Por Bianca Garutti*, Marcelo Gaudio*, g1 Campinas e região


Do auge à decadência: conheça a história da cidade conhecida como “Hollywood brasileira”

Do auge à decadência: conheça a história da cidade conhecida como “Hollywood brasileira”

No Dia do Cinema Brasileiro, celebrado nesta quarta-feira (19), o g1 revisita a história de Paulínia (SP), cidade do interior de São Paulo que entre 2007 e 2014 ganhou destaque nacional e internacional pelo Polo Cinematográfico e Festival de Cinema e chegou a ser conhecida como a “Hollywood brasileira”.

Sede de quatro estúdios de filmagens e com o Theatro Municipal para 1,3 mil pessoas, a cidade, vizinha de Campinas (SP) e distante 118 km da capital, viveu seu auge rapidamente.

Entre as produções de destaque filmadas em Paulínia estão:

  • O Palhaço
  • Bruna Surfistinha
  • Chico Xavier
  • Faroeste Caboclo

Pela cidade desfilaram estrelas nacionais e internacionais:

  • Danny Gloover
  • Michael Madsen
  • Jacqueline Bisset
  • Fernanda Montenegro
  • Selton Mello
  • Tony Ramos
  • José de Abreu

O jornalista, crítico de cinema e autor do livro “Paulínia: uma História de Cinema”, João Nunes, conta sobre o que fez o município a se tornar uma das maiores potências brasileiras em produções cinematográficas e a repentina decadência.

Danny Gloover marca presença no Festival de Cinema de Paulínia — Foto: Gustavo Magnusson

Idealização 💭

O polo cinematográfico de Paulínia foi inaugurado em 2007. Apesar de possuir o maior PIB per capita do país, em sua maioria trazido pelas grandes empresas instaladas na cidade, vinculadas à indústria do petróleo, o município buscava uma nova alternativa de renda.

Em entrevista ao g1, o jornalista João Nunes conta que a administração possuía um alto capital para colocar seus planos em prática, e com um perfil notado à época como 'megalomaníaco', resultou no rápido desenvolvimento do polo cinematográfico".

Investimento 💰

Com um investimento de R$ 490 milhões, em sete anos de atividade, o projeto do Polo Cinematográfico de Paulínia participou da filmagem de 45 filmes, além de fazer a cidade sediar o lançamento de grandes produções, como “Tropa de Elite 2”.

Para que os longas-metragens recebessem o aporte da prefeitura, era necessário que ao menos 40% das cenas fossem rodadas em Paulínia, fazendo com que parte do dinheiro investido nas produções retornasse à cidade.

“Mudou completamente a maneira de fazer cinema no Brasil a partir de Paulínia porque, basicamente, o cinema brasileiro vivia do aporte Federal, né? Da Lei Rouanet, você conseguia ganhar um investimento e recebia de uma empresa e aqui era uma Prefeitura que dava o aporte", explica Nunes.

"Então todo produtor sonhava em rodar um filme aqui porque tinha um dinheiro vivo para filmar”.

6° edição do Festival Paulínia de Cinema em 2014 — Foto: Reprodução/Eptv

Festival Paulínia de Cinema 📽

Apesar de ser inaugurado um ano após o polo cinematográfico, em 2008, de acordo com João Nunes, a ideia inicial para inserir Paulínia no ramo do cinema era a criação de um festival na cidade.

Inspirado por grandes empreendimentos do gênero mundo afora, o Festival Paulínia de Cinema teve êxito em cumprir a ambição que prometia.

Crítico Rubens Edwald Filho durante o Paulínia Festival de Cinema 2011 — Foto: Daniel Nascimento/ Divulgação

Sua estrutura esbanjava luxo e requinte, caracterizada por um longo tapete vermelho e arquibancadas para que o público pudesse prestigiar atores, diretores e produtores que por ali passavam.

O evento foi o principal responsável por atribuir o apelido “Hollywood brasileira” à cidade, já que servia de vitrine para as produções realizadas na região, e atraia inclusive estrelas estrangeiras, como Danny Gloover, astro do sucesso "Máquina Mortífera", e Jacqueline Bisset, de "A Noite Americana".

Edição 2011 do Paulínia Festival de Cinema — Foto: Mario Miranda/ Divulgação

O prestígio do evento cativou nomes como Danny Gloover, Michael Madsen, Jacqueline Bisset, Fernanda Montenegro, Selton Mello, Tony Ramos e José de Abreu, artistas que estiveram presentes em algumas das seis edições de festival.

