contemplar esse animal na natureza é indescritível. Sabendo que momentos assim são raros e que poucas pessoas tiveram a chance de ver esse animal nessas situações, deixa o momento mais especial”, afirmou ao G1.

Santos ainda comentou que se sente “honrado” de trabalhar com essa equipe e ajudar na conservação da onça-pintada e de todos os outros animais que vivem na unidade.

“Queria que todos os leitores pudessem sentir a emoção que tive naquele dia e compartilhar o amor que tenho pelo Parque Estadual do Morro do Diabo”, finalizou.

Onça-pintada foi registrada enquanto nadava no Rio Paranapanema — Foto: Rodrigo Alves dos Santos

‘Topo de cadeia’

O gestor do Parque Estadual do Morro do Diabo, Eriqui Marqueti Inazaki, afirmou ao G1 que devido à boa preservação da área é possível encontrar esses grandes mamíferos do topo da cadeia alimentar, entre eles as onças-pintadas e onças-pardas, além de outras espécies como a anta, o cateto e a maior população de mico-leão-preto livre na natureza.

“Esses avistamentos são muitos raros e importantes”, salientou Inazaki, ao indicar como o exemplar visto nesta semana se apresenta “forte e saudável”.

Por enquanto, a estimativa do tamanho populacional das onças-pintadas no Morro do Diabo é entre 15 a 20 indivíduos, que ocupam a área do parque e de fragmentos no entorno. A população é considerada pequena para uma espécie que é "extremamente ameaçada de extinção".

As visualizações dos felinos são raras devido aos hábitos noturnos, mas pegadas sempre são vistas pelo parque.

O gestor acrescentou ao G1 que o avistamento foi bem cedo, por volta das 6h.

“Foi tomado o cuidado de distanciamento para não estressar o animal. A aproximação se deu somente para captar as imagens e [os vigilantes] escoltaram ela até as margens do parque, para que chegasse em segurança”, contou.

Contando sobre a sorte da dupla de Rodrigos, o gestor também declarou que “é uma emoção muito grande”.

“Tem vários pesquisadores e fotógrafos que sonham em ter uma visão dessas”, comparou.

Onça-pintada foi registrada enquanto nadava no Rio Paranapanema — Foto: Rodrigo Alves dos Santos

O felino, excelente caçador e nadador, estava no Rio Paranapanema, que margeia a Unidade de Conservação por cerca de 40 quilômetros, conforme Inazaki. “[É] uma área muito importante tanto para avifauna aquática como para todo os demais animais”, disse.

“Eu acredito que ele estava em busca de alimentos; o rio proporciona muito alimento para elas, tem vários bandos de capivaras em algumas ilhas formadas ao longo do rio", explicou.

Onça-pintada foi registrada enquanto nadava no Rio Paranapanema — Foto: Rodrigo Alves dos Santos

Onça-pintada

A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino do continente americano. Tem até 1,90 metro de comprimento e 80 centímetros de altura. Os machos pesam cerca de 20% a mais do que as fêmeas, podendo chegar a 135 quilos.

A onça-pintada pode viver em vários tipos de habitat, desde que uma parte da vegetação seja densa. É um animal solitário e territorial. Tem hábitos noturnos. Pode ocupar áreas de 22 km² a mais de 150 km² (dependendo da disponibilidade de presas). A espécie era encontrada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Mas está oficialmente extinta nos Estados Unidos e já é uma raridade no México.

Suas presas consistem de animais silvestres como catetos, capivaras, peixes, queixadas, jacarés, veados, tatus.

Na onça-pintada, ocorre também o fenômeno do melanismo, comum em outros felinos. A coloração amarela é substituída por uma pelagem preta. Dependendo da luz em que o animal se encontra, percebem-se as rosetas. O animal na forma melânica é chamado de onça-preta.

As populações vêm diminuindo devido ao confronto com atividades humanas, como a pecuária. A espécie é classificada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como vulnerável e está no Apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (Cites).

Ou seja, o risco de extinção está associado ao comércio e sua comercialização só é permitida em casos excepcionais, mediante autorização expressa.

Onça-pintada foi registrada enquanto nadava no Rio Paranapanema — Foto: Rodrigo Alves dos Santos

Unidade de Conservação

O Parque Estadual do Morro do Diabo está localizado no Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do Estado de São Paulo.

Existem lendas que tentam explicar a razão de seu nome. Uma lenda diz que índios revoltados com bandeirantes que teriam dizimado sua aldeia os mataram em uma emboscada. Aqueles que fugiram da carnificina diziam que o diabo estava no morro.

Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio — Foto: Fundação Florestal

Contudo, existe uma proposta para mudar o nome do parque estadual entre as medidas do Programa Pontal 2030. A sugestão é para que o recinto receba o nome de Onça-Pintada, devido à ocorrência da espécie na região.

A ideia ainda está em debate pelas áreas técnicas do governo do Estado de São Paulo e demais órgãos correlatos. Desta forma, não há ainda uma data para oficializar esta alteração, de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo.

O parque preserva a maior área contínua remanescente da floresta que recobria a porção ocidental do estado. Essa vegetação corresponde à floresta tropical estacional semidecidual, do domínio da Mata Atlântica.

A flora local apresenta algumas peculiaridades: uma mancha de cerrado imersa na floresta e a presença de populações de duas espécies de cactáceas: mandacaru e xique-xique, que dão à vegetação um aspecto de caatinga.

A fauna conta com o raro mico-leão-preto, uma espécie endêmica da Mata Atlântica, símbolo do parque e um dos primatas mais ameaçados do mundo. Mais duas espécies de primatas também ocorrem na área, sendo elas o bugio e o macaco-prego.

Onça-pintada foi registrada enquanto nadava no Rio Paranapanema — Foto: Rodrigo Alves dos Santos

Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio — Foto: Fundação Florestal

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