Ave selvagem mais velha do mundo bota ovo aos 74 anos de idade
A palavra "wisdom" significa sabedoria em inglês, e talvez essa qualidade seja o que define a albatroz-de-laysan Wisdom. Aos 74 anos, a ave selvagem mais velha do mundo surpreendeu biólogos ao retornar ao seu sítio de reprodução e botar um novo ovo, quatro anos após sua última reprodução.
Jonathan Plissner, biólogo do Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Atol Midway, chamou o primeiro ovo de Wisdom de "uma alegria especial" e destacou que sua atividade recente indica que ela ainda possui energia e instintos para criar outro filhote.
Na semana passada, a rainha das aves marinhas foi vista novamente no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Atol Midway, no noroeste do arquipélago havaiano, interagindo com um macho da espécie.
De acordo os pesquisadores da reserva, por décadas Wisdom retornava ao local de reprodução com o mesmo parceiro, o albatroz Akeakamai. No entanto, nle ão foi visto por vários anos, fazendo com que Wisdom começasse danças de acasalamento com outros machos.
Wisdom e seu novo parceiro chegaram ao atol Midway na semana passada — Foto: Dan Rapp
Fábio Olmos, biólogo e observador de aves, é uma das poucas pessoas que teve o privilégio de conhecer o atol pessoalmente. “Eu tive a chance de visitar Midway no início dos anos 2000 e é um privilégio, porque você tem uma ilha literalmente coberta por albatrozes, boa parte dos quais é dessa espécie da Winston”, diz.
Ele conta que acompanha a história dela há anos e, devido ao monitoramento que já dura décadas, foi possível acompanhar o desenvolvimento e o sucesso reprodutivo dos albatrozes da região. “A Wisdom é um tanto superstar no ramo do pessoal que trabalha com aves marinhas, especialmente aves pelágicas”.
Estima-se que Wisdom tenha produzido de 50 a 60 ovos e até 30 filhotes que emplumaram durante sua vida. Os biólogos a identificaram e anilharam pela primeira vez em 1956, depois que ela pôs um ovo.
Longevidade
Para o especialista, o novo ovo filhote mostra que, entre os indivíduos da espécie, não há sinais de senescência - ou seja, eles não envelhecem como os seres humanos, cuja fertilidade vai diminuindo com o tempo. E isso ocorre apesar do estilo de vida “puxado” que levam.
“Você pensa um bicho com 74 anos que tá aí, firme e forte, produzindo filhotes e tem um estilo de vida muito radical. Porque embora estejam nidificando em Ilhas no Havaí que são tropicais, eles têm áreas de alimentação muito distantes e fazem viagens de milhares de quilômetros para obter o alimento e trazer de volta para os filhotes”.
A fêmea de albatroz Wisdom é monitorada desde 1956 e voou quase 5 milhões quilômetros ao longo de sua vida — Foto: Naomi Blinick/USFWS Volunteer via AP
“E quando termina a temporada reprodutiva, eles têm uma existência totalmente em mar aberto e viajam milhares e milhares de quilômetros sem pôr os pés no chão, vivendo ali no Pacífico Norte, que é uma área com muitas tempestades”, completa o ornitólogo.
Segundo Olmos, a longevidade não é característica exclusiva dos albatrozes-de-laysan, uma vez que indivíduos de outras espécies de albatroz já foram monitorados por mais de 50 anos.
Um grupo ameaçado
Nas primeiras décadas do século XX, antes da 2ª Guerra Mundial, as espécies de albatrozes de todas as ilhas do Pacífico onde haviam colônias eram exploradas comercialmente.
“Eles matavam os albatrozes, tiravam as penas para fazer produtos, em alguns casos cozinhavam os bichos para tirar óleo, mas o grande negócio era o comércio de penas. E assim mataram milhões e milhões de albatrozes”, explica Fábio Olmos.
Atol de Midway fica no extremo noroeste da cadeia de ilhas do Havaí — Foto: Marco Garcia/Reuters
Quando o número de indivíduos sofreu uma redução drática, o comércio se tornou menos vantajoso e muitas empresas foram à falência. Assim, as populações voltaram a se recuperar lentamente – inclusive as da espécie da Wisdom, que teve um crescimento considerável.
“Ela é considerada ‘quase ameaçada’, mas a maioria das espécies de albatroz está com o status de conservação muito ruim por conta da mortalidade associada à pesca industrial, especialmente a pesca de espinhel e também pela introdução de predadores nas ilhas”.
Esses desafios são apenas uma parte dos obstáculos que Wisdom enfrentou por tantos anos, de onde talvez provém sua sabedoria. “Acho que ela sabe algo que a maioria dos outros os outros albatrozes não sabem, por isso que ela ainda anda por aí”, brinca Olmos.