Queimadas influenciam na produção pecuária — Foto: Juliana Sussai/Embrapa
As queimadas enfrentadas pelo Brasil há semanas, que atingem principalmente áreas de agropecuária, têm influência indireta na alta de 8,88% da produção de carne bovina no acumulado do mês de setembro registrada na última sexta-feira (20).
É o que aponta Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador da área de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba.
Para Carvalho, a influência indireta está relacionada à alimentação do boi, advinda de algumas culturas atingidas pelas queimadas.
A alta deve ser maior no início do ano, caso a estiagem se prolongue pelos próximos meses.
“A seca vai impactar caso não tenha chuva no começo do ano e, aí, pode haver um encarecimento maior da carne”, diz o pesquisador.
Incêndio em área de vegetação em Piracicaba — Foto: Edijan Del Santo/EPTV
Alta de 8,88%
Na última sexta-feira (20), o valor registrado por arroba de 15 kg pelo Indicador Cepea/B3 foi de R$ 261,05, o que representa uma alta de 8,88% da produção de boi no acumulado de setembro até a data.
Além do acumulado no mês, foram registradas exclusivamente variações diárias positivas a partir do dia 17, ao longo de quatro dias seguidos, que chegaram a ultrapassar 1% em dois dos dias do período.
De acordo com o pesquisador, a alta nos preços pode ser explicada, principalmente, pelo fato de muitos produtores terem optado por não confinarem o gado durante o período de entressafra da pecuária, por conta dos baixos valores para abate.
“Em junho, a média da arroba foi de R$ 220, o pior preço de 2024. Por isso, o produtor não quis confinar, por conta do preço ruim. Isso impacta agora em agosto, setembro”, diz Carvalho.
Praga da lagarta ocasionou problemas para a produção pecuária do Estado — Foto: Ederson Brito/Secom RR
Impacto na alimentação do boi
O pesquisador do Cepea aponta que a influência das queimadas nessa alta é “indireta” e está relacionada à alimentação do gado, à base de ração que reúne elementos como bagaço de cana-de-açúcar, milho e laranja.
“Quando queima a cana, menos bagaço de cana, menos polpa cítrica, que sofreram com as queimadas, pensando na nossa região. Até mesmo alguma outra plantação de milho que é usado para a silagem, para a ração do boi. Então, eu tenho um problema nesse sentido”, diz.
“O impacto não vem necessariamente da falta de pastagem, que já é tradicional no Brasil nesse período, mas, sim, do impacto em outras culturas que servem de alimentação para o boi”, aponta Thiago.
Incêndio às margens de rodovia, em Piracicaba — Foto: Polícia Militar
Início de 2025
O pesquisador aponta que, se não houver uma mudança no cenário atual de estiagem severa, haverá alta maior no preço da carne.
“Se não vier chuva em outubro, quando normalmente começa a chover, aí eu posso ter um problema no começo do ano. Se chover pouco, eu não tenho pasto. Então, a seca vai impactar caso eu não tenha chuva no começo do ano e aí eu posso ter um encarecimento maior do produto carne”, completa o pesquisador.
Mais queimadas em áreas de agropecuária
Dados do MapBiomas mostram o alto índice de queimadas em áreas de agropecuária de duas importantes cidades da área de cobertura do g1 Piracicaba e Região, durante os seis primeiros meses do ano.
A área total atingida por incêndios em Limeira (SP) entre os meses de janeiro e agosto de 2024 teve uma alta de 1.593% no comparativo ao mesmo período do ano passado. No município, dos 508 hectares queimados, 482 são de agropecuária, 19 hectares de floresta e 6 hectares de área sem vegetação.
Em Piracicaba (SP), os dados indicam um crescimento de 707% nos casos de queimadas nos oito primeiros meses de 2024, quando comparado com o mesmo período de 2023. Dos 508 hectares queimados, 482 são de agropecuária, 19 hectares de floresta e 6 hectares de área sem vegetação.