Por Bianca Garutti*, g1 Campinas e Região


Jéssica e Arya — Foto: Fran Narbony

Para a bancária Jéssica Aparecida Cardoso Sacardo, maternidade é sinônimo de coragem. Com 31 anos, a moradora de Sumaré (SP) enfrentou diversas limitações de locomoção durante a vida por conta de uma fratura que sofreu quando ainda era criança e levou a más formações em sua perna esquerda.

Foi apenas com a descoberta de sua gravidez que ela conquistou a coragem suficiente para realizar a amputação, movida principalmente pelo desejo de ter e proporcionar à sua filha uma maior qualidade de vida.

No Dia da Mães, o g1 conversou com a Jéssica para entender como a maternidade transformou sua forma de encarar sua limitação e qual o impacto que sua deficiência tem durante os cuidados com sua filha.

Caminho até a amputação

Jéssica quando criança com a gaiola na perna — Foto: Arquivo pessoal

Quando tinha apenas 4 anos, Jéssica sofreu uma fratura no fêmur, o maior osso da perna humana, e precisou imobilizá-la. Ao retirar o gesso, foi identificado uma pequena diferença de 2 centímetros no comprimento, o que é comum devido à falta de movimento.

Na tentativa de solucionar o problema, o médico estipulou que Jéssica utilizasse por seis meses um fixador externo de Ilizarov, popularmente conhecido como gaiola.

Contudo, ao invés de ajudá-la, o instrumento impediu que sua perna se desenvolvesse, além de causar deformações. Ao atingir a fase adulta, ela já possuía uma diferença de 24 cm entre uma perna e a outra.

Gravidez 🤰

No final de 2022, a bancária sofreu um acidente doméstico e acabou quebrando dois ossos que compõem o tornozelo, tíbia e fíbula.

A fratura foi complexa e exigia que Jéssica passasse por uma cirurgia. Entretanto, em meio à turbulência, foi descoberto algo que mudaria completamente sua vida: uma gravidez.

Jéssica com o tornozelo fraturado grávida de Arya — Foto: Fran Narbony

A notícia impossibilitou que o procedimento cirúrgico fosse realizado, sendo apenas possível colocar o osso novamente na posição correta e imobilizar o membro com gesso. Pega completamente de surpresa e ainda se recuperando do acidente, ela passou todo o período de gestação com o pé imobilizado.

Algum meses depois, uma nova queda levou Jéssica a quebrar novamente os mesmos ossos ainda fragilizados, situação que contribuiu para a piora de sua deficiência.

A possibilidade de amputação surgiu quando ela percebeu que seu tornozelo havia ficado torto após as lesões, e que por isso, seu tratamento se tornaria mais complicado.

"Eu optei pela amputação por conta da minha filha, porque eu sabia que seria o melhor para a gente. Pela qualidade de vida que eu teria com ela no futuro, para sair de casa, fazer um passeio, sair sozinha com ela, né?! toda mãe tem vontade de carregar o filho no colo, caminhar, e eu não tinha isso com ela antes da amputação.", afirma Jéssica.

Virada de chave 🦿

Foi após cinco meses do nascimento de Arya que Jéssica realizou o procedimento. Com a nova realidade, ela conta que a principal diferença que notou foi a conquista de independência, capaz de permiti-la realizar atividades cotidianas com sua filha, como a retirá-la do berço ou dar banho.

"Meu esposo trabalha, então sempre tinha que estar minha sogra ou minha mãe aqui em casa para me ajudar. Hoje em dia não, tô aqui sozinha com ela agora. Ela acorda, eu coloco a prótese, já consigo pegar ela do berço, então eu ganhei muita independência com ela", comenta.

Preconceito

Desde sua primeira lesão ao 4 anos, o preconceito sempre esteve presente na vida de Jéssica. Apesar de já ter sofrido com olhares de julgamento no passado, a maternidade contribuiu para que ela mudasse sua visão sobre si e suas capacidades.

"Tem muita gente que não tem o conhecimento, não sabe como é a vida de uma pessoa com prótese, com deficiência. Já recebi muitos olhares de julgamento sim, mas eu mudei a forma como eu encaro isso, porque eu sei da minha capacidade com ela, me orgulho da minha história com ela e sei que um dia ela irá reconhecer tudo isso", afirma.

Apoio nas redes sociais 📱

Ao receber a notícia da possibilidade de amputação, Jéssica passou a procurar nas redes sociais por pessoas que estivessem enfrentado situações parecidas com a dela: maternidade e amputação. Mas teve uma grande dificuldade de encontrar.

Usando da situação como incentivo, ela passou a compartilhar sua rotina e os desafios que enfrenta em seu perfil no Instagram , onde já soma mais de 3 milhões de visualizações. Em entrevista ao g1, ela conta que muitas pessoas a procuram para saber como lidou com a situação e principalmente pela curiosidade de como é a vida de uma pessoa amputada.

"Eu acho que quebra uma barra de preconceito quando as pessoas conhecem, né?! Quando elas não conhecem, elas encaram muito, julgam muito, porque elas não sabem como funciona."

" Eu queria que todas as pessoas pudessem ter conhecimento de como é uma prótese, como é a vida de de um amputado, que dá para fazer tudo. Meu intuito com o Instagram é ajudar as pessoas porque eu precisei dessa ajuda."

Arya é capaz de reconhecer sua mãe pelo barulho da muleta — Foto: Fran Narbony

*Sob supervisão de Yasmin Castro e Rodrigo Pereira

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