“Se tornou uma coisa parecida com Hollywood, a partir do sexto festival, que foi o último, eles abriram para produções internacionais, trouxeram atores americanos. Virou um grande negócio para Paulínia e para a região, já que todas foram atendidas, né? Locações, coisas assim, estava tudo aqui”, lembra Nunes.

O escritor destaca que a relação de Paulínia com o cinema aproximou os moradores com a cultura. Nunes se recorda da proximidade estabelecida entre o público e os atores, que eram facilmente vistos já que, muitas vezes, as gravações externas ocorriam em lugares populares das cidades da região.

Fotos de produções feitas em Paulínia em exposição no saguão da prefeitura de Paulínia. — Foto: Marcelo Gaudio\g1

Decadência e briga política 🚨

Apesar de sucesso entre o público e os artistas, o Festival Paulínia de Cinema e o Polo Cinematográfico enfrentaram problemas com a instabilidade política da cidade, que de abril a dezembro de 2014 registrou seis trocas de prefeitos.

Com as inúmeras trocas de governo, em 2012 o festival chegou a ser cancelado com a alegação de queda de arrecadação municipal. Retornou em 2013, mas acabou encerrado permanentemente em 2014.

Fachada do Theatro Municipal de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio/g1

Falta de manutenção

Passados 10 anos do fim das atividades, o g1 visitou, nesta terça-feira (18), o espaço onde estrelas nacionais e internacionais desfilaram, como o Polo Cinematográfico e o Theatro Municipal.

Enquanto o prédio da Prefeitura, ao lado dos edifícios do complexo, guarda resquícios do passado cinematográfico, com estátuas que remetem a grandes produções do cinema e exposição de fotos dos filmes locais no saguão, o próprio Polo encontra-se paralisado.

Theatro Municipal de Paulínia sem manutenção em 2018 — Foto: Reprodução/Eptv

Com o fim das atividades e o fomento do governo municipal, os estúdios do Polo Cinematográfico de Paulínia passaram a atender em um formato de parceria público-privado, por meio de uma empresa terceirizada responsável pela gestão do espaço.

Para a utilização dos estúdios, é necessária uma aprovação da prefeitura e um consequente contrato entre as partes interessadas. Não há, no momento, nenhuma produção sendo desenvolvida na localidade.

Imagem Vanderlei Duarte / EPTV Imagem Marcelo Gaudio\g1
Fachada do Theatro Municipal em 2013 e 2024 — Foto 1: Vanderlei Duarte / EPTV — Foto 2: Marcelo Gaudio\g1

Já um dos edifícios mais icônicos desse passado de "Hollywood brasileira", o Theatro Municipal de Paulínia, palco do Festival de Cinema, enfrentou períodos sem manutenção. Em maio de 2024, a estrutura passou pela 2ª Audiência Pública para decidir a concessão do espaço.

Um estudo técnico preliminar, apresentado durante a audiência pública, indicava a necessidade de revitalização, readequação, expansão, manutenção, gestão e exploração com tempo sugerido de 20 anos.

O g1 procurou a Prefeitura de Paulínia para saber se há previsão para a reabertura do local. A administração municipal informou que não há data definida para a contratação de serviços, visto que o processo de licitação encontra-se em fase de elaboração, não sendo possível fornecer uma data.

Na visita desta terça (18), foi possível observar sinais de degradação do tempo. Na parte externa do Theatro, há um vidro da fachada quebrado, bem como pontos de infiltração, ferrugem e desprendimento das telas que ficam próximas ao telhado.

Também pertencente ao complexo cinematográfico, a antiga sede da prefeitura de Paulínia, que na época de funcionamento do Polo Cinematográfico havia sido transformada em uma escola de artes, encontra-se abandonada.

Diante do cenário, a prefeitura informou ainda que, apesar do imbróglio jurídico acerca do Polo e o do Theatro Municipal, ela realiza ações de apoio à produção audiovisual, via leis de incentivo do Governo Federal, como a Aldir Blanc e a Paulo Gustavo, além de promover eventos culturais e manter oficinas de dança e música, que atendem mensalmente de forma gratuita cerca de 1300 alunos de diferentes idades.

Polo Cinematográfico de Paulínia em 2024

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Fachada do Theatro Municipal de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Theatro Municipal de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Theatro Municipal de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Theatro Municipal de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Theatro Municipal de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Estúdios do Polo Cinematográfico de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Fachada onde ficava a escola do Polo Cinematográfico de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Área interna do edifício onde ficava a escola do Polo Cinematográfico de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Área interna de edifício onde ficava a escola do Polo Cinematográfico de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

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Lateral do edifício onde ficava a escola do Polo Cinematográfico de Paulínia em 2024 — Foto: Marcelo Gaudio\g1

*Sob supervisão de Fernando Evans.

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